O aterro-lixão de Terra de Areia-RS, artigo de Ana Echevenguá
[Ecodebate] Segunda-feira. 8 horas da manhã. Quase 30 graus. Fomos a Terra de Areia, no Rio Grande do Sul, conhecer o lixão que recepciona o lixo urbano de Passo de Torres.
Nosso grupo era composto do Secretário Municipal de Saúde, do encarregado da Vigilância Sanitária e do diretor do jornal Nortesul. A nova prefeita da cidade, Janaína Silveira Scheffer, estava presente. Uma das bombas que está em suas mãos é o problema do lixo, que já virou caso de polícia.
Putz! Pegamos a estrada errada e caímos no lixão de Capão da Canoa. Fétido. Sujo. Eivado de crimes ambientais. Mas ouvimos aquele discurso de fazer o social, trabalhar com reciclagem, ajudar os trabalhadores que não são empregados mas donos de uma cooperativa…
A prefeita suspirou: ainda bem que não era ali que estava o lixo da sua terra!!
Voltamos pra estrada. Perguntamos pro motorista de um caminhão de lixo e ele nos ensinou onde era o lixão de Terra de Areia: “dobra pra esquerda e vai… é mais adiante, lá no Canto da Coruja”.
Fizemos isso. No meio das árvores, já vimos a montanha de lixo a céu aberto. Nem vou falar do cheiro…
Mas a placa na frente do empreendimento atestava que o lixão está licenciado até 2014**. Já sabíamos disso porque a empresa já enviou a papelada pra participar da futura licitação para destino e tratamento do lixo que Passo de Torres está promovendo.
Conversando com o técnico, ele também nos contou que faz o social: a reciclagem garante o sustento de 58 trabalhadores; atende a 6 municípios; recebe, em média, 85 toneladas diárias de lixo no verão; faz a coisa certa, dentro da lei… e que o grande problema dele é a chuva!
Só que não precisa ser expert pra perceber – através da visão e do olfato – que todo aquele blablablá era mentira. Ele recebe, cata, vende o que dá pra vender e o restante ele joga no lixão…
O lixo de Passo de Torres chegou até lá porque o transportador do lixo ajeitou as coisas. Tudo de boca. Não tem contrato nem nada.
Quando eu disse que estava satisfeita com tudo o que vira e ouvira, ele finalizou seu discurso com a ‘grande novidade’: – eu vou fazer um igual a esse ali no Sombrio-SC. Já ta tudo arranjado!
Sabendo como nosso órgão licenciador funciona, e da omissão generalizada, entendi que ele tava falando a verdade!
** –http://www.fepam.rs.gov.br/spogweb/e016/licenciamento.asp?atan=26461
Ana Echevenguá, advogada ambientalista, presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Águas, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: http://www.ecoeacao.com.br.
EcoDebate, 20/01/2011
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