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Indústria promove agrotóxico como alternativa aos agrotóxicos

Temos divulgado com frequência informações a respeito do crescimento da resistência do mato ao herbicida (agrotóxico “mata-mato”) glifosato — o Roundup, da Monsanto.

Todos sabemos que o crescimento da resistência é resultado direto da superutilização do produto nas lavouras transgênicas Roundup Ready (que, segundo dados da própria indústria, representam 61% de toda as lavouras transgênicas do mundo — isso sem contar com as variedades que acumulam a tolerância a herbicidas com a toxicidade a insetos).

Para quem não se lembra, as plantas transgênicas Roundup Ready, ou simplesmente RR, foram desenvolvidas para tolerar aplicações do herbicida de amplo espectro (mata-tudo) glifosato. Nesses sistemas, aplica-se o agrotóxico “à vontade” sobre a lavoura; o mato morre e a lavoura permanece intacta (embora com taxas altíssimas de resíduos de veneno).

Pois bem, respeitando as leis da natureza, sofrendo sucessivas aplicações de um mesmo veneno, ano após ano, safra após safra, o mato vai também ficando resistente. Para compensar, os agricultores vão aumentando as doses do herbicida. Aumentando… até que o veneno não funciona mais.

É o resultado óbvio e desde o início anunciado por todos os que criticam a tecnologia transgênica. Uma tecnologia de curto prazo, que só fez aumentar o envenenamento dos campos e das pessoas ao longo da última década (não foi a toa que após a difusão das lavouras transgênicas pelo Brasil o País se tornou, em 2008, o campeão mundial no consumo de agrotóxicos).

Mas, como também não deixaria de ser, a mesma indústria que criou e forçou a disseminação da tecnologia RR agora se apressa em apresentar solução para o esperado problema: lavouras tolerantes a novos (e mais tóxicos) produtos!

Divulgamos no Boletim 471 a liberação pela CTNBio da soja tolerante aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas, desenvolvida em parceria pela Basf e pela Embrapa. A “novidade” foi apresentada como uma alternativa para o controle do mato que não é mais controlado no sistema de soja RR porque ganhou resistência ao glifosato.

Seguindo a mesma linha, a Coodetec (cooperativa paranaense) recentemente divulgou ter desenvolvido uma nova soja tolerante aos herbicidas do grupo das sulfonilureias. “Segundo Marco Antônio Rott, gerente de pesquisa de soja da empresa, o objetivo do sistema é dar suporte em relação a plantas daninhas, que estão se tornando resistentes em uma área bastante importante e representativa da região sul do País”, diz a reportagem do Portal Dia de Campo em 14/03.

E a matéria segue: “Segundo o gerente, a utilização da soja STS é prevista para ser feita com o Classic (chlorimuron-ethyl), da Dupont. ‘Na sequência, ele poderá utilizar o Classic nessa soja STS de 40 a 80 gramas. Sendo que, em uma soja não STS, a utilização recomendada seria de 20 gramas por hectare. Então, a grande vantagem desse sistema é a associação do Classic, em doses maiores, associadas com o glifosato, sem causar dano nenhum de fitotoxidade na soja’, diz.”

Agora, a própria Monsanto firmou uma parceria com a Basf para desenvolver lavouras tolerantes ao herbicida Dicamba, produzido pela Basf (para o qual não há, ainda, produtos registrados no Brasil). Segundo o acordo, a Basf fornecerá as novas formulações do dicamba que detém, e a Monsanto fornecerá a tecnologia para a obtenção de soja tolerante ao veneno. Segundo as empresas, o sistema poderá ser introduzido na agricultura dos EUA e do Canadá em meados desta década, a depender das autorizações dos órgãos competentes.

Markus Heldt, presidente da divisão de defesa agrícola da Basf, declarou à imprensa que “a introdução das lavouras tolerantes ao dicamba combinada às formulações melhoradas de dicamba darão aos agricultores as armas que eles precisam para combater as plantas daninhas que comprometem a produtividade nos campos hoje. (…) O sistema bem manejado irá trazer definitivamente a tranquilidade aos produtores”.

Segundo a Monsanto, a tolerância ao dicamba deverá ser associada à tolerância ao glifosato — ou seja, os agricultores poderão usar os dois venenos sobre a mesma lavoura. A empresa está desenvolvendo também variedades de milho, algodão e canola tolerantes ao dicamba.

O drama não para por aí. Ainda em junho de 2009 a americana Dow Agrochemical ganhou autorização da CTNBio para realizar testes de campo no Brasil com uma nova variedade de soja tolerante à aplicação do herbicida 2,4-D (Boletim 444). O produto, aqui comercializado com o nome “Tordon”, é um dos dois componentes do herbicida conhecido como “agente laranja”, fabricado pela Dow e Monsanto, que o exército americano usou para desfolhar as matas do Vietnã durante a guerra em busca das forças locais. Além das milhares de mortes, mais de 500 mil crianças nasceram com sérias malformações em função das dioxinas libe radas pelo produto. Esta semana foi divulgada que a parceria entre as duas americanas gerou um milho transgênico resistente a dois herbicidas, glifosato e glufosinato, chamado de Powercore e já aprovado pela CTNBio.

Está aí, segundo a própria indústria, o resultado da evolução dos transgênicos para aqueles que acreditavam que as futuras ondas dessa tecnologia trariam plantas mais nutritivas, produtivas, resistentes à seca, solos salinos e outras promessas mais.
Informe da Campanha por um Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos, socializada pelo MST. EcoDebate, 22/03/2011

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3 thoughts on “Indústria promove agrotóxico como alternativa aos agrotóxicos

  • Eduardo Araujo

    Prezados senhores
    Faço alguns comentários / reparos ao texto “Industria promove agrotóxico como alternativa a agrotóxico”.
    Em primeiro lugar é necessário esclarecer que a “tolerância” de ervas daninhas a herbicidas tem várias origens e uma delas, mais comum, é a SUB-dosagem do produto (e, não, a super-dosagem como está no artigo). Na tentativa de economizar, muitos agricultores usam doses abaixo das recomendadas para o estágio das invasoras e com isto aceleram o processo de resistência, pois não morrem as ervas mais resistentes, já naturalmente existentes na população.É o processo de “seleção” (sobrevivem os mais aptos).

    A segunda causa de resistência é a já citada existência de plantas menos sensíveis na população e que com o passar dos anos tendem a predominar. Aí sim, exigindo inicialmente doses maiores do produto e, a seguir, substituição do herbicida por outro ou complementação com outro produto, no processo descrito pelo autor.
    Mas esta substituição / complementação é de certa forma rotina nos tratamentos fitossanitários, sendo por isto recomendado pelos técnicos a alternância de produtos e/ou cultivos. Paralelos se encontram inclusive no tratamento de doenças humanas, como por exemplo no caso dos antibióticos. As bactérias, com o tempo, “tornam-se” resistentes a determinados antibióticos e estes têm de ser substituídos. Nada de novo, nada de grave, portanto.
    Finalmente cabe esclarecer que o 2,4 D e o “tordom” são produtos distintos. E,mais, o 2,4D NÃO tem nada a ver com o “agente laranja”. O assim chamado “agente laranja” era um herbicida a base de 2,4,5,T menos purificado e, , dizem, contendo como impureza a dioxina. O 2,4 D é um herbicida legalmente comercializado e registrado no Brasil com várias marcas comerciais.
    atenciosamente
    Eng.Agr. Eduardo Araujo

  • Paulo Euler Teixeira Pires

    Em que pesem os comentários do sr. Eduardo Araujo, a questão permanece. Transgênicos não representam uma resposta ao uso de agrotóxicos; ou seja, não reduzem os níveis de toxidade nos alimentos e no meio ambiente. Interessa pouco para o teor da matéria, saber que o 2,4D e o tordom são produtos distintos, e que a dioxina presente “dizem” que era a impureza do agente laranja e responsável pelos efeitos catastróficos. Talvez a transgenia ainda possa ter aplicações na produção de alimentos promovendo o enriquecimento com vitaminas ou algo parecido. As multinacionais produtoras dos agrotóxicos cumprem a sua missão ao oferecer seis em troca de meia dúzia, mas creio que uma estatal como a Embrapa tem outros compromissos éticos com a população e com o meio ambiente. A mão esquerda tem que saber e concordar com o que a direita faz, pois ambas integram um mesmo corpo e este tem que ter obrigações com a sociedade e responsabilidade com o ambiente.

  • Poderia alguém nos indicar qual o laboratório no Brasil que tenha a possibilidade de efetuar a análise das “impurezas” contidas na mixtura do Nufarm 2,4-D com o Roundup, ou Fusilade, ou Paraquat, ou Gramoxone, etc. utilizada para secagem rápida da soja antes da colheita( com a agravante em não respeitar o prazo de 20 dias entre pulverização e colheita)? E mais: quando e onde a ANVISA e o IBAMA realizaram alguma coleta de amostras dos solos e águas onde estas mixturas estão sendo usadas? Quem deveria “descontaminar” as regiões atingidas pelas DIOXINAS contidas nestes venenos químicos? Padre Angelo Pansa-Delegado ICEF (Internacional Court of the Environment Foundation)

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