Estudo sugere que alcoolismo de fim de semana pode ser mais perigoso que consumo continuado
O consumo excessivo de álcool concentrado nos fins de semana dobra os riscos de se morrer de parada cardíaca com relação a um consumo continuado, revelou um estudo [Patterns of alcohol consumption and ischaemic heart disease in culturally divergent countries: the Prospective Epidemiological Study of Myocardial Infarction (PRIME) ] comparativo feito na França e na Irlanda do Norte e publicado esta quarta-feira (24/11) na edição on-line do British Medical Journal (BMJ).
A equipe de Jean-Bernard Ruidavets, da Universidade de Toulouse, procurou investigar se os hábitos de consumo de álcool, muito diferentes na França e na Irlanda do Norte, poderiam estar vinculados com a disparidade das taxas de mortalidade por doenças coronarianas, constatada entre os dois países.
As taxas de casos de insuficiência coronariana aguda (infarto do miocárdio e morte coronariana) são duas vezes mais elevadas em Belfast do que na França. Reportagem no Correio Braziliense, com informações adicionais do EcoDebate.
Os cientistas acompanharam, durante 10 anos, cerca de mil homens de três cidades francesas (Lille, Estrasburgo e Toulouse) e de Belfast, de 50 e 59 anos e livres de doenças cardíacas no início do estudo, em 1991.
Eles descobriram que o volume semanal de álcool consumido pelos bebedores regulares era praticamente idêntico em Belfast e na França.
Ao contrário, os “hábitos de consumo eram radicalmente diferentes nos dois países: em Belfast, o consumo de álcool estava mais concentrado em um dia da semana (no sábado), enquanto nas três cidades francesas, o consumo estava distribuído de forma mais regular ao longo da semana”.
A preponderância do “binge drinking”, definido no estudo como o consumo excessivo de álcool (ou seja, quatro ou cinco taças de vinho) em uma única ocasião, foi quase 20 vezes maior em Belfast do que na França (9,4% dos homens em Belfast contra 0,5% na França).
Paralelamente, a incidência anual de mortes coronarianas quase dobrou em Belfast (5,63 em 1.000) com relação à França (2,78 em 1.000).
“Levamos em consideração fatores de risco clássicos que explicam uma parte da variabilidade de 1 a 2 entre a França e a Irlanda do Norte, e introduzimos os hábitos de consumo e, em seguida, o consumo do vinho”, explicou à AFP um dos encarregados do estudo, Jean Ferrières (Universidade de Toulouse).
“De forma simétrica, está o fato de se consumir em uma ou duas vezes grandes quantidades de álcool, que causa a morte coronariana, e o de se consumir regularmente vinho, que protege o coração”, disse.
Em Belfast, os homens bebiam principalmente cerveja (75,5%), seguida de destilados (61,3%), sendo o vinho pouco consumido (27,4%). Na França, ao contrário, o consumo de vinho predominava (91,8%).
“O consumo de vinho reflete um comportamento de vida diferente com relação ao de cerveja e está associado a outros fatores de proteção do sistema cardiovascular, como a alimentação”, explicou Ferrières.
Em editorial publicado pelo BMJ, Annie Britton (University College London) advertiu contra os efeitos nocivos do álcool para outras patologias.
“É preciso lembrar a todos os grandes bebedores, seja qual for seu hábito de consumo, que aumentam o risco de desenvolver muitas doenças, como a cirrose, a pancreatite crônica e vários tipos de câncer”, afirmou.
O estudo “Patterns of alcohol consumption and ischaemic heart disease in culturally divergent countries: the Prospective Epidemiological Study of Myocardial Infarction (PRIME) ” é Open Access. Para acessar o artigo na íntegra, no formato HTML, clique aqui.
Para maiores informações transcrevemos, abaixo, o abstract:
Patterns of alcohol consumption and ischaemic heart disease in culturally divergent countries: the Prospective Epidemiological Study of Myocardial Infarction (PRIME)
BMJ 2010; 341:c6077 doi: 10.1136/bmj.c6077 (Published 23 November 2010)
Cite this as: BMJ 2010; 341:c6077
Abstract
Objective
To investigate the effect of alcohol intake patterns on ischaemic heart disease in two countries with contrasting lifestyles, Northern Ireland and France.
Design
Cohort data from the Prospective Epidemiological Study of Myocardial Infarction (PRIME) were analysed. Weekly alcohol consumption, incidence of binge drinking (alcohol >50 g on at least one day a week), incidence of regular drinking (at least one day a week, and alcohol <50 g if on only one occasion), volume of alcohol intake, frequency of consumption, and types of beverage consumed were assessed once at inclusion. All coronary events that occurred during the 10 year follow-up were prospectively registered. The relation between baseline characteristics and incidence of hard coronary events and angina events was assessed by Cox’s proportional hazards regression analysis.
Setting
One centre in Northern Ireland (Belfast) and three centres in France (Lille, Strasbourg, and Toulouse).
Participants
9778 men aged 50-59 free of ischaemic heart disease at baseline, who were recruited between 1991 and 1994.
Main outcome measures
Incident myocardial infarction and coronary death (“hard” coronary events), and incident angina pectoris.
Results
A total of 2405 men from Belfast and 7373 men from the French centres were included in the analyses, 1456 (60.5%) and 6679 (90.6%) of whom reported drinking alcohol at least once a week, respectively. Among drinkers, 12% (173/1456) of men in Belfast drank alcohol every day compared with 75% (5008/6679) of men in France. Mean alcohol consumption was 22.1 g/day in Belfast and 32.8 g/day in France. Binge drinkers comprised 9.4% (227/2405) and 0.5% (33/7373) of the Belfast and France samples, respectively. A total of 683 (7.0%) of the 9778 participants experienced ischaemic heart disease events during the 10 year follow-up: 322 (3.3%) hard coronary events and 361 (3.7%) angina events. Annual incidence of hard coronary events per 1000 person years was 5.63 (95% confidence interval 4.69 to 6.69) in Belfast and 2.78 (95% CI 2.41 to 3.20) in France. After multivariate adjustment for classic cardiovascular risk factors and centre, the hazard ratio for hard coronary events compared with regular drinkers was 1.97 (95% CI 1.21 to 3.22) for binge drinkers, 2.03 (95% CI 1.41 to 2.94) for never drinkers, and 1.57 (95% CI 1.11 to 2.21) for former drinkers for the entire cohort. The hazard ratio for hard coronary events in Belfast compared with in France was 1.76 (95% CI 1.37 to 2.67) before adjustment, and 1.09 (95% CI 0.79 to 1.50) after adjustment for alcohol patterns and wine drinking. Only wine drinking was associated with a lower risk of hard coronary events, irrespective of the country.
Conclusions
Regular and moderate alcohol intake throughout the week, the typical pattern in middle aged men in France, is associated with a low risk of ischaemic heart disease, whereas the binge drinking pattern more prevalent in Belfast confers a higher risk.
EcoDebate, 29/11/2010
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