Pulsação do Brasil em mudança, artigo de Bruno Peron
[EcoDebate] Gozamos profusamente da internet por ironia dos caminhos da tecnologia. Até então aquela havia sido formulada, em torno de 1989, como recurso militar de descentralização de informação estratégica nos EUA em tempos de guerra fria.
Acesso frequentemente notícias e opiniões de portais e blogs da Argentina, Peru, Venezuela, México, Nicarágua, República Dominicana, entre tantos outros países de onde chegam apenas rumores caso me informe pelos decadentes meios convencionais.
Jornais locais mastigam parágrafos das principais agências de notícias nacionais, Estado e Folha, que acreditam na prevalência da Economia (“O PIB do país aumentou ou caiu tanto”; “o ministro da Fazenda disse que…”) sobre qualquer outro aspecto que o jornalismo tem o dever de relatar.
Não fosse a ferramenta da internet, seria difícil conhecer o outro lado, visões alheias ou até mesmo o que passa entre nossos países vizinhos, uma vez que o serviço de televisão por assinatura NET oferece nada mais que os enlatados estadunidenses e alguns obsoletos canais europeus. É de péssima qualidade. Para encobrir a falta, vêm com esse papo de “Digital”, “HD”, “Full HD”…
Não é possível que esta empresa monopólica de televisão por assinatura no Brasil não transmita um único canal da Venezuela ou da Colômbia ou da Argentina ou do Chile. No lugar, programas estadunidenses intercalados com carga elevada – e extenuante – de publicidade.
Algo parecido acontece com a rádio tupinica, visto que a maioria das estações de FM reveza de cinco a dez canções diariamente junto com a divulgação insuportável de empresas e serviços. Outra máfia. O governo sempre dificulta a transmissão das rádios comunitárias. É mais fácil gravar um disco compacto (vulgo “CD”) com vinte canções ou então em MP3 com mais de cem e tocar.
Esse processo de sectarismo tende a desmoronar-se quando cai a máscara do ídolo EUA. O vazamento das conversas diplomáticas deste país por Wikileaks alcança, desta vez, os mais crédulos no sistema gringo. A menos que sejam tão crentes a ponto de beirar a imbecilidade. EUA zomba-se de e interfere no mundo todo a fim de vender suas mercadorias. Sem novidades.
O Brasil será, para uns, o “coração do mundo”; para outros idealistas, “país do futuro”. Para mim, é um país sangrado até o limite porque se acomodou com um povo esperto, malandro e que culpa os outros da própria desgraça. O que será? Não sei. Tomara que estejam certos os idealistas. Para isso, é preciso renovar a tripulação começando pela extinção dos lobistas de governo.
A indústria madeireira de eucaliptos na rodovia estadual (e cedida ao lucro pelo corrupto sistema de concessões, onde o governo tira o corpo dos gastos sem reduzir impostos) entre Anhembi e Botucatu, interior paulista, atesta a minha versão. O “deserto verde” logo se converte em voçorocas ou terras inférteis e a exaustão dos recursos da terra.
O país é o maior exportador mundial de carne bovina. A aprovação precipitada pelo Congresso Nacional de nova lei ambiental que descriminaliza a derrubada de árvores no Norte do país para a pecuária é um sinal verde para o crime. Ser parlamentar no Brasil é um grande negócio. Eles mesmos presentearam-se com 60% de aumento de salário.
A política é uma tarefa árdua, mas não é profissão. Deputados e senadores deveriam ganhar o mínimo possível para sobrevivência. A função jamais deveria ser confundida com carreira, mas um dever cívico ou uma forma alternada de cidadãos tupinicas discutirem e legislarem sobre o Brasil.
Falta competência para propor um Brasil para os tupinicas e não um Brasil que exporta a maior parte das riquezas naturais e nos deixa preços elevados de álcool combustível e alimentos básicos, como carne e queijo. O país sofreu, nos últimos meses, aumento ostensivo dos preços destes produtos. Há segmentos sérios e comprometidos com a humanidade, porém.
A diplomacia tupinica uniu-se à da maioria dos países sul-americanos para apoiar a criação do Estado palestino. Os israelenses expandem-se e oprimem o povo árabe do Oriente Médio, que pede ajuda internacional. O impasse entre árabes e judeus encontra nova brecha para a paz.
É preciso que o Brasil migre de uma paz insólita à paz real, ou seja, que seu povo reconheça quanto é explorado e conivente a fim de destituir os corsários e defender suas riquezas.
Sem este precedente, não há moral para meter-nos no conflito milenar e irresoluto do Oriente Médio e quem sabe comecemos a pulsar como “coração do mundo”.
* Colaboração de Bruno Peron, mestre em Estudos Latino-americanos, para o EcoDebate, 11/01/2011
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