The New York Times: Recessão teve forte impacto no setor de calças jeans ecológicas
Quando a onda verde varria a indústria da moda, o que não faltava eram opções de calças jeans ecológicas; atualmente, poucas são as empresas que continuam com os produtos
Dois anos atrás, quando a onda verde varria a indústria da moda, o que não faltava eram opções de calças jeans ecológicas. Marcas como a Levi’s, a Banana Republic, a Genetic Denim, a 7 For All Mankind, a Earnest Sewn, a Aristocrat, a Loomstate, a Del Forte e a Jbrand ofereciam no mínimo um modelo feito com pelo menos uma parcela de algodão orgânico, que é cultivado sem o uso de produtos químicos que ameaçam o meio ambiente (de acordo com o Projeto Algodão Sustentável, uma organização não governamental, o cultivo do algodão convencional é responsável pelo uso de 25% de todos os pesticidas e fertilizantes do mundo). Reportagem de Alexandra Zissu, The New York Times.
Atualmente, porém, nenhuma dessas marcas oferece mais essa alternativa. O que faz com que se pergunte: onde foi parar todo aquele denim orgânico?
Algumas fábricas menores foram esmagadas pela recessão e por um mercado saturado.
“Em um período de 12 meses, eu perdi de 25% a 30% da minha clientela por causa do fechamento das lojas e da redução das encomendas. Os clientes passaram a procurar produtos mais baratos”, diz Tierra Del Forte, que acabou com a sua linha de calças jeans ecológicas, a Del Forte, em 2009.
Mas outras companhias estão voltando as suas atenções para além do algodão, e concentrando-se no processo integral de fabricação, de acordo com LaRhea Pepper, diretora da Textile Exchange (que antigamente chamava-se Organic Exchange), uma organização sem fins lucrativos que defende a difusão da agricultura orgânica.
Entre os fatores atualmente levados em consideração estão o uso da água, o impacto dos corantes, a saúde dos solos, questões trabalhistas e comércio justo.
“Houve uma mudança de paradigma: a preocupação agora é com a água, os resíduos tóxicos e retalhos no local de produção”, afirma Pepper. “Temos visto várias companhias descobrindo como fazer a coisa certa, de uma maneira economicamente viável, fazendo com que essa agenda progrida e provocando uma diferença relevante”.
A linha Eco da Levi’s foi cancelada, mas a companhia continua a usar um pouco de algodão orgânico enquanto reformula as suas ações de cunho ecológico.
“Nós estamos pretendendo causar um impacto maior”, diz Michael Kobori, vice-presidente de sustentabilidade social e ambiental da Levi Strauss.
Juntamente com a H&M, a Adidas e a Nike, a Levi’s passou a integrar a Better Cotton Initiative, uma outra organização sem fins lucrativos, focada em técnicas agrícolas sustentáveis, no uso de água e em questões econômicas e trabalhistas. Kobori diz que as iniciativas tomadas por fazendas de algodão na Índia e no Paquistão provocaram uma redução de um terço do uso de produtos químicos e água. O produto resultante, um tecido de algodão chamado Better Cotton, provavelmente não será utilizado nos modelos da Levi’s antes da primavera do hemisfério norte de 2012, e a princípio ele será misturado ao algodão convencional. Mas a meta é usá-lo em todas as roupas fabricadas pela companhia.
“Nós queremos modificar a maneira como o algodão é cultivado em todo o mundo”, explica Kobori. “Todo algodão pode ser cultivado desta forma”.
Os lojistas que não estiverem interessados em uma gratificação atrasada podem comprar a nova calça jeans Water(LESS)Less, da Levi’s, que será vendida no comércio varejista por preços que variam de US$ 50 (R$ 83,75 ) a US$ 130 (R$ 217,75), a partir deste mês. Os vincos e desbotamento são feitos com pouco ou nenhum uso de água, afirma Kobori, o que implica em uma economia média de 10 litros de água por peça. A companhia também defende um visual mais “sujo” para as suas calças; uma pesquisa de durabilidade feita com os modelos 501s e Dockers revelou que a maior utilização de água ocorre durante a lavagem das calças jeans. Assim, a Levi’s está pedindo aos consumidores que as lavem menos, e os seus rótulos trazem agora a inscrição: “Lave em água fria. Seque em varal. Doe para a uma organização filantrópica quando não precisar mais desta peça” (e não se esqueça do detergente ecológico).
Carecendo dos recursos globais da Levi’s, o designer Rogan Gregory deixou de usar o denim orgânico na sua marca que ele descreve como “ambientalmente e socialmente consciente”, a Loomstate.
“Para quem não é um grande fabricante, é difícil colocar isso em prática”, afirma Gregory.
Ele também se preocupa com os detalhes do tecido; o algodão orgânico possui uma fibra mais curta do que o algodão convencional ou geneticamente modificado, o que faz com que seja mais difícil transformá-lo em tecido.
“Ele se desagrega, é mais solto e mais macio”, explica Gregory. “Eu achava que isso fazia parte do charme do produto, mas o mercado não é tolerante”.
O algodão orgânico continua sendo usado nas confecções da Loomstate (“Em se tratando de vestidos, não é necessária uma precisão de um centímetro para que a roupa se ajuste à freguesa”, diz o designer), mas Gregory também recorreu a outras opções, como os tecidos reutilizáveis.
“Eu aposto que daqui a dez ou 20 anos, o algodão será retirado do mercado”, diz Gregory. “Eles encontrarão maneiras de simular e replicar os benefícios do algodão, eliminando as desvantagens deste produto”.
Para aqueles que não se dispõe a experimentar a calça jeans mais ecológica de todas – os modelos “vintage” – existem ainda algumas marcas que usam denim orgânico. A calça da Patagonia, para passeios ao ar livre, custa US$ 79 (R$ 132,33); a da Edun, para pessoas de pernas longas, sai por US$ 198 (R$ 331,65); o modelo sem adornos da Nau pode ser adquirido por US$ 180 (R$ 301,50) e os modelos da linha “chic-and-tidy” da Eileen, apropriadamente versáteis, por preços que variam de US$ 158 (R$ 264,65) a US$ 168 (R$ 281,40).
No bairro de Lower East Side, de Nova York, a butique ecológica Kaight vende modelos da Linda Loudermilk, Prairie Underground, Good Society e alguns que não são mais fabricados, cada um deles por menos de US$ 200 (R$ 335). Segundo a proprietária da Kaight, Kate McGregor, os tecidos orgânicos se esticam com o tempo, de forma que ela sugere que o freguês compre peças com de um tamanho menor do que o usual.
Mas o processo de “esverdeamento” das calças jeans contem uma quantidade suficiente de áreas cinzentas para fazer com que as companhias achem melhor continuar fazendo silêncio sobre esse assunto.
“Em se tratando de marketing, e especialmente de moda, é preciso ter cuidado para não forçar a barra”, afirma Gregory. “A coisa ainda tem que girar em torno da moda vinculada a determinada roupa. No caso de alimentos, é diferente – a gente os consume, é uma questão de qualidade. Mas quando o negócio é roupa, o consumidor diz: ‘Eu sei que isso pode ser ruim para o meio ambiente, mas esta peça faz com que o meu bumbum fique perfeito’”.
Tradução: UOL
Reportagem do New York Times, no UOL Notícias.
EcoDebate, 07/01/2011
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