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Artigo

Os extremos opostos do IDH 2010, artigo de Paulo Galvão Júnior e Marcus Eduardo de Oliveira

[EcoDebate] O tema aqui trabalhado foca os extremos opostos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); estudo esse embasado nos dados do Relatório do Desenvolvimento Humano 2010, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Organização das Nações Unidas (ONU), que procura mensurar o grau de desenvolvimento humano dos países levando-se em consideração três diferentes combinações: 1. Uma vida longa e saudável: envolvendo a esperança de vida ao nascer; 2. O acesso ao conhecimento: envolvendo os anos médios de estudo e anos esperados de escolaridade; e, por fim, 3. Um padrão de vida decente: observando o comportamento do Rendimento Nacional Bruto per capita, pela paridade do poder de compra (PPC).

O IDH varia entre 0 (pior situação) e 1 (melhor situação). A atual classificação do IDH pelo PNUD abrange quatro categorias de países: baixo desenvolvimento humano; médio desenvolvimento humano; alto desenvolvimento humano; e muito alto desenvolvimento humano.

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2010 (2010, p.8), “O desenvolvimento humano não tem a ver apenas com saúde, educação e rendimento – têm também a ver com o envolvimento ativo das pessoas na definição do desenvolvimento, da equidade e da sustentabilidade, aspectos intrínsecos da liberdade de que desfrutam para conduzirem as vidas que têm motivos para valorizar”.

O Quadro 1, de forma breve, pontua alguns indicadores dos mais relevantes desse último Relatório do PNUD, destacando o melhor e o pior país em variáveis que vão da esperança de vida ao nascer ao Rendimento Nacional Bruto per capita.

Quadro 1. Melhores e Piores Países no Índice de Desenvolvimento Humano Mundial
Indicadores O Melhor País O Pior País
IDH Noruega (0,938) Zimbábue (0,140)
Esperança de Vida ao Nascer Japão (83,2 anos) Afeganistão (44,6 anos)
Anos médios de estudo Noruega (12,6 anos) Moçambique (1,2 anos)
Anos esperados de escolaridade Austrália (20,5 anos) Níger (4,3 anos)
Rendimento Nacional Bruto per capita Liechtenstein (US$ 81.011) Zimbábue (US$ 176)
Fonte: PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 2010.

Nesse ano de 2010, comemorando 20 anos de estudos realizados pelo PNUD, foram avaliados 169 países. O destaque fica por conta da Noruega: o melhor IDH do mundo, com índice de 0,938. O pior IDH ficou com o Zimbábue, com apenas 0,140; portanto, muito próximo de zero, evidenciando um elevado grau de desigualdade em termos de desenvolvimento humano, econômico e social. A diferença entre os dois extremos é da ordem de 0,798.

O que pode explicar tamanha diferença entre o melhor e o pior IDH? País membro da União Europeia (UE), dona de uma economia baseada na produção de petróleo, de gás natural, de celulares e da pesca, a Noruega tem se destacado no aspecto econômico e social a partir de políticas bem definidas, priorizando a boa governança em termos do gasto público. As principais atividades industriais do país passam pelo processamento de alimentos, construção naval, metais, produtos químicos, mineração, produtos de papel e, como dissemos, a atividade pesqueira. Além disso, a Noruega conseguiu manter sua economia próxima ao modelo social escandinavo baseado na saúde universal, no ensino superior subsidiado (taxa de alfabetização de 99%), e em um regime compreensivo de previdência social. Na ponta final, exibe um Rendimento Nacional Bruto per capita de 58.810 dólares pelo critério PPC. Possui uma população da ordem de 4,8 milhões de habitantes (dados de 2009).

Já o Zimbábue (antiga Rodésia), é dono do pior IDH do planeta, apurado pelos estudos recentes do PNUD. País pobre, o Zimbábue, a muito custo, tem integrado as fileiras da União Africana (UA). Desde 1987 o presidente Robert Gabriel Mugabe decide tranquilo e soberano o destino dessa República. A população é de 12,5 milhões de habitantes (dados de 2009). A criação de gado bovino e a cultura do tabaco constituem as principais riquezas econômicas do país. Alguns anos atrás, o Zimbábue conviveu com uma combinação perversa na economia que, por pouco, não fez o país explodir: a inflação oficial, em 2008, disparou a 2.200.000% (dois milhões e duzentos mil por cento), a mais alta do mundo, e provocou, por consequência, escassez de alimentos e de moeda estrangeira. O dólar zimbabuano, na época, teve dez zeros removidos do valor monetário. Dez bilhões de dólares zimbabuanos, na ocasião, foram reduzidos para 1 dólar. Isso, por si só, evidencia o motivo principal do Zimbábue ocupar, nesse estudo recente, a última posição no ranking mundial do desenvolvimento humano.

Quanto a melhor esperança de vida ao nascer do mundo, essa marca honrosa fica com o Japão; são 83,2 anos. Nesse mesmo quesito, o Afeganistão tem a pior expectativa de vida ao nascer, com apenas 44,6 anos. Reparem que a diferença entre Japão e Afeganistão chega a quase 39 anos.

A população japonesa, com base em dados de 2009, é de 127,2 milhões de habitantes. O Japão, pela riqueza econômica que apresenta, integra as fileiras do Grupo dos Oito (G-8) e do Grupo dos Vinte (G-20) – grupo que congrega as principais economias do mundo. Esse país está em paz desde 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45). E não há nada melhor do que a paz para assegurar um tempo mais elevado na vida das pessoas; que o diga o filósofo francês Jean-Paul Sartre: “Quando os ricos fazem as guerras, são os pobres que morrem”.

Já o Afeganistão, nesse pormenor, vive momento diverso ao do Japão: o país está em guerra desde 1979, ano em que foi invadido pelos soldados e tanques da ex-União Soviética. As ruas de Cabul, capital do país, em pleno século XXI, mais se parecem a uma praça de guerra. Atualmente, estima-se em mais de cem mil soldados estrangeiros liderados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que ora ocupam os principais pontos desse país islâmico, com 28,2 milhões de habitantes (dados de 2009), numa tentativa frenética de lutar contra grupos rebeldes, leia-se: Taliban, destituído do poder em fins de 2001.

Em relação aos anos de estudos

Analisando os extremos opostos no indicador – anos médios de estudo -, observamos que o melhor país é a Noruega com 12,6 anos. Já o pior país, nesse quesito, é Moçambique, com apenas 1,2 ano médio de estudo. Na comparação exclusiva entre esse país europeu versus o país africano, a diferença é de gritantes 11,4 anos.

Chama nossa atenção nos dados apontados pelo PNUD à situação de Moçambique, país de economia pobre, integrante da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Essa ex-colônia portuguesa tem elevada taxa de analfabetismo, quase 50% da população adulta, para uma população total de 22,9 milhões de habitantes (dados de 2009).

É forçoso ressaltar a melhor situação mundial no indicador anos esperados de escolaridade. Nesse aspecto, o primeiro lugar pertence à Austrália, com 20,5 anos. Integrante da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC), a Austrália conta com 21,3 milhões de habitantes (dados de 2009). Já a pior situação nesse relevante indicador ficou com Níger, com apenas 4,3 anos. A diferença entre esses dois países chega a incríveis 16,2 anos.

Sobre Níger, é oportuno pontuar que essa dificuldade no setor de educação pode estar intimamente relacionada aos conflitos políticos que imperam nessa nação africana de 15,3 milhões de habitantes (dados de 2009). Militares tiraram do poder o presidente Mamadou Tandja, em fevereiro de 2010. O governo do Níger, desde então, passou para as mãos de Salou Djibo.

Em termos do indicador Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita, a melhor colocação no ranking mundial pertence a Liechtenstein com US$ 81.011 (dados de 2008). Enquanto o pior RNB per capita encontra-se com o Zimbábue (US$ 176). Ocupando os extremos opostos, a diferença entre esses países chega a US$ 80.835 PPC.

Ressaltamos, ademais, que o Principado de Liechtenstein é um dos menores países da Europa com apenas 160 km2. A população liechtensteinense é de apenas 36 mil habitantes (dados de 2008).

Por esses dados estatísticos, fica aqui comprovado uma vez mais que existem, indubitavelmente, dois ou mais mundos diametralmente opostos – o dos ricos e o dos pobres. Nesses casos, os extremos opostos são evidentes. As causas e os efeitos? Pobreza, miséria, corrupção, analfabetismo, má gestão pública, hiperinflação, ditadura e o não acesso aos serviços de educação e saúde de qualidade, elementos esses capazes de prolongar a vida dos mais necessitados.

É necessário, contudo, analisar os extremos opostos do IDH 2010 para possibilitar e potencializar a capacidade de mudança que urge, em vários lugares, caso a perspectiva seja àquela que todos anseiam: valorizar a vida para viver uma vida equilibrada e mais feliz.

Ainda de acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano 2010 (p. 9-10), nesse ínterim, é oportuno destacar que “(…) talvez o maior desafio à manutenção do progresso do desenvolvimento humano venha da insustentabilidade dos padrões de produção e consumo. Para que o desenvolvimento humano se torne verdadeiramente sustentável, a ligação íntima entre o crescimento econômico e as emissões de gases com efeito estufa tem de ser cortada. Alguns países desenvolvidos já começaram a atenuar os piores efeitos através da reciclagem e do investimento em infraestruturas e transportes públicos. Mas a maioria dos países em vias de desenvolvimento é entravada pelos elevados custos e pela baixa disponibilidade de energia limpa”.

Para efeito de melhor visualização de nossa situação, o Quadro 2, construído a partir do estudo aqui referenciado, destaca a posição brasileira.

Quadro 2. Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil

Indicadores Brasil
IDH 0,699 (73° posição)
Esperança de Vida ao Nascer 72,9 anos
Anos Médios de Estudo 7,2 anos
Anos Esperados de Escolaridade 13,8 anos
Rendimento Nacional Bruto per capita US$ 10.607
Fonte: PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 2010.

Para finalizar, é mister salientar que o Brasil ocupa, como apontado no quadro, a 73ª posição no ranking mundial do IDH dentre 169 nações estudadas. Os dados que cabem ao Brasil mostram, na essência, um pouco dos desafios que esperam à próxima administração da presidenta Dilma Housseff, a partir de janeiro de 2011. Foge, no entanto, do escopo do corrente texto, uma opinião mais pormenorizada sobre os dados do Brasil no IDH, atualmente “classificado” como país emergente e de alto desenvolvimento humano. Essa análise mais detalhada é tarefa para um próximo artigo, a julgar a combinação de acontecimentos que decorrerão da atual “guerra cambial” que, ao que tudo indica, está apenas começando.

Referências Bibliográficas:

ALMANAQUE ABRIL 2010. AFEGANISTÃO. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, pp.378-379.

_____________________. AUSTRÁLIA. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, pp.395-396.

_____________________. JAPÃO. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, pp.515-517.

_____________________. LIECHTENSTEIN. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, p.528.

_____________________. MOÇAMBIQUE. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, pp.545-546.

_____________________. NÍGER. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, pp.554.

_____________________. NORUEGA. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, pp.556.

______________________. ZIMBÁBUE. São Paulo: Abril, 18 de dezembro de 2009, pp.626-627.

PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2010. A Verdadeira Riqueza das Nações: Vias para o Desenvolvimento Humano. Disponível em: http://www.portalodm.com.br/relatorio-do-desenvolvimento-humano-2010-edicao-de-20-aniversario–bp–374–np–1.html. Acesso em 06 de novembro de 2010.

Os autores:

Paulo Galvão Júnior Economista brasileiro, chefe da DPTI da SETUR da Prefeitura Municipal de João Pessoa e autor dos livros digitais de Economia “RBCAI” e “Reflexões Socioeconômicas”.

Especialização em MBA Gestão de Recursos Humanos pela FATEC INTERNACIONAL.

Contato: paulogalvaojunior@gmail.com

http://twitter.com/PauloGalvaoJr

Marcus Eduardo de OliveiraEconomista brasileiro, especialista em Política Internacional e mestre pela USP. Autor dos livros “Conversando sobre Economia”, (Ed. Alínea), “Pensando como um Economista” (Ed. eBookBrasil) e “Provocações Econômicas” (no prelo).

Professor de Economia da FAC-FITO e do UNIFIEO (ambos em São Paulo).

Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

http://twitter.com/marcuseduoliv

EcoDebate, 19/11/2010


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