Termelétricas e usinas nucleares no Nordeste, terra de vento e sol, artigo de Sérgio Abranches
[Ecopolítica] O apagão que deixou ontem sete estados do Nordeste sem luz foi causado por falha técnica, desta vez, dizem os responsáveis, não por oferta insuficiente ou demanda elevada. Mas a região precisa de aumentar a capacidade local de geração. Mas deve fazer isso explorando seu melhor potencial e buscando segurança energética. Poderia se tornar um pólo mundial de energias renováveis alternativas.
Mas o governo escolhe o pior caminho: faz termelétricas a combustível fóssil, poluindo a região e sujando a matriz elétrica brasileira e quer fazer usinas nucleares. Não precisa, o Nordeste é a maior fonte de energia eólica e solar do Brasil. Limpa e segura. Há áreas do semi-árido, hoje quase sem população, são muito secas e ficarão mais secas ainda no futuro. Nelas poderiam ser instaladas centrais de energia solar fotovoltaica.
Por que insistimos no caminho do velho? Por que o Brasil tem preconceito e se recusa a fazer o que o resto do mundo todo está fazendo: Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Portugal, China, Índia? Só para mencionar os principais.
Porque temos uma política energética ultrapassada e que virou monopólio de uma clique de tenocratas e donataria de grupos políticos. O Ministério das Minas e Energia é como uma grande sesmaria, loteada politicamente. É comandado por uma facção política como se fosse direito hereditário. As empresas elétricas são capitanias hereditárias, os partidos viraram donos delas. Com o loteamento de um setor estratégico para o país para os grupos mais clientelistas da política brasileira, fica difícil imaginar políticas públicas com visão de futuro, voltadas para a inovação, sintonizadas com as tendências mundiais.
Nosso sistema de transmissão e distribuição é ineficiente. Apagões têm sempre um culpado exótico, o raio de Bauru, que só os técnicos do setor elétrico viram, mas a meteorologia não captou, ou o culpado é sujeito indefinido: “mandaram” desligar Itaipu – e aí 18 estados ficam sem luz. Ontem, segundo explicação da CHESF, uma peça eletrônica, uma “cartela eletrônica”, de uma grande subestação desligou, por defeito, parte do sistema e sete estados do Nordeste, mais o interior do Piauí, ficaram sem luz. Não dá para demitir o raio de Bauru, ou a cartela eletrônica.
Em entrevista, ontem, para Míriam Leitão na Globonews, o diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, e o diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa, defenderam investimento no aumento de eficiência na geração, transmissão, distribuição e consumo de eletricidade no Brasil. A energia mais barata que temos é a que desperdiçamos e a que deixamos de produzir. Defenderam também a diversificação urgente de nossa matriz energética, aumentando a geração eólica, que pode ser o melhor complemento da hidreletricidade e ainda dá segurança energética ao Nordeste. Eu concordo inteiramente. O Brasil precisa passar a investir em energia solar. O Nordeste não tem mais potencial hidrelétrico, mas tem um vasto potencial eólico e solar. A Índia está instalando a maior usina do mundo movida pelas ondas do mar. Aqui as ondas quebram nas praias, ociosas, dolentes, e ninguém vê a energia nelas contida. O vento balança as folhas do coqueiro do Nordeste, mas move muito poucas turbinas eólicas. O sol esquenta o agreste, mas não gera um único Watt de eletricidade. Mas a fumaça das termelétricas aumenta e agora o Nordeste enfrentará o risco nuclear.
Sempre me perguntam qual é a alternativa para o que se vem fazendo, e inclusive para Belo Monte? Resultado da propaganda do governo e setores do mercado interessados no status quo, que dizem que ou fazemos esses absurdos programados no PAC ou teremos um apagão e o crescimento será inviável. Não é assim. O mundo busca alternativas que temos de sobra e desprezamos. Insistem que é mais caro e não dá escala. Enquanto isso, no resto do mundo, o custo por kWh dessas energias só faz cair e a escala só aumenta. Caro é Belo Monte, um projeto sem transparência, cujo custo final, depois de realizado será provavelmente muito maior do que se diz. Era R$ 20 bilhões, o BNDES já reconhece R$ 26 bilhões. Duvido que fique na casa dos trinta. A usina de Simplício, no rio Paraíba do Sul, entre os municípios de Chiador, MG, e Sapucai, RJ, custou o dobro do estimado. Imagine-se uma obra das proporções de Belo Monte, lá no Xingu. Et pour cause.
A eficiência energética não supera a necessidade de expandir a capacidade instalada, mas reduz a urgência na instalação de novas usinas e garante melhor aproveitamento dos MW já gerados e dos novos que entrarão no sistema. Reduz custo e preço. É o melhor investimento que se pode fazer. Tecnicamente falando, claro. Mas é um péssimo investimento político: invisível, não dá inauguração, não gera grandes contratos com empreiteiras. Não dá para fazer. Energia eólica e solar fotovoltaica, a começar pelo Nordeste, são uma óbvia opção brasileira. Precisa subsidiar? Precisa. Mas o governo subsidia hidrelétricas e, pior, termelétricas a carvão e óleo. Pagamos caro pela energia do passado, como disse Barack Obama no discurso “Estado da Nação” ao Congresso do EUA. Por que não subsidiar a energia do futuro? O atendimento de populações de mais baixa renda e longe dos grandes centros, pode ser feito com pequenas usinas, biomassa, turbinas eólicas. Cidades inteiras podem gerar boa parte de sua energia usando lixo, biomassa, eólica e solar.
Alternativa tem. Os lobbies e as forças que controlam a política energética é que não querem admitir.
Artigo originalmente publicado no Blog Ecopolítica, de Sérgio Abranches
EcoDebate, 08/02/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
QUE MARAVILHA!! ENFIM UM DISCURSO BEM BRASILEIRO, POR ISSO ECOLÓGICO!
O NORDESTE PODERIA TER EM SUA CAATINGA, A MAIOR USINA DE PRODUÇÃO DE ENERGIA DO BRASIL. HOJE VEMOS NO SOL –KUARACY– DOS TUPY GUARANI UM GRANDE PROBLEMA DE SOBREVIVÊNCIA DESTA PARCELA DE NOSSO PAÍS.
MAS NÃO! COM ESTA NOVA PERCEPÇÃO, PASSARÍAMOS A RECEBER AS EMANAÇÕES –KUARA– DESTA FONTE –CY– SOLAR COMO A GRANDE DIVINDADE QUE LIBERTARIA ECOLOGICAMENTE ESTA BELA PARTE DO NOSSO BRASIL.
O NE precisa de aumentar a capacidade local de geração? Solução: termelétricas e nucleares. O NE deve fazer isso explorando seu melhor potencial e buscando segurança energética. Solução: termelétricas e nucleares. O NE poderia se tornar um pólo mundial de energias renováveis alternativas? Também poderia se tornar um pólo mundial de urânio e carvão, como já são Austrália, Canadá, EUA, Rússia, Alemanha, etc. O NE não precisa de energia solar ou eólica, poiis tem imensas reservas de urânio para geração nuclear. Limpa e segura. As áreas do semi-árido muito secas e quase sem população poderiam ser povoadas, irrigadas e cultivadas e poderiam ser abastecidas com linhas de transmissão.
Por que ter preconceito contra o caminho “velho”? É mais barato. O resto do mundo todo está insistindo no caminho velho. EUA e Alemanha produzem metade de sua eletricidade usando carvão e eestão substituindo suas antigas usinas a carvão por novas. Reino Unido produz quase toda sua energia por combustível fóssil e planeja substituir suas antigas nucleares por novas. A França produz quase toda sua energia elétrica em usinas nucleares e está construindo novas. Espanha, Portugal e Itália produzem a maior parte de sua energia por combustíveis fósseis. A Itália importa energia das usinas nucleares francesas e decidiu voltar a investir em energia nuclear. China e Índia geram quase toda sua eletricidade a partir do carvão e estão investindo pesado nessa fonte. Só a China constrói em média uma usina a carvão por semana! E está construindo mais de 20 hidrelétricas do tamanho de Belo Monte, além de 30 usinas nucleares npovas. Só para mencionar os principais.
Então quem tem uma política energética ultrapassada? O Brasil? O MME é como uma grande sesmaria, loteada politicamente? E o que a Marina Silva fez no MMA foi o quê? Loteamento técnico? Devemos ficar sintonizados com as tendências mundiais? Então basta construir usinas a carvão e nucleares, além de consumir mais petróleo e gás. Os “especialistas” defenderam a diversificação de nossa matriz energética? Qualquer fonte que não seja hidráulica atende a esse requisito, incluindo carvão e nuclear. O NE não tem mais potencial hidrelétrico, mas pode usar o potencial hidrelétrico da Amazônia. estamos desperdiçando nosso urânio e nosso potencial hidráulico. E o risco nuclear? É grande? Resposta aqui: http://www.alerta.inf.br/files.php?force&file=Energia_nuclear____realmente_perigosa___versao_completa_15.11.2009_412141682.pdf
Belo Monte é caro? E desde quando 79 R$/MWh é caro? É metade do preço das eólicas. Projeto sem transparência? E os 30 anos de discussão, o monte audiências públicas, pareceres da Funai, Incra, Iphan, licenciamento do Ibama? A documentação está toda disponível na internet. Se o custo final ficar maior do que se diz, é o empreendedor que vai arcar com esse custo, não o consumidor.
Se a eficiência energética não supera a necessidade de expandir a capacidade instalada, então a eficiência energética não pode ser usada como argumento para ser contra a construção de uma usina. Energia eólica e solar também são bons investimentos políticos: dá inauguração e gera contratos com empreiteiras. Energia nuclear, a começar pelo Nordeste, é uma óbvia opção brasileira. Metrópoles e parques industriais podem gerar parte de sua energia usando lixo, biomassa, eólica e solar, mas é claro que isso não é suficiente a um preço aceitável num país onde as pessoas tem renda 5 vezes menor que EUA e Europa.
Excelente, seu discurso Sergio. Os pólíticos precisam ouvir, principalmente de quem sabe o fala, porque investir em nossa terra, sem agredí-lo é assunto que não os interessa, pois não dá para desviar verba com tanta facilidade. Construir usina nuclear por quê? Somos terra jovem ainda e forte.
12/03/2011