Dietas desintoxicantes, conhecidas como ‘detox’, precisam de acompanhamento médico constante
Perigo de um regime no limite da inanição é muito maior do que qualquer eventual benefício rápido
As dietas desintoxicantes, conhecidas como “detox”, permeiam a medicina chinesa há milênios, mas caíram no gosto popular depois que estrelas como a atriz Gwyneth Paltrow e a cantora Beyoncé enxugaram os quilos extras à base de sucos, água mineral e chás de efeito laxante. A partir daí, o perigo passou a rondar a saúde de milhares de ocidentais, que, por conta própria, buscam o corpo perfeito em um cardápio hipocalórico (com menos calorias do que o exigido pelo ritmo normal de cada pessoa) e absolutamente pobre do ponto de vista nutricional. Médicos nutrólogos que indicam os métodos de desintoxicação orgânica alertam que o objetivo deles é eliminar as substâncias nocivas que entram no organismo pela ingestão de alimentos não saudáveis. Esses especialistas são unânimes: as detox devem ser bem indicadas e fazem parte de um planejamento detalhado, que avalia necessidades individuais. Reportagem de Márcia Neri, no Correio Braziliense.
O médico naturalista Augusto Vinholis diz que a expressão “detox” é apenas um modismo. A verdadeira desintoxicação orgânica demanda um programa no qual a restrição alimentar é apenas o primeiro passo para se tratar doenças nem sempre percebidas e educar o organismo para a ingestão de produtos benéficos, conquistando qualidade de vida.
Segundo ele, todos os dias as pessoas entram em contato com elementos venenosos para a máquina humana. Entre os vilões estão o açúcar, o sal, o álcool, as gorduras, o ar poluído, o cloro da água tratada, os conservantes, os resíduos da carne vermelha, as noites maldormidas, o estresse e tudo o que prejudica corpo e mente. “A simples ingestão de líquidos não traz benefícios. A dieta deve ser feita por cinco dias, com acompanhamento médico, e serve para baixar o metabolismo”, pontua.
» O médico naturalista Augusto Vinholis fala sobre dieta de desintoxicação
Vinholis explica que práticas terapêuticas como shiatsu, massagem linfática, ginástica, hidroterapia, ventosaterapia, acupuntura auricular, hidrocolonterapia e massagem ayurvédica são essenciais para o tratamento. São elas que facilitam a faxina, a retirada das toxinas nos órgãos. “Com a dieta orientada, o corpo entra em repouso, fica limpo. As terapias complementares proporcionam a revitalização. Feito em clínicas, o programa de desintoxicação é uma UTI natural. O paciente tem atenção 24 horas por dia. O corpo reage às mudanças e isso deve ser acompanhado ”, reforça.
Nos três primeiros dias do tratamento, são oferecidos sucos variados. A partir do quarto dia, frutas, saladas e alimentos cozidos e crus. “Depois, o organismo deve ser reconstituído com vitaminas e sais minerais. Primeiro o livramos dos radicais livres, depois oferecemos a ele os antioxidantes. A perda de peso é natural, mas vem com saúde”, garante.
Reequilíbrio
Foi o que aconteceu com a arteterapeuta Nilce Maria Silva, 57 anos. Após os 50, ela engordou 8kg, que pesaram na qualidade de vida. “Me sentia cansada, indisposta e por isso procurei um spa de desintoxicação. Ao passar pelos exames prévios na clínica, tive o diagnóstico de um pólipo intestinal e de uma gastrite. A alimentação incorreta e a vida turbulenta nos trazem doenças silenciosas”, revela. Os 8kg foram perdidos com uma dieta de desintoxicação e uma série de terapias. Nilce confessa ter sentido falta da cafeína, mas diz que os tratamentos complementares não a deixaram sentir fome. “Hoje, não como carne vermelha, sigo uma dieta saudável e me sinto muito mais bonita e disposta. Eu renasci. A perda de peso foi consequência da boa alimentação e do reequilíbrio emocional, também conquistado no programa”, relata.
A paisagista Geíza Costa, 57 anos, passou pela desintoxicação orgânica, já pensando em garantir uma terceira idade saudável. Ela explica que sentia enxaquecas, cansaço e irritação com muita frequência e que não esperou uma situação emergencial para buscar ajuda. “Percebi que somente uma dieta feita por conta própria não me proporcionaria bem-estar. Por isso, procurei um especialista que me oferecesse um plano completo. A parte da dieta é mais sofrível para quem tem hábitos alimentares ruins. As terapias e os exercícios físicos são coadjuvantes dignos de Oscar”, considera. Atualmente, Geíza cultiva e colhe em sua fazenda grande parte das frutas e verduras que consome. “A desintoxicação orgânica é uma revitalização. Hoje, me sinto mais saudável do que há 30 anos. Passei a me conhecer melhor e sei que serei uma vovó com corpinho em cima e cabeça jovem”, diz.
O médico José Humberto Gebrimm, nutrólogo pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), garante que o segredo é o equilíbrio e que a desintoxicação é importante para preparar o corpo a receber os alimentos saudáveis. “As restrições não devem ser absolutas e são feitas por um curto período de tempo, três dias no máximo, que podem ser repetidos periodicamente. Depois disso, o paciente aprende a moderar sal, açúcar, farinha de trigo e gorduras. Não é preciso tomar somente líquido para atingir resultados significativos”, acredita Gebrimm.
O especialista comenta que atende diariamente homens e mulheres que passaram por falsas dietas desintoxicantes — muitas delas baseadas em um regime de semi-inanição, que debilita o organismo e produz um efeito desastroso. Em vez de prevenir, promovem as doenças. “É claro que se perde peso. Afinal, não se ingere quase nada. Mas esse é um comportamento de risco e os quilos perdidos voltam revigorados. O interessante é conquistar os bons hábitos e se exercitar sempre. O equilíbrio vem nas duas esferas: corporal e emocional”, afirma o médico, que aconselha, dependendo do caso, a lavagem intestinal no começo do tratamento.
O engenheiro de produção Roberto Nunes, 30 anos, conheceu os dois lados da moeda. “Fiz os mais loucos regimes, inclusive esses denominados de desintoxicação. Ingeria líquidos e bania do cardápio proteínas e carboidratos. Mal a dieta acabava, meus quilos voltavam em dobro”, conta. Roberto não acreditava que a ajuda de um especialista poderia fazer toda a diferença, mas procurou um nutrólogo como última cartada. “Depois de um ano de acompanhamento, emagreci 15kg. Aprendi a me alimentar, faço uma desintoxicação a cada 30 dias e me sinto outra pessoa. A perda de peso trouxe mais do que benefícios estéticos. Me sinto mais disposto e preparado para as pressões diárias”, pondera.
EcoDebate, 25/01/2011
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