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EUA: FDA, agência alimentos e medicamentos, deve adotar uma posição sobre as bebidas alcoólicas energéticas

bebidas alcoólicas energéticas
Foto: Elaine Thompson/Associated Press/NYT

Um ano após começar a analisar se as bebidas energéticas que combinam álcool com cafeína são seguras ou legais, a Food and Drug Administration (FDA, órgão que fiscaliza alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) deverá adotar uma posição a respeito das bebidas já na quarta-feira, segundo autoridades em vários Estados.

A agência se recusou a dizer o que faria, mas vários advogados de segurança alimentar que já trabalharam para ela disseram que a opção mais provável é o uso de cartas de alerta para informar aos fabricantes que as bebidas não são seguras. Reportagem de Abby Goodnough e Dan Frosch, The New York Times.

Com novos relatos de jovens adoecendo ou morrendo após beberem misturas potentes de álcool e cafeína, os reguladores estaduais e federais têm sido pressionados a tratarem do assunto. Vários Estados têm proibido as bebidas por conta própria, e neste fim de semana as maiores distribuidoras de cerveja de Nova York concordaram em suspender a entrega de bebidas alcoólicas cafeinadas para o varejo a partir de 10 de dezembro. Enquanto isso, algumas autoridades estaduais têm criticado a FDA por não concluir sua análise mais cedo.

“Para ser bem claro, não há desculpa para a demora em aplicar os padrões que claramente devem proibir esse tipo de mistura”, disse o senador eleito Richard Blumenthal, democrata de Connecticut, que como secretário de Justiça estadual liderou uma campanha contra as bebidas.

A questão para a FDA é se a adição de cafeína às bebidas alcoólicas é “em geral considerada segura”, uma designação da agência que exige evidência científica aceita.

Ao ser perguntada sobre o situação da análise da FDA, Beth Martino, uma porta-voz da agência, disse apenas que ela está em andamento.

“Nós estamos analisando de forma cuidadosa e ampla a ciência e segurança desses produtos”, disse Martino.

As autoridades estaduais, que falaram sob a condição de anonimato por não estarem autorizadas a discutir publicamente a investigação da FDA, disseram não saber quais são as conclusões.

A Four Loko, a bebida alcoólica cafeinada mais vendida, tem sido responsabilizada por várias mortes nos últimos meses, um período durante o qual a marca se tornou amplamente disponível em todos os Estados, com exceção de três. Em agosto, uma garota de 18 anos em Palm Coast, Flórida, morreu após beber o Four Loko em combinação com pílulas para emagrecer. No mês seguinte, um jovem de 20 anos em Tallahassee, Flórida, começou a brincar com uma arma e disparou fatalmente contra si mesmo após beber várias latas de Four Loko em um espaço de algumas horas.

A bebida, vendida com sabores de frutas como framboesa azul e lima-limão, tem teor alcoólico de 12% e inclui tanta cafeína quanto uma xícara de café. Ela é vendido em latas de 700 ml.

Apesar de haver pouca pesquisa sobre os efeitos da mistura de cafeína e álcool, vários estudos sugerem que as pessoas ficam mais intoxicadas e apresentam comportamento mais arriscado quando bebem as bebidas com a combinação do que quando bebem apenas álcool. A cafeína mascara os efeitos do álcool, dizem os médicos, levando os usuários a acreditarem que podem continuar bebendo muito além do ponto de embriaguez.

A Phusion Projects, que produz a Four Loko, diz que beber a cafeína e álcool pré-misturados não é diferente de beber algumas taças de vinho no jantar e tomar café em seguida. Mas a dra. Mary Claire O’Brien, professora de medicina de emergência da Universidade Wake Forest, alertou a FDA no ano passado que a combinação era perigosa. O’Brien disse que a ingestão de ambas as substâncias ao mesmo tempo tinha um efeito muito mais potente do que cada uma delas sozinha.

“Há uma interação particular que transcorre no cérebro quando são consumidas simultaneamente”, ela disse. “A adição da cafeína debilita a capacidade da pessoa de dizer quando está bêbada. Qual é o nível em que isso se torna perigoso? Nós não sabemos, e até descobrirmos, a resposta é que nenhum nível é seguro.”

Vários especialistas em segurança alimentar disseram que a demora da análise da FDA indica a complexidade do problema.

“Isso sugere que está se transformando em um assunto difícil para eles”, disse Ricardo Carvajal, um advogado da Hyman, Phelps & McNamaraem Washington e um ex-consultor jurídico chefe da FDA.

Uma carta de alerta aos fabricantes serviria como “um disparo de alerta”, disse Carvajal. Essa carta provavelmente daria às empresas um prazo para reformularem as bebidas voluntariamente ou retirá-las do mercado.

“Então caberia aos fabricantes decidir se recuam ou reagem”, disse Carvajal, que deixou a FDA em 2007.

Ele disse que a FDA tem sido mais agressiva na emissão de cartas de alerta desde que Margaret Hamburg se tornou comissária em 2009.

É menos provável, disseram Carvajal e outros, que a FDA apreenda as bebidas e peça à Justiça para que ordene que os fabricantes parem de vendê-las.

Marc Scheineson, um advogado da Alston & Bird em Washington e ex-comissário-associado da FDA, disse que apreensão é o “último recurso”.

“A FDA não gosta de usá-la porque é preciso ir aos tribunais e convencer o Departamento de Justiça a concordar em assumir o caso”, disse Scheineson.

Nenhum cenário seria uma boa notícia para a Phusion Projects, uma pequena empresa de Chicago cujo sucesso se deve quase inteiramente à Four Loko, uma das três bebidas que produz.

Após sua abertura em 2005 por três universitários recém-formados, a empresa expandiu rapidamente a distribuição e as vendas com campanha de marketing de boca a boca voltada aos estudantes universitários. Ela contratou universitários para trabalharem como estagiários, fornecendo a eles caixas de suas bebidas e pedindo para que distribuíssem amostras nos bares próximos de seus campi.

“Nós éramos basicamente contratados para dar festas e apresentar o produto a nossos amigos”, disse Rachael Minucciani, que foi estagiária na Phusion Projects em 2006, quando era aluna do último ano da Ball State, em Muncie, Indiana.

Quatro anos depois, a empresa tem 90 funcionários e vendas anuais de US$ 144 milhões no ano encerrado em 31 de outubro, segundo o SymphonyIRI Group, uma empresa de pesquisa de mercado de Chicago. Esses totais não incluem as vendas em lojas de bebidas alcoólicas ou varejistas que exigem carteira de sócio, como o Sam’s Club. Os jovens parecem beber a Four Loko em uma quantidade impressionante, com base em declarações postadas diariamente nas páginas do Facebook que prestam homenagem à bebida.

A popularidade dessas bebidas pegou autoridades universitárias, médicos, legisladores e reguladores federais desprevenidos. Há muito tempo acostumadas a combater o abuso de álcool entre os jovens, as autoridades agora estão lutando para enfrentar uma ameaça nova e menos compreendia que combina altas quantidades de álcool com cafeína.

Em um caso em setembro, um jovem de 19 anos chegou ao Hospital Universitário Temple na Filadélfia se queixando de dores no peito e falta de ar. Os médicos determinaram que ele estava tendo um ataque cardíaco, mas os exames habituais não revelavam a causa.

O jovem informou que tinha passado a noite bebendo Four Loko. O dr. Robert McNamara, diretor do departamento de medicina de emergência da escola de medicina da Temple, concluiu que a bebida provavelmente levou ao ataque cardíaco.

“Nós já vimos isso com cocaína, speed e outros estimulantes, mas não com uma bebida alcoólica”, disse McNamara. “Nosso conselho quando ele deixou o hospital foi: ‘Nunca mais beba Four Loko de novo’.”

Há poucas semanas, Jennifer Machado, uma caloura da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, estava em uma festa com tema “Edward Mãos de Four Loko”. Alguns convidados seguravam latas de Four Loko em cada mão e não podiam soltá-las até ficarem vazias. “Ela afeta mal o meu corpo”, disse Machado, que não participou por causa de suas experiências ruins com a Four Loko.

Donald Misch, diretor do Centro de Saúde Wardenburgda Universidade do Colorado, em Boulder, disse temer chamar muita atenção para a Four Loko.

“Há o temor de que quanto mais falarmos sobre ela, mais as pessoas ficarão inclinadas a prová-la”, disse Misch.

Mas Daniel Ferguson, cuja sobrinha de 18 anos, Nicole Celestino, teve uma parada cardíaca e morreu em agosto, após combinar Four Loko com pílulas para emagrecer, disse que quanto mais publicidade a bebida receber, melhor.

“Ninguém em nossa família com mais de 20 anos já tinha ouvido falar da Four Loko”, disse Ferguson.

Nos últimos dias, em meio às reportagens de jovens estocando a bebida prevendo sua proibição, uma nova página de tributo no Facebook, chamada RIP Four Loko, foi criada. Até a noite de segunda-feira, a página já contava com 8.500 amigos.

Uma pessoa postou uma foto de cerca de 20 latas de Four Loko empilhadas, com a legenda “Estocando”.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Reportagem [F.D.A. Expected to Take a Stand on Alcoholic Energy Drinks] do New York Times, no UOL NOtícias.

EcoDebate, 19/11/2010

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