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Artigo

O século hollywoodiano, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Nada, mas nada mesmo, influenciou tanto o comportamento das pessoas no mundo todo quanto o cinema e seus subprodutos, incluindo propagandas e programas de TV que utilizam as ”fórmulas de sucesso” dos roteiros de Hollywood. Muitos intelectuais “torcem a cara” para essas fórmulas, mas ninguém que você conheça no mundo das comunicações deixa de usá-las – se não, você não as conheceria. “Tropa de Elite 2” por exemplo tem uma típica narrativa hollywoodiana, o que prova que essa técnica não prejudica em nada o conteúdo, só o valoriza. Os críticos só tem razão quando se referem a filmes de sucesso com valores deturpados, mas a culpa nesse caso é de quem usa esse poder (de influenciar pessoas) para o “mal”, muitas vezes.

Em 1911 foi rodada a primeira produção naquele local, em Los Angeles – nos estúdios Nestor, depois adquiridos pela Universal. Quer dizer, é uma fórmula que está completando um século. E quais são os “ingredientes básicos” dessa receita ? Desejo (algo que você desejaria para você), conflito (dificuldade em obter o que deseja), identificação com o personagem (suas características de personalidade, com virtudes e pontos fracos em que você se veja), surpresas (se o roteiro for muito previsível, você perde o interesse), suspense (quanto à obtenção dos resultados desejados), explicações “realistas” para os aspectos “mágicos” ou muito improváveis da história (a menos que se trate de uma comédia de absurdos).

Todos esses itens e mais alguns você pode encontrar nos livros sobre técnicas de roteiro de cinema, que recomendo como leitura de férias. Você vai reconhecer ali a linguagem que está não só na TV como na internet, nos jornais, por tudo, uma forma de narrativa que visa prender a atenção do espectador.

Confesso que nunca li nada tão inteligente sobre o psiquismo humano como esses livros, mais avançados que muitos autores da psiquiatria ou psicologia. Criei até uma teoria para entender esse paradoxo: os profissionais que atendem pessoas com problemas psíquicos tem uma grande tolerância por parte dos pacientes, devido à situação de fragilidade emocional destes – além do que, as deficiências de empatia são colocadas habitualmente na conta dos pacientes, rotulados como problemáticos pelo “senso comum” (muitas vezes injusto). Em contraste, o roteirista de cinema que não tiver empatia com o público está fadado ao desemprego, porque os consumidores de filmes – que não estão lá porque precisam, mas sim porque apenas querem se divertir – não perdoam chatices.

No mundo do futuro, seja como for (se vamos mudar nosso modo de produção, ou “afundar” com o planeta) haverá muitas “guerras” de propaganda a serem travadas pelos meios de comunicação. Quem disser que não usa as técnicas hollywoodianas, ou faz sem saber ou está mentindo. As propagandas do Greenpeace na TV costumam ser bem feitas. Para dar um exemplo mais concreto ainda, Hugo Chavez criou um jornal em Caracas, “Últimas Notícias”, que com essa fórmula atrativa (bem diferente do chato “Granma” cubano de Fidel) está conseguindo ser mais popular que o tradicional “El Nacional” da Venezuela, que ainda resiste na oposição.

Quer dizer, é hipocrisia criticar o conhecimento que vem da Califórnia, porque todos precisamos dele para nos comunicarmos melhor. As novas gerações estão aí exigindo novos métodos de ensino, inclusive, que respeitem o direito a um modo mais atrativo e menos cansativo de comunicação.

Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra

EcoDebate, 17/12/2010

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