Dieta: Excesso de calorias, e não de carboidrato, é quem favorece o ganho de peso
Em busca de uma dieta para perder peso, muita gente corta drasticamente do cardápio o carboidrato, fonte de energia para as células. Estudos internacionais, porém, indicam que o problema está nos “acompanhamentos” gostosos e mais “gordinhos”
Belo Horizonte — Normalmente, a decisão de emagrecer é acompanhada por uma escolha equivocada. Como resolvem comer menos, muitas pessoas que estão acima do peso cortam da dieta todo tipo de massa, acreditando que o carboidrato engorda. Mas isso está longe de ser verdade. Estudos mostram que é o excesso de calorias, e não de carboidrato, que favorece o ganho de peso. “O problema é que a massa nunca está sozinha. Você não come só o macarrão, por exemplo. Coloca molho, carne, presunto, muçarela, sempre agrega alguma coisa”, explica a nutricionista Sônia Maria de Figueiredo, professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Reportagem no Correio Braziliense.
Carboidrato pode e deve fazer parte de uma dieta saudável, pois é fonte de energia para as células do nosso corpo. “É sempre importante ter fontes de carboidrato em todas as refeições”, afirma Sônia. A nutricionista esclarece que de 50% a 60% do que se come por dia (seja adulto, criança, diabético ou obeso) precisa ser carboidrato, já que ele é fundamental para nos dar disposição até nas atividades rotineiras. Para os atletas, a porcentagem ideal é ainda maior. Eles chegam a ingerir 75% de alimentos que têm como fonte principal o carboidrato. O restante se divide em gordura (25%) e proteína (15%). O nadador norte-americano Michael Phelps comia pelo menos 1kg de macarrão diariamente, metade na hora do almoço e a outra parte no jantar. Era o lhe dava energia para bater recordes e vencer as competições nas piscinas.
Cortar o carboidrato da alimentação, como fazem os seguidores de dietas “milagrosas”, pode gerar consequências gravíssimas para o organismo. O corpo começa a ficar sem massa magra, pois as células precisam consumir algo para ter fonte de energia, e isso resulta em uma falsa ideia de emagrecimento. “A pessoa emagrece porque perdeu a massa muscular, e não gordura. O resultado é rápido, mas nada saudável”, alerta a nutricionista Vanderli Marchioli, pesquisadora e coordenadora do curso de pós-graduação da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), no interior de São Paulo.
A longo prazo, o cardápio desequilibrado pode provocar danos irreversíveis à saúde. “Para suprir a falta de carboidrato, as pessoas se entopem de gordura e proteína. O rim não consegue absorver tudo e isso pode levar a um problema renal”, alerta Vanderli.
Outro motivo para ter o carboidrato como aliado é o reconhecimento de que ele pode, sim, ser útil em dietas voltadas para a perda de peso. Estudos publicados no New England Journal of Medicine (2003) e no Journal of the American Medical Association (1999) indicam que não há diferenças marcantes entre um cardápio com pouco carboidrato e um cardápio convencional, quando o objetivo é emagrecer. O que ajuda na diminuição do peso é a redução da quantidade de calorias ingeridas no dia. “Isso significa que uma saborosa refeição à base de massa, quando ingerida em porções apropriadas, pode ser inserida num programa de perda de peso”, afirma Vanderli.
Equilíbrio
Mais recente foi a divulgação do Consenso Científico sobre a Saudabilidade da Massa, no IV Congresso Mundial de Massas, realizado em outubro no Rio de Janeiro. “As dietas com sucesso em promover a redução de peso baseiam-se em proporções variáveis, adequadas e saudáveis de carboidratos, gorduras e proteínas. Todos esses três macronutrientes em equilíbrio são essenciais para uma dieta individualizada e que pode ser seguida ao longo da vida. Além disso, dietas muito pobres em carboidratos podem não ser seguras a longo prazo. Médicos, nutricionistas e outros profissionais de saúde devem recomendar refeições saudáveis com massas alimentícias que sejam variadas e balanceadas.” É o que diz o texto, assinado por 17 pesquisadores de várias partes do mundo, incluindo Vanderli.
As especialistas, no entanto, fazem uma ressalva. A recomendação é optar pelas massas integrais, que são ricas em fibras, vitamina e sais minerais, principalmente zinco. As fibras são responsáveis pela sensação de saciedade. “Elas demoram mais para sair do estômago e dão plenitude gástrica por mais tempo”, esclarece Sônia. Já o zinco atua no sistema imunológico e ajuda o indivíduo a ter uma saúde melhor. “Quando a gente tem falta de vitamina e sais mineirais, surge a fome oculta. É a fome que as células têm, mas elas não conseguem decifrar o código e fazem aumentar o apetite”, completa Vanderli. Por isso o melhor é diminuir a quantidade de massa comum no cardápio.
Os alimentos integrais, diferentemente dos tradicionais, têm em sua composição trigo moído com casca e podem ajudar na prevenção da obesidade por causa do baixo índice glicêmico (capacidade que a comida têm de aumentar a glicose no sangue). “A massa tipo integral dá estabilidade glicêmica e com isso há menos alterações no açúcar do sangue, menos liberação de insulina, maior formação de massa muscular e menor produção de massa de gordura”, informa a pesquisadora paulista.
A indústria de massas já percebeu que as pessoas estão mais preocupadas com a alimentação saudável — mais de 40% da população brasileira sofre com sobrepeso ou obesidade — e passou a investir em produtos diferenciados, com grãos e cereais, além dos integrais. Mas o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima), Cláudio Zanão, lamenta que ainda exista muito preconceito em relação aos alimentos integrais. “O macarrão integral fica escuro e muita gente não gosta. Isso é porque comemos primeiro com os olhos e depois com a boca.”
Carboidratos simples
São encontrados em doces como balas, pirulitos e chocolates, e aumentam com rapidez a taxa de glicose. Contraindicados para diabéticos.
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Carboidratos complexos
São chamados assim porque têm nutrientes (fibra, vitamina e sais minerais). Fazem com que o açúcar chegue mais lentamente ao sangue. Eles não estão apenas nas massas, como pão, bolo, macarrão e arroz. Outros inúmeros alimentos podem nos fornecer a energia necessária para o bom funcionamento das células. Exemplos: frutas, legumes e cereais. Até as folhas têm carboidrato, mas em menor quantidade.
CONSUMO DE MACARRÃO NO país
300 mil toneladas / ano
O gosto dos brasileiros
30% preferem espaguete
10% só comem penne
10% gostam de comprar parafuso
10% optam pelo gravatinha
CALORIAS DE PRATO COM MACARRÃO
Salada de macarrão temperada apenas com alho e azeite, acompanhada de verduras e legumes: 300 calorias
Macarrão à parisiense (molho branco, presunto,
frango e ervilha): 600 calorias
COMO O CARBOIDRATO CHEGA ÀS CÉLULAS
O alimento passa pelo sistema digestivo, onde é quebrado em partes menores
Na sequência, é absorvido em forma de glicose pelo intestino
Quando chega ao sangue, o pâncreas libera a insulina para que a glicose seja levada aos órgãos que precisam de energia
GlúteN
Entender que carboidrato não engorda é tão importante quanto saber que glúten não faz mal para todo mundo.
A substância presente na farinha de trigo é o que dá elasticidade à massa.
Só não deve ser consumida por quem tem a doença celíaca.
Cerca de 1% dos brasileiros têm intolerância ao glúten.
EcoDebate, 22/12/2010
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“O problema é que a massa nunca está sozinha. Você não come só o macarrão, por exemplo. Coloca molho, carne, presunto, muçarela, sempre agrega alguma coisa”
Pessoal mussarela com “ç”?????
Resposta do EcoDebate:
Caro Jorge,
No aportuguesamento da palavra italiana mozzarella, a grafia com “ç” é uma das consideradas corretas, embora menos usada do que mussarela.