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Artigo

Sonhos, realidade e pesadelos, artigo de Juacy Silva

[EcoDebate] Durante as diversas posses ocorridas no dia primeiro deste ano o povo brasileiro teve a oportunidade de ouvir muitos sonhos, devaneios, utopias, promessas como soe ocorrer em solenidades deste tipo. É comum também que os novos ocupantes de cargos esbanjem elogios e enalteçam as qualidades de quem está saindo, principalmente se ambos ou ambas forem do mesmo partido ou grupo político.

Discursos de posse são verdadeiras obras literárias, elaborados com esmero, costumam passar pelo crivo de assessores, especialistas em comunicação e em psicologia das massas, pois os mesmos têm a finalidade de despertar emoções positivas tanto em relação aos novos ocupantes desses altos cargos quanto ao futuro governo. É uma espécie de busca de adesão ou as bases de um novo pacto social, econômico e político. Daí a ênfase em “governar para todos/as”.

Outro aspecto que pode ser destacado nesses discursos é a capacidade que o orador ou oradora tem para convencer os ouvintes para suas promessas, as quais passam a ser diretrizes de governo, incluindo o rumo que o novo governante busca indicar.

Assim, é interessante tomar como referência de análise os dois discursos da Presidente Dilma, o primeiro no Congresso Nacional quando foi formalmente empossada como a primeira mulher presidente do Brasil e o segundo na transmissão de cargo, quando recebeu de seu antecessor e também mentor, a faixa presidencial, símbolo da autoridade máxima do país, incluindo a função de comandante-em-chefe das Forças Armadas, que representa a instância maior do emprego violento do poder nacional, interna e externamente.

Gostaria de destacar alguns pontos dos discursos da Presidente Dilma, que devem ser guardados para serem conferidos não apenas no final de seu governo, mas também ao longo desses próximos quatro anos. É a régua que deverá ser usada para medir os progressos ou retrocessos de seu mandato.

Primeiro, o destaque especial que deu a questão da mulher, não apenas pelo fato de ser a primeira mulher eleita presidente da Republica, mas o seu empenho em fazer da luta pelos direitos da mulher um de seus grandes compromissos de governo.

Segundo, combater e erradicar a miséria, a fome e resgatar milhões de famílias que ainda estão abaixo da linha de pobreza, consideradas por Dilma como uma vergonha nacional, apesar do esforço e das ações de seu antecessor; terceiro, lutar pela qualidade da educação em todos os níveis; quarto consolidar o SUS para melhor atender as necessidades do povo; quinto combater a criminalidade, sexto, avançar no desenvolvimento científico e tecnológico, sétimo, apoiar a inovação e competitividade das empresas nacionais, incluindo as grandes que exportam quanto à micro e pequenas que geram oportunidades de emprego; oitavo, promover as reformas política e tributária, nono, promover o desenvolvimento regional; décimo, combater a corrupção e não tolerar a discriminação, os privilégios e o compadrio.

Como princípios norteadores de seu governo, além do que já consta da Constituição Federal, que jurou defender e respeitar, juntamente com o ordenamento jurídico nacional, disse de forma clara que seu governo deverá ser avaliado e irá se pautar por justiça social, moralidade, conhecimento, inovação, criatividade, os quais serão conceitos novos no dia-a-dia da nova administração. Finalmente, cabe destaque a questão ambiental que na concepção de Dilma deve fazer parte do novo modelo de desenvolvimento, principalmente em relação à Amazônia e ao Cerrado.

Para que seu discurso seja transformado em realidade, Dilma deverá estar sempre atenta aos apetites políticos dos diversos partidos, correntes e blocos de poder, os quais costumam pautar suas ações não por princípios éticos, mas pelo fisiologismo, pela partilha de cargos como moeda de troca parlamentar ou um botim a ser dividido nas caladas da noite e nas alcovas do poder.

Ai é que a “coisa pega” como se costuma dizer, onde a porca torce o rabo. Neste sentido existe um discurso para a platéia, cheia de princípios éticos e uma pratica mais cruel e imoral estabelecida nos bastidores, onde os golpes baixos podem neutralizar todos os sonhos e devaneios transformando as belas palavras e os sonhos em um grande pesadelo. Talvez um dos maiores desafios de Dilma seja libertar-se da tutela de seu partido, o PT e do ex- Presidente Lula, para que de fato seu governo tenha uma cara diferente e não uma mera caricatura do passado recente. Vamos aguardar o desenvolvimento das ações de governo e acompanhar de perto o que vai acontecer de fato nesses quatro anos!

JUACY DA SILVA, professor universitário, mestre em sociologia, colaborador de A Gazeta. Site www.justicaesolidariedade.com.br E-mail professor.juacy{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 07/01/2011


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