Pesquisadores da EACH/USP testam ‘wetlands’ (banhados artificiais) para tratar esgoto
Entre as vantagens do método estão: baixo custo e benefícios ambientais
Na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, uma pesquisa tem o objetivo de avaliar a eficácia de uma técnica natural de tratamento do esgoto. Desenvolvido pela equipe coordenada pelo professor Marcelo Nolasco, o estudo Pós-tratamento de esgotos por Banhados Construídos se baseia na utilização de “wetlands” (banhados artificiais). Os wetlands são tanques preenchidos com a areia e cascalho ou outros materiais que possam servir de meio suporte ao crescimento de plantas aquáticas (macrófitas). Nesse sistema, diversos processos biológicos promovem o tratamento das águas residuárias com o auxílio de populações de microrganismos que se desenvolvem na zona das raízes das plantas e no meio filtrante.
Segundo o professor Nolasco, o relato mais antigo de utilização desse sistema veio de um estudo de 1953, desenvolvido no Instituto Max Planck, uma organização alemã. O uso dos wetlands construídos surgiu a partir da observação de que o sistema era eficiente na remoção de poluentes químicos e de patógenos, pois a água que entrava poluída nesses banhados saía com melhor qualidade. “O sistema servia para reter os poluentes”, afirma.
Outras vantagens apontadas por Nolasco se referem ao custo e aos benefícios ambientais desse sistema. Por utilizar materiais de baixo custo e que não precisam ser transportados por longas distâncias, são alternativas economicamente viáveis. Sob o ponto de vista ambiental, os wetlands possuem capacidade de suportar variações de vazão de água, o que é muito importante nos dias de precipitação intensa. Proporcionam uma riqueza de organismos que ali convivem, favorecendo a biodiversidade. “É um sistema que se integra à paisagem natural, utilizando plantas da própria região onde é implementado”, explica o professor.
Sobre o projeto de pesquisa
De acordo com Nolasco, a ideia de trabalhar com o sistema de wetlands na EACH surgiu da necessidade de criar uma nova estrutura para que os alunos pudessem realizar estudos na área de tratamento de águas residuárias, favorecendo a pesquisa na graduação. O estudo foi realizado com Vitor Cano, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e recém-formado pelo curso de gestão ambiental da EACH, que desenvolveu o projeto como parte de seu trabalho de conclusão de curso. A estrutura há pouco implementada permitirá o desenvolvimento de novos estudos e o fortalecimento das ações de sustentabilidade dos campi da USP.
Os sistemas de wetlands foram selecionados por serem alternativas tecnológicas sustentáveis, robustas, de forma a atender a necessidade de ampliação do conhecimento por tecnologias descentralizadas de tratamento de esgotos no Brasil. Em diversos países é uma tecnologia em amplo desenvolvimento, no entanto, relativamente pouco desenvolvida no país. “É um sistema que pode ajudar a diminuir o alto déficit existente no Brasil com o tratamento de esgoto”, diz Nolasco.
Durante o ano de 2010, a infraestrutura foi implementada e os sistemas começaram a ser abastecidos com o esgoto da própria EACH. Basicamente, foram construídas três unidades com características diferentes. Essas unidades foram planejadas e submetidas a diferentes configurações construtivas e operacionais para se avaliar a melhor relação custo-benefício. Em uma delas, o volume do meio suporte (areia e pedregulho) consiste no dobro da outra. Em outra unidade, o fluxo de água é horizontal, diferenciando-se das demais de fluxo vertical e assim por diante. Dessa forma, será possível avaliar o comportamento de cada uma das unidades na remoção de poluentes químicos e biológicos, associados a cada uma das configurações.
A princípio, um dos objetivos da pesquisa era obter informações sobre as modalidades de reúso adequadas para a água residuária tratada. Até o momento, os estudos apontam bons indicadores, principalmente para os índices de nitrogênio e de sólidos suspensos. A partir dos resultados dos estudos em andamento, espera-se que o projeto obtenha novos recursos junto às Agências de Fomento e na iniciativa privada, de forma ampliar o escopo do estudo e o retorno à sociedade com soluções apropriadas.
Segundo o pesquisador Vitor Cano, que auxiliou o professor durante todo o projeto, o que o chamou a atenção nessa pesquisa foi o estudo sobre saneamento descentralizado, área que ele achou interessante e a qual pretende continuar estudando. De acordo com Nolasco, considerando o caráter multidisciplinar do projeto, o próximo passo é atrair também alunos das áreas de biologia, engenharia ambiental, engenharia civil, arquitetura, química, entre outros, para juntos, aperfeiçoarem os projetos a partir do sistema já construído. “No futuro pretendemos atrair novos alunos de graduação, da pós-graduação, pós-doutorandos e montarmos um parque demonstrativo de soluções para o tratamento de águas residuárias”, completa.
Mais informações: email mnolasco@usp.br, com o professor Marcelo Nolasco
Reportagem de Lucas Rodrigues, do USP Online/Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 28/02/2011
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