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Artigo

Belém de Buriti de Inácia Vaz e Baixa do Cocal de Urbano Santos, artigo de Mayron Régis

[EcoDebate] Quanto mais obscuro o caminho, mais deve buscar o esclarecimento. Como interpretar essa frase? A sociedade humana pretende ser uma sociedade do esclarecimento e da ilustração, mas quase sempre mesmo estando sob iluminação as pessoas se aparvalham justamente pelo excesso de tudo e qualquer coisa. Os livros, por muito tempo, presenteavam o leitor com um mapa físico-espiritual que identificava por onde os navios da consciência deveriam singrar em seus destinos adversos.

Hoje, os livros presenteiam os leitores com toda sorte de sugestões de autos-piedades místico-espirituais que sorte daquele que comprar um bom livro de presente para seu amigo ou para sua amiga. As consciências se forjarão pelos inúmeros livros de auto-ajuda lidos ou por um único livro de um grande escritor? As consciências se forjarão por uma única viagem a Europa ou aos Estados Unidos ou por despistar viagens curtas para o Baixo Parnaiba maranhense e o Cerrado sul do Maranhão?

A viagem de fevereiro de 2007 para o município de Santa Quitéria queimou algum fusível na sua memória porque ao beber um suco de bacuri procurara no seu interior se anteriormente por alguma sorte da vida tomara contato com a fruta. A resposta se ocara. Dentro do oco da resposta, a consciência de que os bacuris se afastaram das pessoas por muito tempo compareceu. O apelo das monoculturas soa mais convincente na exata medida a troca dos interiores pelos grandes centros urbanos.

As famílias tradicionais do interior maranhense se retiraram fisicamente e retiraram sua nobreza espiritual de seus locais de nascimento e descerraram bandeiras francamente favoráveis aos empreendimentos das monoculturas. Isso é tanto verdade que, por exemplo, no caso da comunidade de Belém de Buriti de Inácia Vaz, bacia do rio Preto, Baixo Parnaíba maranhense, o pretenso proprietário vendeu uma área de mais de dois mil hectares para o grupo João Santos,grupo que produz bambu e cana de açucar. Ao saber que os moradores da área insistiriam na presunção de que antes de qualquer documento de compra de propriedade o fato de terem nascido, se criado, cultivado a terra, colhido o plantio e parido seus filhos em cima daquela chapada lhes favorecia, o proprietário fora tomar satisfação com uma das lideranças junto com os advogados do grupo João Santos. Os moradores se mostraram irredutíveis e daí em diante a disputa descambou para o conflito armado entre os moradores e os pistoleiros do grupo João Santos. Atualmente, Belém é um assentamento estadual entre tantos esquecidos pelo governo estadual e pelo Iterma.

O entrevero entre o grupo João Santos e a comunidade de Belém e seu resultado favorável para a comunidade, pelo menos no tocante a posse da terra, estancou por lá mesmo nos ditames da época. Algumas vezes ressurge em conversas no município de Coelho Neto ou em conversas extraídas numa reunião do ministério público com a sociedade civil em que advogados atuantes na época e hoje promotores de centros urbanos discorriam sobre as peripécias que vivenciaram quando da luta em Belém de Buriti de Inácia Vaz. O passar do tempo possibilita que conflitos sangrentos como o de Belém de Buriti de Inácia Vaz ressurjam mais tarde como um aparte dentro de uma reunião formal sobre a regularização fundiária no Baixo Parnaiba maranhense sem que, depois da recordação, quem recordara o caso seja cobrado pela sua omissão presente.

O caso de Belém de Buriti de Inácia Vaz se excetua da regra geral da regularização fundiária em todo o Maranhão. Acaso os seus moradores se consolassem passivamente com as propostas da empresa em que pé estaria a comunidade nos dias de hoje? A não-adesão às desconversas do proprietário e da empresa verteu na conquista definitiva do titulo da terra entre outras coisas. De outra feita, o senhor Edil, morador da comunidade da Baixa do Cocal, município de Urbano Santos, denunciara uma proprietária da sua comunidade porque seus filhos cortavam bacurizeiros adultos paras serrarem a madeira. Ele mostrou exatamente onde se encerrava as terras da proprietária e sua posse de dez hectares onde colhia os bacuris para fazer suco e plantar suas culturas tradicionais. A proprietária é viúva e seu marido, antes de morrer, permitia que os moradores da Baixa do Cocal colhessem o bacuri e cortassem uma madeira para alguma construção. Pra frente, a proprietária desconsiderou as práticas do seu marido e começou a negar favores aos moradores e ainda por cima tenta adentrar no resto de terra devoluta onde engrandecem os bacurizeiros. Quem sabe, para vender para a Suzano.

Mayron Régis, jornalista e Assessor do Fórum Carajás, é articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 01/02/2011


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