Especialistas aconselham Brasil esperar evolução tecnológica antes de optar por mais usinas nucleares
O Brasil deve aguardar o desenvolvimento de novas tecnologias de construção e funcionamento de usinas nucleares antes de tomar a decisão de incrementar o Programa Nuclear Brasileiro. A opinião é do professor Luiz Pinguelli Rosa, da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
Segundo ele, na próxima década, a partir de 2020, começará a instalação de usinas de terceira e quarta geração, que serão mais seguras, econômicas, produzirão menos rejeitos e terão controle digital.
Em audiência pública no Senado, Pinguelli disse ontem (23) que projetos de terceira geração já estão em andamento em outros países, e o programa brasileiro deveria aguardar. “O Brasil pode esperar”, aconselhou, ao lembrar que o país já domina boa parte da tecnologia nuclear, tem uma usina em construção (Angra 3) e está gerando conhecimento ao construir, em parceria com a Argentina, um reator multifuncional.
Pinguelli foi ao Senado junto com o professor Aquilino Senra Martinez, também da Coppe. Segundo Martinez, o plano plurianual da Empresa de Pesquisa Energéticas (EPE) não prevê uso de energia nova vinda de outras usinas, além das usinas instaladas atualmente ou da Usina Angra 3, que deverá estar pronta em 2020.
Juntos, os dois especialistas sugeriram aos senadores cobrar da empresa estatal Eletronuclear – responsável pelas usinas Angra 1, 2 e 3 – informações sobre o posicionamento dos geradores de emergência que são acionados em caso de falha no fornecimento de energia para o resfriamento dos reatores, problema ocorrido na Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, após o terremoto do dia 11 no Japão, seguido de tsunami.
Pinguelli e Martinez disseram que os senadores devem cobrar da Defesa Civil (nas esferas municipal, estadual e federal) informações sobre o plano de evacuação de Angra dos Reis, no litoral sul fluminense, em caso de acidente nas usinas. Segundo Pinguelli, “os planos de emergência internos às usinas são adequados”, mas o plano de emergência externo, não. “Eu não gostei quando as Forças Armadas saíram do plano porque não tinham equipamento”.
Martinez chamou atenção para a falta de destinação correta dos resíduos de baixa e média atividade radioativa, que não podem ser reaproveitados e que, hoje, são mantidos nas usinas. Segundo ele, esse procedimento está fora do procedimento previsto na legislação (Lei 10.308/2001). “A Cnen [Comissão Nacional de Energia Nuclear] tem condições financeiras e técnicas de executar o que esta Casa mandou? Isso deve ser, de imediato, cobrado”.
Na audiência, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) chamou atenção para o fato de não haver no país uma agência reguladora para a área nuclear.
Na próxima semana, as comissões de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática; e Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle deverão convidar, para uma nova audiência pública sobre o tema, o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva.
Reportagem de Gilberto Costa, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 24/03/2011
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