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COP-16: Depois do fracasso em Copenhague, Cancún precisa de sucesso para manter ambição de acordo

A sensação é geral, depois de Copenhague ninguém quer apostar em um acordo sobre as mudanças climáticas em Cancún. Mas as expectativas muito baixas para a COP-16 também podem ser ruins, como alerta a ministra de Clima e Energia da Dinamarca, Lykke Friis.

A ideia é compartilhada pela secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Christiana Figueres. “O mundo espera que algo seja feito. Precisamos de um sucesso logo para sustentar as ambições de mudança climáticas. Não é interesse de ninguém atrasar estas decisões”, declarou. Reportagem de Lilian Ferreira, do UOL Ciência e Saúde, em Cancún.

Para a ministra dinamarquesa, Cancún só terá um acordo se os países se focarem no que podem decidir e não no que discordam. “Estamos reconstruindo a confiança, temos que mostrar que Cancún pode avançar nas discussões, senão ninguém vai acreditar que é possível”, disse.

E isto será possível, de acordo com a presidente da COP e ministra de Relações Exteriores do México, Patricia Espinosa. “Devemos lançar uma nova era de ação global efetiva no combate à mudança climática. Será uma reunião para marcar o início das ações concretas”.

Friis também espera que sejam apresentadas ações imediatas que busquem um resultado balanceado para que se possa olhar para depois, no caminho de um acordo oficial. Para Espinosa, a negociação não vai ser fácil, mas “todos estão convencidos de que é necessário um acordo que signifique um passo adiante”.

A presidente da Conferência vê a possibilidade de que decisões sobre transferência de tecnologia, financiamento, reflorestamento e adaptação possam fazer parte de uma agenda contra o aquecimento global definida em Cancún.

“Vamos ver nas próximas décadas uma revolução de como a energia vai ser produzida e consumida, que já começou. O mundo está procurando por novas respostas já que as tradicionais estão falhando”, sentenciou Figueres.

Financiamento e transparência

Na última Conferência em Copenhague algumas decisões foram tomadas, mas poucas ações reais foram apresentadas até agora.

O Fundo do Clima com financiamento de U$ 30 bilhões de 2009-2012 e de U$100 bilhões anuais até 2020 foi prometido, mas não houve definição de quem irá doar quanto e nem quem irá operacionalizar a ação.

Os EUA dizem que investiram 1,7 bilhão de dólares em 2010 em ações de países em desenvolvimento. A União Europeia se comprometeu a doar 7,2 bilhões de euros nos três anos para adaptação às mudanças climáticas e redução das emissões nos países mais pobres, mas ainda não detalhou como isso será feito (a previsão é que a comunidade apresente amanhã (30) mais detalhes).

Por outro lado, a tecla batida por americanos, europeus e membros da ONU é que as ações de mitigação (redução das emissões) em países em desenvolvimento sejam transparentes para financiarem os projetos.

Eles também exigem um “pacote balanceado” de reduções, onde cada um só se comprometeria a cortar o lançamento de gases se todos os países fizessem o mesmo. A UE, por exemplo, diz que vai cortar em 20% suas emissões até 2020 (sobre 1990), mas se todos os países entrarem em um acordo de redução, este número pode chegar a 30%.

No acordo de Copenhague, tanto países desenvolvidos como aqueles em desenvolvimento apresentaram promessas de reduções, mas como estas ações serão implementadas e, talvez mais importante, como isso será monitorado, ainda são pontos de discórdia.

Peter Wittoeck, negociador da Bélgica – país que preside a União Europeia neste semestre, afirmou que estamos caminhando, mas que é preciso chegar a um acordo sobre MRV – uma metodologia para Mensurar, Reportar e Verificar as emissões.

“Se nem você conhece direito suas emissões como pode agir para diminuí-las?”, questiona o negociador europeu Artur Runge-Metzger, que completa: “As promessas devem virar oficias, com plataformas que garantam a transparência das ações”.

Esta é a principal briga com a China, que não aceita tais mecanismos (por alegar vigilância externa ao país) e nem metas de cortes de emissões (apenas promete uma diminuição da emissão por dólar do produto interno bruto).

Enquanto a China, maior emissora dos gases do efeito estufa atual, não se comprometer com cortes, dificilmente outros países irão. Além disso, este ano a conferência está bem mais esvaziada, apenas 25 chefes de estado confirmaram sua presença em meio a cerca de 25 mil participantes.

EcoDebate, 30/11/2010


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