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Artigo

A Crise Ambiental e a CNBB, artigo de Maurício Gomide

[Ecodebate] Foi publicada em 9.3.11, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a súmula da Campanha da Fraternidade de 2011, na qual a atenção episcopal dá relevo à fraternidade para o momento histórico grave do momento, proveniente do desequilíbrio climático por que atravessa a Terra.

O tema ambiental será comentado nas prédicas públicas dos sacerdotes. Recomenda que seus seguidores colaborem para a execução de ações preservativas da Natureza.

Reconhece aquele órgão dirigente a necessidade de união de todos para tal situação, subvertendo a clássica distinção ilusória de países, e apelando para uma ação decisória de conjunto (que traduziríamos por governo mundial ambiental).

Diz textualmente o documento “…, ora o fator econômico não está relacionado à situação de nosso planeta hoje? Somos todos moradores de uma mesma casa, gostando disso ou não estamos interligados. Não há como simplesmente virar as costas e não se importar, afinal se ocorresse uma catástrofe a nível global para onde iríamos? Aquecimento global, mudanças geológicas nada mais é do que reações às nossas ações.”

Mais adiante, reconhece implicitamente a gravidade do momento, mas a exprime com angelical expressão de esperança ao dizer “Ainda estamos em tempo hábil para reverter esta situação.”

Seguindo e expandido um pouco seu ânimo, confessa aquela Entidade que “Esta campanha não é uma utopia e sim um alerta de que atitudes devem ser tomadas, não por uma minoria, mas por um todo, este planeta é nossa casa, precisamos ser fraternos, gerar ações que nos levem ao bem comum.”

Como se trata de um manifesto sem a profundidade que os ambientalistas apreciariam, ele cita a palavra utopia na sua conotação pejorativa, desconhecendo que o mundo precisa dela, no seu melhor sentido de ideação espiritual, impulsionadora de transformações sociais e inspiradora de todos os movimentos revolucionários que a História registra. O mundo está carente de utopias. São elas que irrigam a esperança de justiça das almas inquietas e inspiradoras, além de representarem o suporte de ações mais efetivas.

Mas, ao qualificar o objetivo como “alerta”, pelo menos dá o verdadeiro tom do problema, chamando a devida atenção dos seus seguidores para a gravidade histórica que se encontra neste momento em sua encruzilhada mortal. Reconhecida como tão grave e decisiva, que aquela Entidade chega a conclamar à ação essa “montanha” de acomodados, geralmente surdos à razão.

A propósito, pequena mostra de um futuro abusivo foi evidenciada no recente maremoto ocorrido no Japão. Essa tragédia não foi causada por motivos climáticos, e sim por causas geológicas naturais. Mas a lição que devemos tiver dessa tragédia é a das conseqüências de um viver materialista e desrespeitoso para com a Natureza. Em poucos minutos, a fúria do forte tsunami destruiu e varreu como lixo – porque lixo é – o significativo parque de construções humanas, tais como aviões, navios, automóveis, instalações industriais e unidades nucleares que trazem um risco sério para todo o globo. De que valeram os saques aos recursos do planeta para construção dessa materialista e insana civilização baseada no progresso? Nessas horas, a Natureza desconhece inteiramente os interesses humanos como a ética, a compaixão, a justiça, a religião.

A manifestação do alto clero brasileiro, nessa boa oportunidade, condiz com o pensamento do papa e não deixa de trazer aos defensores da Natureza uma pontuação auspiciosa. Lamentamos que seus termos sejam bastante suaves e genéricos, não chegando a incomodar a sanha do sistema econômico. De qualquer modo, ventila as mentes ocupadas com crenças e propicia condições favoráveis a que, em alguns casos, ocorra o milagre da conscientização.

Em julho de 2007 o papa Bento XVI disse que a “humanidade precisa ouvir a voz da Terra, se quiser salvá-la da destruição. Salvem o planeta antes que seja tarde demais”.

Lamentável que a mídia tradicional não dê maior cobertura às palavras do papa e a esse manifesto tão importante e fora dos parâmetros conservadores da Igreja. A divulgação apenas no âmbito religioso não alcança a repercussão e efetivação que sua expressão pede.

A Igreja é extremamente poderosa. Se quisesse mesmo ostentar a bandeira da sobrevivência – assunto acima de quaisquer outros interesses – teria condições de lavrar um manifesto mais positivo, incisivo, profundo, consentâneo com a realidade ambiental.

Contudo, não está a oportunidade perdida. O movimento ambientalista pode dizer que, com a publicação desse documento, avançou mais um gigantesco passo. Que esse documento produza os frutos esperados.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 17/03/2011


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One thought on “A Crise Ambiental e a CNBB, artigo de Maurício Gomide

  • Obrigado prezado Amigo Maurìcio por aquilo que escreveu acerca do envolvimento da CNBB na Campanha da Frateridade e dos pronunciamentos do Papa Bento XVI a respeito da gravidade da situaçao ambiental ( mas também social) no Planeta. Em Junho de 2009, na Encìclica “Caritas in Veritate” o Santo Padre falou na necessidade de uma “Entidade” que saiba e possa avaliar as situaçoes e apontar soluçoes a serem levadas em frente para as Autoridades. O “alerta” planetàrio jà tinha sido apresentado também pelo Papa Paulo VI quando escreveu que se os seres humanos nao recolocaram no devido eixo as escalas de valores onde o valor fundamental da VIDA està acima e o SUPERFLUO està am baixo, nossa sociedade està votada ao “suicìdio coletivo”. Acredito seja bastante “contundente e claro”. Padre Angeloo Pansa-Delegado ICEF

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