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Níveis de grandeza, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] A Corte Penal do Tribunal Internacional de Haia pode considerar Kadafi culpado de genocídio, mas qual será a punição ? Os juízes podem até emitir ordem de prisão contra Kadafi, mas quem a executará? Os Estados Unidos, por exemplo, não são signatários do tratado que criou a corte, porque esta é independente em relação ao Conselho de Segurança da ONU. Quer dizer, essa corte poderia julgar não só os crimes de um Sadam Hussein, como também os de um Bush, o que ainda não ocorreu até hoje.

A diferença entre resoluções da ONU, ou de Haia, das soluções de força dos americanos (como no caso do Iraque) está na diferença de grandeza que representam. Isso tanto em termos de abrangência (o conjunto da comunidade internacional, em comparação com o seu país mais poderoso), quanto em termos de grandeza moral, mesmo, como no próprio exemplo da falta de julgamento para Bush – que no seu país não corre o risco de ser processado por nada, mas nos organismos internacionais talvez possa vir a ser, num futuro em que estes se tornem mais independentes dos Estados Unidos.

Hoje, aparentemente, faltam instrumentos que façam cessar o genocídio do povo líbio. O que é uma forma de atraso da civilização como um todo, deveríamos ter formas de conter o massacre de civis. Mas nos milhares de anos de civilização, ainda é o melhor estágio que atingimos, em comparação com o passado, basta olhar para a História. Sim, seria um alívio em nossa dor solidária ao sofrimento dos líbios, que alguém pudesse intervir para salvar a população civil, mas a verdade é que nossos organismos internacionais ainda não tem esse poder – inclusive por não terem um consenso sobre seus limites na interferência nas questões de cada país.

Sabemos, na prática, que isso não impede que os revoltosos recebam ajuda “por fora”, um exemplo de como isso acontece é o filme “Charlie Wilson’s War” (Jogos do Poder), sobre o Afeganistão. Mas, em última instância, é a consciência do próprio povo que precisa prevalecer sobre as ditaduras, como acontece quando militares trocam de lado, por se tornar inconcebível para eles participar de um genocídio.

Grandes líderes mundiais se formaram diante da dificuldade, do sacrifício pessoal, das injustiças e também de histórias de massacres, que fizeram muitos mártires. Gandhi e Mandela são os melhores exemplos disso, levaram décadas para unir seus povos, indianos e africanos, respectivamente. Os sofrimentos destes povos também estão retratados nos filmes sobre suas vidas, como “Gandhi” e “Invictus”. É desses níveis de grandeza que poderm nascer soluções a longo prazo, que sejam mais que a troca de ditadores decorrentes das guerras.

Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra

EcoDebate, 09/03/2011


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