Ciência e Tecnologia, enfim? artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] A comoção com os novos desabamentos, no Rio, provocou pelo menos uma proposta nova de enfrentamento do problema. Nova porque vem de um Ministro do governo, o que significa um compromisso que pode ser cobrado pela população, eis que se partisse da oposição poderia parecer oportunismo ou demagogia.
Quem se responsabilizou foi o Ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, essa semana, prometendo criar um grande programa de previsão de catástrofes naturais. Avaliando que mais de 60 % dos desastres naturais brasileiros são enchentes e desmoronamento de encostas, dimensionou a questão em cerca de 500 áreas de risco e 5 milhões de pessoas expostas.
A estratégia inclui a aquisição de um supercomputador para o Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – que permita a elaboração de um “georreferenciamento” de áreas de risco e uma previsão metereológica capaz de antecipar os fenômenos, a tempo de acionar a Defesa Civil e até as Forças Armadas. Por fim, propôs ainda medidas que envolvem outras áreas do governo, como é o caso de medidas fiscais que incentivem modos de produção que reduzam as emissões dos “gases-estufa”.
Muito importante, nessa notícia, é o fato de ter partido da pasta de Ciência e Tecnologia e não de uma área ligada à assistência social, por exemplo, tradicionalmente acionada a posteriori nas tragédias. Aliás, uma área social do governo fundamental é a da Habitação, mas para agir preventivamente, com planejamento (o que não vem ocorrendo, nesses casos). Isso é o que deve diferenciar o século XXI dos precedentes, pois até agora só nos dedicamos a problemas depois que eles acontecem. A assistência a vítimas, afinal, só se torna necessária porque não usamos os recursos de que a ciência já dispõe, hoje, para a prevenção das tragédias. Da geologia à engenharia, inclusive.
A humanidade já passou por eras muito primitivas e até por uma “idade das trevas” de mil anos – do século V ao XV – onde a busca pelo conhecimento não foi valorizada e até poderia ser uma heresia, como aconteceu com Giordano Bruno, queimado pela Inquisição. Séculos de “modernidade” trouxeram a esperança de que a ciência possa solucionar os nossos dramas. Aliás, a humanidade hoje detém conhecimentos para que ninguém mais, no mundo, precisasse passar fome. Resta, apenas, colocar esses conhecimentos em prática. Assim como, na história, foi necessário heroísmo para o progresso da ciência, agora que ela está tão desenvolvida, falta ser plenamente colocada a serviço da população. Conclui-se que precisamos de uma nova espécie de lideranças, hoje, que usem em políticas públicas o “patrimônio científico” acumulado. Líderes que o fizerem, de fato, passarão à história como os primeiros “heróis” do tempo em que não precisaremos mais de vítimas de tragédias previsíveis, para só agir depois.
Montserrat Martins, articulista do EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 18/01/2011
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