Economia de Baixo Carbono, Verde ou Sustentável? artigo de Newton Figueiredo
[EcoDebate] No Fórum Mundial de Sustentabilidade ocorrido em Manaus, o Workshop intitulado “Descarbonização da Economia”, realizado em 25/03/11, com o objetivo de discutir essa questão sob o ponto de vista da sustentabilidade, no Brasil, teve a participação de mais de 100 pessoas (o Fórum como um todo recebeu mais de 700) que tiveram a oportunidade de ouvir o Professor Paul Younger, Presidente do Comitê Científico Global do Planet Earth Institute e Diretor do Newcastle Institute for Research on Sustainability e o empresário Roberto Klabin, Presidente da SOS Mata Atlântica.
O Workshop teve ainda o patrocínio da Nossa Caixa Desenvolvimento que apresentou suas linhas de financiamento para projetos de sustentabilidade das empresas.
O Professor Paul Younger fez uma exposição conceituada e precisa, apontando o seguinte em relação à origem das emissões e suas conseqüências:
1) Globalmente, as emissões estão totalizando algo como 38 bilhões de toneladas de C02 equivalente por ano;
2) A média mundial individual de emissões é estimada em 5,87 toneladas por pessoa por ano (t/p/a);
3) O Brasil encontra-se abaixo da média mundial com um consumo de 5,4 t/p/a;
4) Os grandes emissores de CO2 são os países da Organização para a Cooperação Econômica (OECD) que emitem, em média, mais do dobro da média mundial, com 13,8 t/p/a;
5) Um dos motivos para essas emissões elevadas é o consumo de energia per capita desses países. A média mundial de demanda de energia é da ordem de 2kW por pessoa (kW/p). Na União Européia esse índice está por volta de 6kW/p e nos EUA de 12kW/p; e
6) Que não há dúvida de que as emissões artificiais de CO2 contribuem para o aquecimento global e que suas consequências socioeconômicas serão sentidas, predominantemente, nos países em desenvolvimento.
Com base nos dados claríssimos apresentados pelo Professor Younger ficou evidente, como primeira conclusão, que a OECD deveria assumir, urgentemente, um papel de coordenação para que haja um efetivo comprometimento de seus membros para traçar um plano para a redução das emissões geradas e a mitigação de seus efeitos, para o bem da humanidade.
O Professor Younger chegou a listar o que pode ser feito pelos grandes países emissores para alcançar uma economia de baixo carbono:
– Substituir combustíveis fósseis (incluindo nuclear) por renováveis;
– Aumentar a eficiência na queima de combustíveis fósseis;
– Aumentar a eficiência no uso das energias, independentemente de sua fonte;
– Incorporar estratégias de mitigação de emissões de CO2.
A segunda conclusão a que os participantes do Workshop chegaram foi a de que existem inúmeras formas dos países da OECD buscarem a redução de suas emissões para combater o aquecimento global.
A terceira conclusão foi a de que um esforço brasileiro nesse sentido teria um efeito positivo de aumento de produtividade e competitividade na indústria, comércio e logística, e de redução em poluição nas cidades, mas teria efeito pequeno perto do esforço que necessita ser feito pelos países da OECD.
O professor Paul Younger chegou a quantificar quanto custaria o esforço, especialmente, pelos países da OECD, para estabilização da quantidade de CO2 em 500 ppm (atualmente estamos em 392 ppm e antes da globalização estávamos em 280 ppm):
· Segundo o Relatório Stern, publicado originalmente em 2006 e revisado em 2008, este custo estaria ao redor de 2% do PIB mundial, o que equivaleria a 1/8 do que os países da OECD gastam com saúde.
Ele mostrou que países como Noruega, Suécia, Dinamarca, Islândia e Alemanha têm dado bons exemplos de que é possível traçar planos e reduzir suas emissões. Com base nos dados e nas evidências, chegou-se a quarta conclusão de que é perfeitamente possível para os países da OECD fazerem um trabalho de redução de suas emissões para combater o aquecimento global. Falta a vontade política de fazê-lo, possivelmente alimentada por capitais socialmente irresponsáveis.
Sobre o Brasil, o Professor Paul Younger registrou o papel claro de liderança do país com sua experiência em bioetanol para o transporte e pela sua grande capacidade hídrica, finalizado sua explanação expondo, em sua visão, que o grande desafio para nosso país estará em encontrar o equilíbrio do desenvolvimento com metas ambientais e a eliminação da pobreza.
Assim, refletindo e complementando essas primeiras conclusões do Workshop sobre descarbonização da economia, é válido destacar que:
1) O Brasil tem que concentrar seus esforços no corte de emissões via desmatamentos;
2) Os planos de redução de emissões brasileiros devem focar em melhoria da qualidade de vida para as populações urbanas, já que muito em breve teremos 80% de nossa população morando em cidades (poluição – ar, solo e água, permeabilidade do solo, controle de enchentes, urbanização sustentável…) e na preservação das nascentes e das matas ciliares;
3) As empresas brasileiras, operando em território nacional, devem concentrar seus esforços no sentido de melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas por suas atividades e buscar melhorar seus processos produtivos visando aumento de competitividade com responsabilidade socioambiental. A quantificação de suas emissões é algo secundário, a menos que esteja ligada a questões de poluição;
4) Nós brasileiros devemos encontrar nosso próprio caminho nos desapegando do jargão midiático importado: termo “Economia de Baixo Carbono” se aplica, perfeitamente, como nos mostrou o Professor Younger, aos países da OECD. A chamada “Economia Verde” tem seus adeptos focando as questões ambientais e deixando de lado o nosso grande problema de marginalização de boa parcela de nossa sociedade.
5) Nós brasileiros precisamos encontrar nosso próprio caminho para formularmos uma política de “Economia Sustentável” que leve à eliminação da miséria e à preservação dos interesses do nosso desenvolvimento com nossos excepcionais patrimônios relativos às seguranças alimentar, de energia e de água.
Em um próximo artigo abordarei as discussões em torno da exposição do Roberto Klabin, intitulada “Brasil, uma potencia ambiental?
Newton Figueiredo é fundador e presidente do Grupo SustentaX, que desenvolve, de forma integrada, o conceito de sustentabilidade ajudando as corporações a terem seus negócios mais competitivos e sustentáveis, identificando para os consumidores produtos e serviços sustentáveis e desenvolvendo projetos de sustentabilidade para empreendimentos imobiliários.
* Colaboração de Janaína S. e Silva para o EcoDebate, 11/04/2011
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