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Expansão da malha urbana em São Paulo intensifica temporais

A expansão da malha urbana em São Paulo e a sobreposição de fenômenos climáticos são os principais motivos por trás da intensificação nos temporais que têm castigado a cidade, segundo especialistas consultados pela BBC Brasil.

No mês de janeiro, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), as chuvas na cidade somaram 493,7 mm, recorde para o mês desde o início das medições, em 1943. A média histórica de chuvas para janeiro é de 261,3 mm.

Em fevereiro, o índice chegou a 123 mm até a manhã desta segunda-feira (21) – a média para o mês é de 235,4 mm.

Como resultado dos temporais, além das habituais inundações, a cidade têm sofrido com a queda de árvores e panes nos semáforos, fatores que causam problemas no fornecimento de energia elétrica e no trânsito.

Para Augusto José Pereira Filho, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, o alto índice pluviométrico está diretamente relacionado à formação de uma “ilha de calor” na cidade durante o verão e a primavera.

Pereira Filho explica que a mancha urbana na Grande São Paulo continua se expandindo, o que implica o desmatamento de áreas verdes e o consequente aumento da temperatura em dias de grande incidência solar.

Aquecido, o ar em São Paulo sobe, abrindo espaço para a vinda do ar úmido proveniente do litoral, bastante próximo da cidade.

A interação entre o ar relativamente quente e seco da cidade e o ar relativamente úmido e frio do oceano produzem uma condição instável, que gera tempestades violentas, com ventos intensos e grande índice pluviométrico.

“À medida que aumenta o contraste de temperatura (entre o ar do litoral e o da cidade), há tendência de aumento nos temporais, em intensidade e em área atingida”, diz à BBC Brasil o professor.

Ele conta que, entre 1936 e 2007, a temperatura média em São Paulo aumentou 2,1 ºC. Pereira Filho credita a variação principalmente ao crescimento urbano na cidade, já que no mesmo período a temperatura na região tropical do globo subiu apenas 0,5ºC, como resultado do aquecimento global.

O professor explica, no entanto, que há um limite para a elevação da temperatura na cidade: por meio da formação de nuvens, chuvas ou mesmo tempestades, o próprio sistema atmosférico age para baixá-la, restaurando o equilíbrio entre o calor acumulado e o dissipado.

Pereira Filho acredita, aliás, que o aumento da temperatura na cidade está próximo de seu limite.

Sobreposição de fenômenos

Segundo o meteorologista do Inmet Franco Villela, além da “ilha de calor” formada sobre São Paulo nesta época do ano, a sobreposição de outros fenômenos concorre para a intensificação dos temporais.

Entre eles, destacam-se o La Niña, constituído pelo resfriamento anormal das águas no Pacífico na costa do Chile e do Peru, o que altera a distribuição de massas de ar quentes e frias em vários pontos do Brasil;

A elevação da temperatura do Atlântico, que provoca maior evaporação na costa próxima a São Paulo;

E a Zona de Convergência do Atlântico Sul, que provoca o deslocamento de umidade da Amazônia até a região Sudeste.

Semáforos quebrados

Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), na primeira semana de fevereiro caíram em São Paulo, em média, 80 árvores por dia em decorrência das fortes chuvas e dos raios.

Além da queda das árvores, os temporais aumentaram sensivelmente a quebra de semáforos. Segundo a CET, nos meses sem chuva são registradas, em média, 43 ocorrências por dia.

Em janeiro, 100 semáforos quebraram por dia na cidade, dos quais boa parte só voltou à normalidade dias depois. A cidade tem cerca de 6 mil aparelhos.

Segundo o especialista em trânsito Sérgio Ejzenberg, mestre pela Escola Politécnica da USP, os semáforos deixam de funcionar porque os temporais acionam um dispositivo de segurança que evita falhas em seu funcionamento.

Ele explica que, quando chove, se a fiação do semáforo está mal aterrada ou se suas conexões elétricas estão desgastadas, o semáforo detecta uma anomalia no fornecimento de eletricidade e, para não acionar uma erroneamente alguma lâmpada, desliga ou passa a piscar automaticamente.

Para sanar o problema, Ejzenberg diz que é preciso investir mais na manutenção dos sistemas de transmissão elétrica, isolando as tubulações enterradas e pondo fim às áreas de curto-circuito em redes aéreas.

Reportagem de João Fellet, da BBC Brasil em São Paulo, publicada pelo EcoDebate, 24/02/2011


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