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Conhecimento sobre anticoncepção de emergência entre jovens ainda é pequeno

A pesquisa, publicada em um periódico, apontou que 96% dos consultados já tinham ouvido falar sobre anticoncepção de emergência, apenas 19% sabiam para quais situações ele é indicado, 35% deles consideravam o método abortivo e 81% achavam que traz riscos à saúde. Os resultados também indicaram que menos da metade dos estudantes (40,7%) sabiam que a anticoncepção de emergência deveria ser usada até 72 horas do intercurso sexual desprotegido e cerca de 48% dos entrevistados achavam que a mulher tinha de 24 a 48 horas para usá-la

Apesar de estar incluída nas normas de planejamento familiar do Ministério da Saúde desde 1996, a anticoncepção de emergência é pouco utilizada no país. O pouco aproveitamento do método se deve a falta de informações sobre ele e a concepções errôneas sobre seu uso. Para ajudar a entender o conhecimento, a experiência e a opinião de jovens sobre o assunto, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo, da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade Federal de Goiás e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte consultaram 588 estudantes de medicina, enfermagem, nutrição e educação física nas próprias instituições. A pesquisa, publicada na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, apontou que 96% dos consultados já tinham ouvido falar sobre anticoncepção de emergência, apenas 19% sabiam para quais situações ele é indicado, 35% deles consideravam o método abortivo e 81% achavam que traz riscos à saúde.

“Dentre as várias formas de concepção existentes, a antioncepção de emergência é o método que previne gravidez após a relação sexual, podendo ser uma estratégia interessante para diminuir a incidência de gravidez indesejada e as taxas de aborto ilegais entre adolescentes”, comentam os pesquisadores. “Embora a contracepção de emergência seja um assunto polêmico, trata-se de um método seguro, tanto do ponto de vista dos riscos à saúde como em relação aos aspectos comportamentais”. Segundo os estudiosos, alguns profissionais de saúde seriam contra o método porque ele poderia promover comportamento sexual irresponsável. No entanto, diversos estudos já teriam assinalado o contrário.

“É um método efetivo, com indicações reservadas a situações especiais ou de exceção, cujo objetivo é prevenir a gravidez inoportuna ou indesejada após a relação sexual que, por alguma razão, foi desprotegida, oferecendo a adolescente uma segunda chance de evitar uma gestação não desejada”, elucidaram os estudiosos. “Observou-se neste trabalho que a média de vezes que as meninas utilizaram a concepção de emergência ficou próxima de duas (78% usaram até duas vezes), não parecendo, portanto, que as adolescentes utilizam o método como substituto de outros”.

Os resultados também indicaram que menos da metade dos estudantes (40,7%) sabiam que a anticoncepção de emergência deveria ser usada até 72 horas do intercurso sexual desprotegido e cerca de 48% dos entrevistados achavam que a mulher tinha de 24 a 48 horas para usá-la. “Possivelmente pela designação popular que chama a contracepção de emergência de ‘pílula do dia seguinte’, nome infeliz, que pode persuadir a adolescente a achar que só até o dia seguinte do ato sexual desprotegido a medicação fará algum efeito”, explicam os pesquisadores. Além disso, das 182 meninas que afirmaram conhecer o método, 41,8% referiram já ter feito uso dele; dentre os 143 meninos que também responderam ter conhecimento sobre o assunto, 22,4% relataram que a parceira tinha usado. “Os amigos ou o farmacêutico, em todas as regiões, foram as principais fontes de indicação de anticoncepção de emergência para a adolescente. Apenas 5,3% das meninas adquiriram o medicamento por meio de prescrição médica”, destacam os estudiosos.

Dentre os principais motivos do não uso, do não aconselhamento e de não saber se usariam ou aconselhariam, os jovens relataram a falta de informação sobre o método, os possíveis efeitos colaterais, as complicações para a mulher e para o feto no caso de gravidez e a percepção sobre a pílula ser abortiva. “Em todas as regiões, os riscos mais citados foram a malformação fetal em caso de uso de anticoncepção de emergência na vigência de gravidez e sangramento genital em grande quantidade”, dizem os pesquisadores. “Embora a grande maioria dos estudantes soubesse, pelo menos, uma situação na qual o método pode ser usado, apenas um quinto dos estudantes sabia precisamente todas as situações nas quais a concepção de emergência estava indicada. Menos da metade dos estudantes conhecia a real efetividade da anticoncepção de emergência quando comparada aos anticoncepcionais orais hormonais”.

Quanto aos adolescentes que nunca utilizaram o método, 47,1% das meninas declararam que usariam e 35,9% relataram que não sabem se utilizariam. Entre os homens, 48,7% aconselhariam sua parceira a usar anticoncepção de emergência se fosse necessário, 34,4% não aconselhariam o uso e 16,9% não sabem se aconselhariam. O estudo ainda revelou que o preservativo masculino é o método mais utilizado dentre os adolescentes para prevenção de gravidez, mas que foi bem elevada a porcentagem de estudantes que referiu não utilizar métodos contraceptivos em todas as relações sexuais: cerca de 30% dos jovens participantes da pesquisa, em algum momento, estavam correndo risco de gravidez não planejada e/ou aquisição de doenças sexualmente transmissíveis nestes intercursos desprotegidos.

“Melhorar o conhecimento dos jovens sobre a anticoncepção de emergência, fornecendo a eles informações sobre os mecanismos de ação para desmistificar o conceito de anticoncepcional de emergência ser abortiva, indicações e forma de uso, mostrando aos potenciais usuários que o método é seguro e efetivo, bem como orientar os adolescentes para que eles possam identificar situações de risco de gravidez, incluindo, sempre, os jovens do sexo masculino nestas discussões, poderia otimizar a utilização do método e prevenir inúmeras gestações indesejadas e abortos ilegais no Brasil”, concluem os pesquisadores.

Reportagem de Renata Moehlecke, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 21/12/2010

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