Impactos ambientais do crescimento populacional e econômico de longo prazo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[Ecodebate] A população mundial cresceu 4 vezes no século XX, passando de cerca de 1,5 bilhão em 1900, para 6 bilhões, no ano 2000. Isto significou um crescimento médio geométrico de 1,4% ao ano.
Mas o crescimento da economia (Produto Interno Bruto – PIB) deu um pulo de pouco mais de 18 vezes, representando um crescimento médio geométrico de 3% ao ano. Isto quer dizer que o crescimento da renda per capita média da população mundial aumentou 4,7 vezes, ou um aumento médio geométrico de 1,6% ao ano.
Não é preciso dizer que o impacto da economia sobre o meio ambiente foi muito maior do que o impacto do crescimento populacional. Ou dito de outra forma, o impacto do crescimento da renda per capita foi maior do que o simples impacto do crescimento da população.
Entre 1900 e 1950, por conta das duas grandes guerras mundiais, o PIB mundial multiplicou-se por apenas 2,7 vezes. Já na segunda metade do século XX o PIB mundial cresceu quase 7 vezes. As economias avançadas (países ocidentais mais o Japão) também cresceram 18 vezes, sendo cerca de 3 vezes na primeira metade do século e cerca de 6 vezes na segunda metade. O PIB da América Latina cresceu 42 vezes, sendo 6 e 7 vezes, nas duas metades do século passado. A Índia cresceu cerca de 12 vezes, sendo apenas 1,3 vezes antes da independência e 9 vezes na segunda metade do século XX. Já a China, cresceu apenas 1,1 vezes (10%) na primeira metade do século passado, quando passou por grandes transformações (inclusive com a invasão japonesa na Manchúria). Mas na segunda metade do século passado – particurlamente pelo grande ritmo iniciado após as reformas dos anos 70 – cresceu 19 vezes.
Como será o crescimento populacional e economico no século XXI?
A população mundial deve passar de cerca de 7 bilhões de habitantes, em 2011, para 9 bilhões, em 2050 e pode se estabilizar nos cinquenta anos seguintes. O crescimento ficaria em 1,5 vezes no século.
Já o crescimento econômico pode bater todos os recordes históricos. O PIB mundial foi contabilizado em US$ 62 trilhões em 2010, sendo que o crescimento médio foi de 3,6% ao ano, entre 2001 e 2010, segundo dados do FMI.
Se este crescimento médio continuar nos próximos 40 anos, o PIB mundial terá um desempenho multiplicado por quase 6 vezes em cada metade do século XXI. Para o total do século teríamos um crescimento do PIB de 34 vezes, bem acima das 18 vezes do século passado. O PIB mundial iria para US$ 2.108 trilhões (ou 2,1 quatrilhões de dólares, nos valores de 2010).
Este crescimento seria liderado pelos dois países mais populosos do mundo. Entre 2001 e 2010 a economia da Índia cresceu em torno de 7,4% ao ano e da China cresceu em torno de 10% ao ano. Mas bastaria crescer 7% ao ano para dobrar em uma década, para multiplicar por 4 em 20 anos, por 8 em 30 anos, por 16 em 40 anos e 32 vezes em 50 anos. Ou seja, o crescimento é exponencial e algo em torno de 7% de crescimento, ao ano, daria um múltiplo de cerca de 1.000 vezes em um século. Evidentemente, Índia e China não devem ter fôlego para continuar no ritmo atual e devem reduzir o crescimento. Mas bastaria taxas anuais de 3,6% ao ano para o PIB crescer 32 vezes em um século.
Portanto, um PIB mundial de 2 quatrilhões de dólares seria um desdobramento lógico do que vem acontecendo nos últimos 60 anos, período posterior à segunda guerra mundial. Mas a questão que se coloca é: o Planeta Terra pode suportar um crescimento econômico de tal monta? Evidentemente, a resposta não é simples, pois é muito dificil prever o futuro e as mudanças que acontecem na sociedade, na tecnologia e na cultura.
Mas o objetivo do exercício matemático apresentado neste artigo serve apenas mostrar que, se a Pegada Ecológica do mundo já superava em 30% a capacidade de regeneração do Planeta, no ano de 2007, ela sofrerá um impacto muito maior mesmo com a populacão crescendo apenas 1,5 vezes, mas com a perspectiva de a economia crescer 32 vezes no século XXI.
Enfim, o meio ambiente e a biodiversidade já estão sofrendo com a situação atual da população e da economia mundial. No modelo atual de produção e consumo a Terra já está sobrecarregada. É cada vez mais óbvio que não dá para continuar com o mesmo padrão de atividades antropogências. Mas o que fazer diante das perspectivas acima? Será possível crescer sem provocar um impacto ainda maior no meio ambiente?
Referências dos dados utilizados:
Angus Maddison, Evidence submitted to the Select Committee on Economic Affairs, House of Lords, London, for the inquiry into “Aspects of the Economics of Climate Change”, 20th February 2005.
UN/ESA. World Population Prospects: The 2008 Revision,
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; As opiniões deste artigo são do autor e não refletem necessariamente aquelas da instituição.
E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
EcoDebate, 20/01/2011
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