Moradores de Nova Jersey reclamam da ‘estética’ de painéis solares
Painéis solares instalados em rua na cidade de Fair Lawn, em Nova Jersey. Foto de Juan Arredondo/The New York Times
Nancy e Eric Olsen não sabem dizer exatamente quando ou como tudo aconteceu. Tudo o que eles sabem é que num momento tinham uma visão bucólica de um campo de futebol e bosques a partir de sua casa em estilo colonial de 1920; e no momento seguinte, tudo o que podiam ver eram três painéis solares.
“Eu os odeio”, disse Eric Olsen, 40, sobre a fileira de painéis ligada a postes de eletricidade do outro lado da rua. “É uma coisa muito feia.” Reportagem de Mireya Navarro, The New York Times.
Virando a esquina, mora Tom Trobiano, 61, um vendedor de bebidas que agora está se adaptando ao único painel solar pendurado acima da entrada de sua casa.
“Quando está tão perto assim”, diz ele, “o painel tem uma vida própria”.
Como um imenso projeto do artista plástico Christo, mas sem a publicidade que ele costuma atrair, as instalações têm aparecido por toda Nova Jersey há cerca de um ano, cortesia da maior empresa de eletricidade de Nova Jersey, a Public Service Electric and Gas Co. Diferente de outros projetos de energia solar instalados em telhados ou áreas industriais, a indústria está montando 200 mil painéis individuais em bairros ao longo de toda sua área de serviço, que cobre quase três quartos do estado.
As instalações solares, as primeiras e mais extensas desse tipo no país, fazem parte de um investimento de US$ 515 milhões em projetos solares feitos pela PSE&G por conta de uma ordem do governo estadual para que, até 2021, os fornecedores de energia elétrica tenham 23% de sua energia gerada a partir de fontes renováveis. Se fossem colocados lado a lado, os painéis de 1,5 metro por 75 centímetros cobririam 170 acres.
Nova Jersey só perde para a Califórnia em capacidade solar graças aos incentivos financeiros e o compromisso da política pública com as indústrias de energia renovável, que teve início durante o mandato do ex-governador Jon S. Corzine. Mas o que poderia ser um motivo de orgulho no Estado mais conhecido por ser o líder em lixo tóxico do país, em vez disso causou irritação por conta da estética nos subúrbios.
Alguns moradores consideram os painéis pendurados “feios” e “horrendos” e temem o seu efeito sobre o valor das propriedades.
Embora metade do trabalho já tenha sido feito, os funcionários da companhia encontraram resistência em Bergen County, onde as cidades, vilarejos e bairros estão em vários estágios de rejeição. As autoridades locais obrigaram a interrupção da instalação em muitas cidades, enquanto buscam garantias de que não serão responsáveis caso alguém se machuque e também tentam ganhar tempo para sugerir lugares alternativos – como aterros sanitários, por exemplo – para poupar suas ruas arborizadas.
E aqui em Oradell, pelo menos um painel desapareceu.
Quando e onde os painéis aparecerão em seguida pode ser um mistério, desencadeando reclamações por conta da falta de aviso prévio.
“Eu voltei da corrida e lá estavam eles”, disse Nancy Olsen, 37. “Não está certo. Eles deveriam ter nos avisado.”
Na vizinha Ridgewood, o vice-prefeito Mayor Thomas Riche disse que os moradores telefonaram, enviaram e-mails e o pararam na rua para pedir que ele impeça a instalação intrusiva. Ridgewood, um vilarejo fico de cerca de 24 mil pessoas, fez com que a PSE&G cessasse as instalações depois que poucos painéis haviam sido colocados, com temores de que eles interferissem nas caixas de comunicação de emergência nos postes.
As negociações continuam, disse Riche, acrescentando que está tentando fazer com que os painéis de Ridgewood sejam instalados num estacionamento e nas escolas públicas.
“Uma série de painéis numa área só é melhor do que painéis sozinhos por toda a cidade”, disse ele. “Não somos contra a energia solar, mas há formas mais eficientes do que ter painéis nos postes de eletricidade”.
Funcionários da PSE&G disseram que sua busca pela exposição solarmáxima não poderia deixar de lado as áreas residenciais de um lugar tão povoado como Nova Jersey. Apenas um quarto dos 800 mil postes da companhia são apropriados para a instalação dos painéis que ficam a 4,5 metros de altura, e precisam ser dispostos com a face para o sul.
Especialistas do setor aprovam a abordagem descentralizada de instalação em postes individuais e disseram que ela pode ser tão eficiente e custar o mesmo que as instalações maiores.
“A energia solar é extremamente flexível”, disse Monique Hanis, porta-voz da Associação das Indústrias de Energia Solar, um grupo do setor, com sede em Washington. “A usina já é dona da propriedade, e os painéis podem alimentar as linhas de transmissão diretamente.”
Ralph LaRossa, presidente e diretor-executivo da PSE&G, disse que a companhia também está colocando painéis, que transmitem a energia que geram diretamente para a rede elétrica, em suas áreas industriais e telhados de instalações, e que está alugando telhados planos em prédios grandes, incluindo de várias escolas em Newark.
“Estamos buscando formas de instalar a tecnologia da forma mais barata e mais acessível”, disse ele.
LaRossa concordou que sua companhia poderia ter se comunicado melhor, mas acrescentou que Bergen County se tornou um centro de oposição, ao passo que normalmente a instalação dos painéis é bem recebida.
E nem todos os bairros de Bergen County estão se rebelando. Em Fair Lawn, a prefeita Lisa Swain disse que sua área não interferiu no programa e que ela estava tentando tornar a comunidade sustentável de outras formas, usando sensores de luz nos prédios da prefeitura.
“Vou fazer o que eu puder”, disse ela.
Sean Smith, supervisor de vendas de uma companhia aérea em Fair Lawn, disse que não se importa com os sete painéis de sua rua, especialmente “se eles estão ajudando a combater o efeito estufa”.
“Precisamos pensar nas crianças”, disse ele.
Mas seu vizinho Tony Christofi, de 47 anos, pergunta-se se Fair Lawn, que não protestou, pode estar recebendo mais painéis do que deveria.
“Eu apoio a energia sustentável”, disse ele, “mas será que a economia será repassada aos consumidores?”
Funcionários da OSE&G disseram que a energia solar continua sendo mais cara para ser produzida do que a energia das fontes tradicionais e reconheceu que as contas mensais aumentariam 29 centavos. Cada painel produz 220 watts de energia, o suficiente para iluminar cerca de quatro lâmpadas de 60 watts por cerca de seis semanas. Quando completo, o projeto deve fornecer metade dos 80 megawatts de eletricidade necessários para 6.500 casas.
Embora ele apoie a energia renovável, o governador Chris Christie, disse por meio de um assessor de imprensa que as determinações estaduais que incentivaram a criação do projeto dos painéis solares foram “extremamente agressivas”. Ele já pediu que sejam reavaliadas.
Em Oradell, a população de cerca de 8 mil moradores diz que as novas unidades não valem o esforço, produzindo muito pouca energia em relação ao inconveniente que causam.
O caso do painel que desapareceu foi encaminhado à polícia local.
“A PSE&G desaprova que as pessoas mexam no equipamento”, disse Francis Sullivan, assessor de imprensa da companhia, “mas isso é secundário em relação ao fato de que se trata de uma ideia perigosa”.
Todas as unidades estão conectadas a fios de alta tensão.
Richard Joel Sr., advogado que mora no local, disse que um painel perto de sua casa foi removido, mas esquivou-se ao ser questionado sobre mais detalhes.
“Não vou dizer o que aconteceu”, disse ele.
Tradução: Eloise De Vylder
Reportagem do New York Times, no UOL Notícias.
EcoDebate, 03/05/2011
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