Sete bilhões de habitantes em 2011, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[Ecodebate] O mundo deve alcançar 7.000.000.000 (7 bilhões) de habitantes em 2011.
Esta é a projeção da divisão de população da ONU. O mundo alcançou o seu primeiro bilhão de habitantes por volta de 1804. A humanidade levou milhões de anos de evolução para chegar a este número. O segundo bilhão de habitantes aconteceu em 1924. Portanto, gastou-se 118 anos para se acrescentar mais um bilhão de pessoas. O terceiro bilhão de habitantes do mundo aconteceu em 1959, 37 anos depois do segundo bilhão. O quarto bilhão de habitantes aconteceu em 1974, 15 anos depois do terceiro bilhão. O quinto bilhão de habitantes do mundo aconteceu em 1987, 13 anos depois do quarto bilhão. O sexto bilhão aconteceu em 1999, 12 anos depois do quinto bilhão. O sétimo bilhão de habitantes do mundo deve ser atingido no quarto trimestre de 2011, também 12 anos depois do bilhão anterior (Global Population Profile, US Census Bureau).
Em 2010, nasceram, no ano, 132 milhões de crianças e morreram 56 milhões de pessoas no mundo. Isto significa um incremento natural de 76 milhões de pessoas (quase uma Alemanha) durante o ano de 2010. Ou 6,3 milhões por mês (um Paraguai). Ou 209 mil por dia (quase uma Islândia). Ou 8,7 mil novos habitantes por hora (quase o tamanho de Tuvalu), ou 145 pessoas por minuto, ou 2,4 pessoas por segundo (World Vital Eventes – Census Bureau).
A maior parte do incremento natural tem acontecido nos países menos desenvolvidos e mais pobres. Infelizmente, muitos dos filhos que nascem no mundo são frutos de uma gravidez indesejada ou até mesmo de relações sexuais forçadas e violentas. Em geral, os países com fecundidade mais elevada são aqueles onde as mulheres e os casais carecem de serviços de saúde sexual e reprodutiva e são grandes as necessidades não satisfeitas de contracepção. Para muitas mulheres, a interrupção da gravidez se torna uma alternativa perigosa, pois, quando recorrem ao aborto inseguro, acabam aumentando as estatísticas da mortalidade materna.
O fato é que são os países mais pobres, especialmente alguns africanos e asiáticos, que apresentam as maiores taxas de crescimento demográfico. A África tem cerca de 1 bilhão de habitantes atualmente. Deve passar para 2 bilhões em 2050 e pode chegar a 3 bilhões antes do final do século XXI. O impacto desta população crescente sobre o aquecimento global tem sido baixo, mas a pressão sobre a terra e a água é cada vez maior. Nestes casos, o crescimento populacional elevado tem como resultado o aumento da pobreza, o crescimento da exclusão social e o agravamento dos problemas ambientais e a perda da biodiversidade.
Já os países ricos trocaram o crescimento populacional pelo crescimento do consumo. Os países do G-7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá) com 11% da população mundial detinham 50% do PIB mundial (medido em poder de paridade de compra), em 2000. Esta alta concentração da produção e do consumo em poucos países está mudando e a participação do G-7 na economia mundial caiu para cerca de 40% em 2010 e deve chegar a a menos de 30% até 2030. O G-7 vai perder posição relativa, mas o volume absoluto de produção e consumo provavelmente vai continuar aumentando.
O que já está acontecendo e vai continuar acontecendo nas próximas décadas é um aumento elevado da produção e do consumo nos países em desenvolvimento, especialmente na China e na Índia (na chamada Chíndia). O aumento da renda e da economia nos países em desenvolvimento é bom para o combate à pobreza, quando acompanhado de políticas sociais de inclusão social. Mas a pressão sobre o meio ambiente pode se tornar insuportável.
A China, por exemplo, tinha uma população muito grande, mas um consumo per capita muito baixo até 1970. Isto quer dizer que a Pegada Ecológica da China era baixa. Mas desde as reformas lideradas por Deng Xiaoping, a China optou pelo baixo crescimento populacional e pelo alto crescimento da economia e do consumo. Assim, a China sozinha vai precisar, dentro de pouco tempo, de um Planeta inteiro para atender sua febre de produção e consumo.
Algo parecido está acontecendo com a Índia que está seguindo o modelo chinês de crescimento da produção e do consumo. Mas com uma diferença: a população da Índia continua crescendo, vai ultrapassar a população da China até o ano de 2028, quando ambos os países terão por volta de 1,46 bilhão de habitantes. Mas a China vai ter declínio da população a partir da década de 2030 e a população da Índia deve continuar crescendo (se não houver uma queda signifcativa da fecundidade) e pode chegar a 2 bilhões de habitantes ainda no século XXI. A pressão do consumo crescente destes dois países, que são os dois mais populosos do mundo, vai significar um impacto incalculável sobre o meio ambiente.
O Brasil tem uma situação demográfica privilegiada, pois tem um território grande e uma densidade demográfica de apenas 23 habitantes por km2 (contra 51 hab/km2 do mundo em 2010) e uma população que vai se estabilizar ou começar a declinar já na década de 2030. As pressões sobre o meio ambiente do país não são tão grandes como nos países citados anteriormente. Mas o Brasil precisa cuidar do padrão de produção e consumo para reduzir a sua Pegada Ecológica e garantir a sustentabilidade ambiental, pois o país está longe de uma situação ideal.
O Brasil é um grande país e tem muita terra e água disponíveis, mas também tem muita gente vivendo em assentamentos precários e em áreas de risco. As trajédias climáticas que estão se repetindo e se agravando a cada ano no país são, “naturalmente”, frutos da falta de planejamento e controle urbano e da degradação dos recursos naturais. O problema mais sério do Brasil não é, evidentemente, o tamanho da sua população, mas as suas condições sociais, sua distribuição espacial e a capacidade de governança de seus dirigentes.
O mundo chegar a 7 bilhões de habitantes com aumento da esperança de vida da população não deixa de ser uma grande vitória contra a mortalidade precoce. Mas a continuidade do crescimento demográfico desregrado e o agravamento das condições ambientais é um perigo que deve ser evitado. Muitas espécies vegetais e animais pagaram com a extinção o “sucesso” das atividades humanas na Terra. Mais importante do que ter uma população grande é ter a grandeza de saber compartilhar o nosso habitat comum, cuidar da saúde do Planeta e conviver em paz e harmonia com todos os seres vivos do mundo.
Referências:
Global Population Profile 2002 – US Census Bureau
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate,é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
EcoDebate, 18/01/2011
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