As promessas nossas de cada dia ou de cada ano, artigo de Lélia Barbosa de Sousa Sá (Lia)
[EcoDebate] Existem diversos tipos de promessas e, é quase uma tradição, ao término de cada ano, fazermos promessas para o ano que se inicia. Dentre elas a mais freqüente é iniciar uma dieta. Afinal de contas, o verão chegou e é hora de mostrar o corpo esguio nas praias brasileiras, seja em Copacabana e Ipanema, no Rio de Janeiro; Guarujá, São Paulo; Praias dos Ingleses e Jurerê Internacional, em Florianópolis; Porto de Galinhas, em Alagoas; Praia do Futuro e Canoa Quebrada, no Ceará, e tantas outras que deixam os turistas de queixo caído.
A preocupação com a estética virou uma febre geral e o Brasil, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (Isaps) é o terceiro país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, vindo atrás somente da China e dos Estados Unidos.
A mídia apresenta centenas de mulheres siliconadas e musculosas, parecendo um homem ou de seios avantajados, que mais parecem dois balões ao ponto de estourar e, ainda, mulheres querendo ficar parecidas com celebridades. Em alguns casos é a forma mais curta de cumprir a promessa de emagrecer, de ficar mais bonita. Enfim, de fazer sucesso com a proximidade, também, do carnaval. É a corrida contra o relógio.
Em visita a um Blog destinado às mulheres, para minha surpresa, o item de promessas para 2011, que obteve mais votos foi de “ valorizar-se”. Achei muito interessante o fato das participantes do Blog estarem dando mais importância, neste final de ano, ao seu interior do que ao exterior. Não sei se o item “dieta” já foi cumprido ou se, realmente, as mulheres estão percebendo que nem sempre um corpo sarado é o fator mais importante para aumentar a auto estima ou conquistar um homem. As gordinhas tem lá as suas qualidades e atrativos que, muitas vezes, deixam os homens encantados e apaixonados. Portanto, a dieta é importante sim, mas não como uma obrigação ou apenas para quando o verão chegar ou, ainda, para agradar alguém. Ela deve ser feita, como um dos fatores para garantir a saúde.
Eu sei, por experiência própria, que as promessas de verão nem sempre são cumpridas. Muitas delas são esquecidas ao acordar do primeiro dia do ano. Talvez tenham sido feitas ao calor da emoção e, ao voltar para o estado normal, a realidade demonstre que não vai ser fácil cumpri-la. Certa vez comprei uma bicicleta ergométrica que acabou se transformando em cabide. Era para cumprir a promessa de fazer exercícios em casa e, assim, ganhar tempo. Por falta de estimulo, perdi tempo, dinheiro e acabei bastante frustrada.
Em 2010, assistimos muitas promessas serem feitas para os próximos 4 anos, pelos futuros governantes e legisladores deste país. Foram promessas de campanha há quase 190 milhões de brasileiros, conforme Censo 2010, do IBGE.
Diferentemente de outras, esperamos que essas promessas sejam cumpridas, afinal de contas todos os eleitos obtiveram êxito nas urnas, por conta das promessas feitas aos eleitores. Muito embora saibamos que, grande parte delas não serão cumpridas e que serviram tão somente para iludir o povo, é hora de ficarmos atentos e exercermos o direito de cobrança da contrapartida do voto que é torná-las realidade. Caso não realizadas é um bom motivo para reavaliar o candidato numa próxima eleição.
Na Biblia Sagrada, o Livro de Eclesiastes Cap. 5, Vs 5 nos diz ” É melhor não fazer voto do que fazer e não cumprir”, ou seja, é melhor não prometer nada do que fazer uma promessa e não cumprir. O não cumprimento de uma promessa faz com que a pessoa perca a credibilidade, o respeito e até uma amizade. Cumprir uma promessa é um ato de honradez. Eu costumo dizer que a minha palavra é mais importante do que a minha assinatura, porque esta eu posso apagar ou deletar, enquanto que a outra fica para sempre viva na minha consciência. Como pudemos constatar, cumprir promessas é um ato bíblico.
Outro tipo de promessa muito comum, principalmente, no Norte e Nordeste do Brasil é a feita aos diversos santos e o Santo Antonio é o mais requisitado. Confesso que nunca conheci alguém que casou porque fez promessa para o santo casamenteiro, embora tenha virado uma tradição, principalmente em época de São João. Coitado do santo, fica dias e dias de cabeça pra baixo…
Eu lembro que quando eu fiz vestibular para engenharia, minha tia fez uma promessa se, caso fosse aprovada, eu teria que acompanhar a procissão do Círio de Nazaré, descalça, com uma vela do meu tamanho, num trajeto de 5 kilometros sob um sol escaldante, num asfalto quente de quase 40 graus. Foi muito difícil e quase eu morro esmagada no meio de uma multidão de aproximadamente um milhão de pessoas, caminhando e se empurrando pelas ruas estreitas de Belém do Pará. Atualmente dois milhões de romeiros acompanham essa procissão. Quando eu soube da promessa fiquei em pânico, e só cumpri porque foi feita por uma pessoa de quem eu gosto muito. Depois disso, eu sempre aviso que, se quiserem fazer promessas para que eu alcance alguma coisa, que as cumpram. Afinal, quem faz a promessa deve assumir a responsabilidade por cumpri-la, muito embora eu ache que Deus não quer que façamos sacrifícios desse tipo, como forma de agradecimento, por uma graça alcançada.
E a promessa dos casais de ficarem juntos até que a morte os separem, na cerimônia de casamento? Atualmente é uma das mais quebradas. Eu fico triste porque ninguém é obrigado a prometer ficar junto com outra pessoa até o fim da vida. O casamento não é um ato obrigatório, mas um ato de amor. Quem disse que a solução para um casamento duradouro está nesse tipo de promessa? Eu acho que é uma responsabilidade muito grande para quem está preparado, imagina para quem não está? Assim, não deveria ser um ato obrigatório. Prometer ficar junto deveria ser sempre um ato espontâneo.
O fato de não serem obrigados “a prometer” ficarem juntos ”até que a morte nos separe”, mas tão somente viverem de forma a fortalecer e renovar a aliança, acredito que faria com que muitos casais ficassem juntos, de forma espontânea, até que a morte os separassem.
Existem também as promessas dos maridos de não tomarem mais cerveja com os amigos depois do trabalho; dos namorados de não traírem as namoradas; dos filhos adolescentes chegarem cedo da balada; dos políticos que vão melhorar a vida de todos, desde construir hospitais “cinco estrelas” até “trem bala”. Enfim, são tantas as promessas que, em algumas ocasiões o ato de prometer perdeu a credibilidade. Na campanha eleitoral de 2010 eu ouvi muitas pessoas falarem: “chega de tantas promessas, a gente que ver a prática, o nosso problema resolvido”.
O ano de 2011 chegou e, sem promessas vãs, sugiro nos unirmos e lutarmos pela construção de um mundo melhor, até que a “morte nos separe” desta vida que, como diz Gonzaguinha, é bonita…é bonita…é bonita.
Finalmente, convido a todos para deixarem, um pouco, as dietas de lado e “valorizar” a quem precisa ser valorizado, a começar por nós. Feliz Ano Novo!
Lélia Barbosa de Sousa Sá (Lia), paraense, engenheira civil e ex-presidente do CREA-DF.
EcoDebate, 03/01/2011
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