Crise no Japão repercute em planos nucleares na América Latina
Crise no Japão faz Caracas suspender programa nuclear. América Latina tem seis usinas nucleares em três países. Enquanto Venezuela e Brasil se mostram preocupados, Chile e Argentina continuam projetos.
Após os graves problemas surgidos em Fukushima 1, no Japão, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou na terça-feira (15/3) a suspensão do programa de construção de uma central nuclear no país.
“Ordenei ao ministro [da Energia Rafael] Ramirez congelar os planos desenvolvidos, os estudos preliminares do programa nuclear pacífico venezuelano”, afirmou Chávez, durante uma cerimônia transmitida pela televisão. “Não tenho dúvida de que isso [a potencial catástrofe nuclear no Japão] irá alterar muito fortemente os planos de desenvolvimento de energia nuclear no mundo”, acrescentou.
A Venezuela assinou em 2010 um acordo com a Rússia para a construção de uma central nuclear. Esse projeto provocou a inquietação dos Estados Unidos, que classificaram a medida de “perigosa”, devido à estreita relação da Venezuela com o Irã e aos depósitos de urânio existentes no país sul-americano.
Dos 439 reatores nucleares no mundo, seis estão na América Latina. Até agora, a energia nuclear só é utilizada em três países da região: Argentina, Brasil e México.
O precursor da tecnologia foi a Argentina, onde foi instalada a primeira usina nuclear da América Latina. Hoje, o país tem duas usinas nucleares em funcionamento e uma terceira em construção. As autoridades em Buenos Aires minimizaram o risco de que ocorra um desastre similar ao japonês no país.
Argentina aposta em energia nuclear
O gerente de relações institucionais da Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA) da Argentina, Gabriel Barceló, alega que não há razão para uma mudança de planos, já que o país não está em uma zona sísmica e utiliza em suas centrais uma “tecnologia diferente” da adotada na central de Fukushima. O Greenpeace da Argentina rebate esses argumentos. “Embalse está situada em uma zona sísmica, na província de Córdoba”, declarou um diretor da organização, Juan Carlos Villalonga.
A central nuclear Atucha 1, localizada nas margens do rio Paraná de las Palmas, cerca de 100 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, teve construção iniciada em 1968 e entrou em operação em 1974. A usina Atucha 2 ainda está em construção, mas deverá entrar em funcionamento ainda este ano. As obras de Atucha 2 ficaram paralisadas por mais de 20 anos, tendo sido retomadas em meados de 2007.
A central nuclear de Embalse, localizada na cidade homônima, na província de Córdoba, foi a segunda usina nuclear conectada à rede na Argentina. Embalse, considerada hoje o maior motor térmico da América do Sul, está localizada a 100 quilômetros da cidade de Córdoba e a 700 quilômetros de Buenos Aires.
As três centrais são operadas pela Neoeléctrica Argentina S.A. e são responsáveis por 6,2% do abastecimento de energia do país. Porém, é provável que essa cifra venha a aumentar no futuro, já que em dezembro passado foi confirmada a notícia de que a empresa americana Westinghouse vai construir a quarta usina nuclear na Argentina: Atucha 3.
Brasil deve “parar um pouco para pensar”
No Brasil, 3,1% da oferta total de eletricidade é gerada por energia nuclear. Os brasileiros têm atualmente duas usinas nucleares em atividade e uma em construção. A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAA), conhecida como Central Nuclear de Angra, está localizada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro.
Em 1982, Angra 1 foi conectada à rede, Angra 2 começou a operar em 2000 e em junho de 2010 foi iniciada a construção de Angra 3.
Embora o governo brasileiro preveja a construção de outras quatro usinas nucleares, após o desastre no Japão o presidente do Congresso, José Sarney, disse que ocorreu “uma mudança muito séria na visão que vamos ter que ter em relação às usinas nucleares fornecedoras de energia” e que é necessário “parar um pouco para pensar”.
Ativistas antinucleares mexicanos alertam para riscos
A central nuclear Laguna Verde, localizada em Punta Limón, Veracruz, é a única usina nuclear do México e gera 4% da oferta total de eletricidade do país. Laguna Verde tem dois geradores, que foram inaugurados em 1989 e 1995.
Localizada na costa do Golfo do México, a cerca de 70 quilômetros da cidade de Veracruz, a central é muito criticada por associações ambientalistas. O grupo antinuclear Madres Veracruzanas afirma que Laguna Verde tem as mesmas características e seu sistema de resfriamento é baseado no mesmo sistema que a usina de Fukushima, acusando que “se houver eventos naturais semelhantes aos observados no Japão, provavelmente sofreremos as mesmas circunstâncias”.
Chile mantém planos, apesar de crise japonesa
Além de Brasil, México e Argentina também há outros países latino-americanos que apostam na energia nuclear. Na próxima sexta-feira, Barack Obama vai visitar o Chile, justamente para discutir projetos conjuntos em matéria de energia atômica.
Apesar do acidente devastador no Japão e do fato de ser um dos países mais afetados por terremotos e tsunamis, o governo chileno não mudou de planos. “O Chile necessita olhar isso tudo em um horizonte de longo prazo”, desconversou o ministro da Energia do país, Laurence Golborne, ao justificar a cooperação com Washington em meio à preocupação com a crise nuclear no Japão.
No momento, o Chile dispõe de dois pequenos reatores experimentais em La Reina e Lo Aguirre, destinados a fins medicinais e de pesquisa.
Autor: Valeria Risi / Márcio Damasceno
Revisão: Carlos Albuquerque
Reportagem da Agência Deutsche Welle, publicada pelo EcoDebate, 17/03/2011
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