O Projeto de São Raimundo e as demais Comunidades Agroextrativistas do Baixo Parnaíba, artigo de Mayron Régis
[EcoDebate] A música apurava a noite no Baixo Parnaiba maranhense. Escutava-se um pouco de tudo dentro do carro do seu Nonato. Saca só a música. Nessa noite, o sono pouco cobrara seu preço até a chegada em Urbano Santos. Alguém depauperara os dias do passado com um mínimo sossego. A dicotomia “viver do passado” e “viver para o futuro” ainda apresenta alguma relevância para a existência? Percorrer as comunidades agroextrativistas da Mangabeirinha, Lagoinha, Baixa do Cocal, Santana, Boa União e São Raimundo, município de Urbano Santos.
A chuva se aproximara em Mangabeira Velha e derramara-se como uma possuída e com fúria na passagem da caminhonete pelos eucaliptos da Suzano Papel e Celulose em Santana.
A visão dos eucaliptos se repetira tantas vezes no caminho da sede de Urbano Santos para São Raimundo que, mesmo após sair de perto do plantio, eles pairam com seu exotismo para qualque r lado que as pessoas se dirijam.
Os infortúnios das comunidades de Santana, Ingá e Felipe, causados pelos desmatamentos das suas áreas de extrativismo e de plantio de roças para o plantio de quase mil hectares, adulavam a todos que tivessem um pouco de sensibilidade e um pouco de postura crítica a respeito dessa destruição através da qual a Suzano Papel e Celulose solapa modos de vida em todo o Baixo Parnaiba.
A tensão provocada pelos eucaliptos da Suzano se esvaiu à medida que o carro se distanciava em direção à comunidade de São Raimundo. Eles cuidavam porque a comunidade de São Raimundo os aguardava desde cedo para iniciar o dia de encerramento do projeto “Comunidade Tradicional e a Sustentabilidade do Extrativismo do Bacuri em Urbano Santos (MA)”.
Os que presidem a Associação de São Raimundo, a Francisca e o Domingos. A Francisca se acabrunha pelos inúmeros conflitos e contraditos pelos quais passou tanto com rela ção ao proprietário da terra quanto com relação a uma parte da comunidade que recusa a desapropriação pelo Incra.
Às vezes, os dias se acalmam e em outras vezes os dias se enfurecem na comunidade de São Raimundo e o Domingos cumpre sua jornada diária de educar com firmeza os associados na luta pela desapropriação dos mais de 1.600 hectares e contra os desmatamentos que rasgariam as Chapadas de São Raimundo, Bom Principio, Bracinho, Boa União, Santa Filomena, Passagem do Gado, Pau Serrado e Sucuruju, povoados dos municípios de Urbano Santos, Santa Quitéria e Barreirinhas.
Compartilhando o momento com a comunidade de São Raimundo, faziam-se presentes a Associação das Parteiras de Urbano Santos, a Associação de Jussaral, a Associação de Mangabeirinha, a Associação dos Anajás dos Garcês, a Associação da Boa União, a Associação de Bom Principio, o Projeto de Assentamento Baturites, a Entrerrios, o STTR de Urbano Santos, o Fó rum Carajás, o Fórum da Amazônia Oriental e o CAPPAM.
As pessoas de São Raimundo encheram a sede da associação e do lado de fora a Francisca amostrava os produtos oriundos da sociobiodiversidade como o babaçu, o pequi e o bacuri.
A Francisca, dentre todos, roubou a cena com um agradecimento pela ida do projeto para São Raimundo e com a sua interpretação emocionada para uma música ecológica.
As associações de Anajás dos Garcês, município de Barrerinhas, Mangabeirinha, Jussaral e Bom Principio, município de Urbano Santos, no salão da associação ou no caminho de volta da Chapada ou nos baixões, aludiram para uma amostra do projeto de São Raimundo em suas áreas de Chapada. O Divan dos Anajás dos Garcês quer dez hectares logo de uma vez.
Mayron Régis, jornalista e articulista do EcoDebate, é Assessor do Fórum Carajás.
EcoDebate, 11/03/2011
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