EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

O Egito não tem exército, mas Mubarak, sim! artigo de Tomás Togni Tarqüinio

[Ecodebate] A tragédia egípcia é pior do que se imagina. Segundo o jornal britânico The Guardian, a fortuna amealhada pela família Mubarak é estimada entre 40 a 70 bilhões de dólares. O jornal argelino Al Khabar também afirma que parte da fortuna está aplicada na Inglaterra (onde filhos e a esposa têm a nacionalidade), França, Suíça, Espanha Estados Unidos e Dubai. No Egito, o clã formou “joint-ventures” com investidores estrangeiros mediante pedágio de 20%, além de especular com a dívida do país no mercado secundário e comprar terrenos do exército a preços de banana para vendê-los a investidores.

Enquanto isto, quase metade da população do país (80 milhões de habitantes) vive com menos de três dólares por dia. Bill Gates, o homem mais rico dos Estados Unidos, conseguiu juntar uma fortuna de 54 bilhões de dólares, graças aos seus programas instalados nos computadores do planeta. No caso do ditador egípcio trata-se de trambique. E nas barbas de Tio Sam que, anualmente, fornece uma ajuda civil e militar ao país de 1,7 bilhões de dólares. Pelo visto, a totalidade deste dinheiro foi para os bolsos da família mafiosa.

Interessante que somente agora a questão aparece nos jornais, como se fosse novidade. Mas é evidente que os americanos sempre souberam das patranhas cometidas por Mubarak e acólitos. E pagaram parte da conta por razões geoestratégicas. Não seria estranho ocorrer uma reação semelhante á iraniana, com a ascensão de fundamentalistas radicais dispostos a cortar a cabeça desta corja. Ainda mais que esta é identificada com os interesses dos Estados Unidos na região, esteio dessa e doutras ditaduras longevas. Oxalá que os egípcios encontrem um caminho para superar essa crise, abrindo espaço para que todas as sensibilidades políticas, religiosas e culturais possam se exprimir com liberdade, como convém a um grande país milenar.

Claro está que nós, brasileiros, não temos lições a dar aos egípcios em matéria de corrupção ou de qualquer tema. Apesar de todas nossas mazelas, econômicas, políticas, sociais, uma comparação pode ser feita: nossos problemas são felizmente bem menores do que o dos egípcios. Para nosso bem, estamos distantes do Oriente Médio, pedra angular do sistema energético ocidental. Não conhecemos há mais de século e meio os horrores da guerra, nem tampouco temos um Israel como fronteira. Recuperamos-nos dos anos de chumbo construindo uma sociedade democrática, ainda que em aperfeiçoamento. E não sustentamos um faraó e seus validos ressuscitados após 40 séculos. Caminhamos no sentido de reconhecer e conviver com o outro, aceitando as diferenças.

A consolidação de nossas instituições segue o seu caminho, imperfeito, pois ainda temos um executivo pesado e ineficiente, um legislativo pouco representativo e um judiciário que caminha a passos de magistrado. Apesar das desigualdades, ainda somos um país onde o sistema público de saúde dá mais de 700 milhões de atendimentos anuais, paga aposentadoria para 30 milhões de pessoas e colocou quase todas as crianças na escola. O que seria do Brasil sem essas conquistas? Um pouco de otimismo nos faz bem.

Tomás Togni Tarqüinio, Antropólogo e pós-graduado em Prospectiva pela EHESS, Paris
3.ttt@bol.com.br

EcoDebate, 11/02/2011


Compartilhar

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa