No Mundo das Idéias, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira
Prof. Marcus Eduardo de Oliveira
[EcoDebate] A psicologia moderna atesta que a arte de pensar é a manifestação mais sublime da inteligência. Pela filosofia, um dos maiores nomes dessa área – o grego Sócrates -, vem nos dizer, corroborando com isso, que “a vida sem reflexão não merece ser vivida”.
Definitivamente, é a idéia manifestada e transformada em ação que constrói o novo. De fato, desde que o pensamento se manifestou no homem moderno, o “mundo das idéias” fez e tem feito surgir, desde então, o novo, construindo sempre; inovando a cada novo dia. Ao longo da história do mundo moderno, um cabedal de conhecimento, realizações, invenções, descobertas e conquistas têm decorrido em função dos nobres atos que chamamos de pensar e agir.
Dessa forma, gerações e mais gerações foram, são (e tem sido) influenciadas pelas idéias e ações. Isso permitiu mudar o curso da história, da política, da filosofia, da religião, das ciências e, de tal forma, edificou novas paragens.
Nas fontes da sabedoria e da perspicácia humanas (e não há outro lugar!), criadas, pari passu, pelo animal racional intitulado Homem, é onde devemos beber o “cálice sagrado” que leva ao conhecimento que, por sua vez, permite a realização, esse acontecer. Isso contribui, sobremaneira, para buscar o desconhecido, o aparente inatingível para alguns. Isso enseja, conquanto, encontrar a base conceitual em que repousa o pensar, o agir, o sentir, o fazer, o ter, o ser. Mesmo que, por acaso, esse “desconhecido” e, para alguns, inatingível, como afirmamos, se apresente envolto em uma bruma que não se dissipa.
Conquanto, é justamente aí, então, que devem os mais obstinados atuarem a fim de descortinar por completo o que ainda nos é desconhecido. Não nos esqueçamos, nesse sentido, que é o conhecimento (e nada mais!) que nos traz a claridade, tal qual a aurora que se rompe atrás das silhuetas dos álamos. Por isso (e para isso) é que o amor à sabedoria deve, a todo custo, prevalecer para o bem da humanidade.
Amor à sabedoria
De certa forma, não é por acaso então que nesse grande “teatro” que chamamos vida, sempre estamos atuando como atores principais, encenando, aqui e acolá, a busca de uma filosofia que, adredemente, tem seu termo oriundo do grego (Filo + Sofia = amor à sabedoria). Isso define, per si, o ideal maior de todos nós: a busca pelo aprendizado e, por conseqüência, do engrandecimento do espírito. Sim. A evolução de cada um de nós decorre do ato nobre chamado “conhecimento”.
O destino que se põe em nosso caminho é único: o constante aprimoramento. Para isso estamos aqui. Por isso, para cá viemos. Estamos (e precisaremos estar), sempre em busca da melhora universal. Estamos em busca de uma existência mais ética e menos imoral, mais digna e menos corruptível, mais sábia e menos torpe. No fundo, o que mais desejamos é uma existência mais fraterna e menos insensível, mais amável e mais justa. É assim que a sociedade avança, é assim, outrossim, a humanidade progride. Assim o “bem” há de prevalecer, ainda que, não raro, presenciemos que a desigualdade supere a igualdade, que a injustiça, aqui, acolá, prevaleça frente ao bom senso. Sendo essa a verdadeira filosofia que nos cabe buscar – a do engrandecimento, principalmente espiritual -, isso nos leva, primeiramente, a “reaprender a ver o mundo”, como nos ensinou o francês Maurice Merleau-Ponty, um dos grandes expoentes da fenomenologia, defensor assíduo da teoria da percepção como fonte de conhecimento. Afinal, não nos esqueçamos que há algumas verdades incontestáveis. Quais? Citemos, por exemplo, a título de melhor ilustração dessa busca por uma vida melhor, a de que só a sabedoria liberta. “Ser culto é o único modo de ser livre”, nos diz o poeta cubano José Martí, confirmando essa assertiva.
Outra verdade inconteste que aqui não poderia escapar vem do amor, afinal, só o amor constrói. Os gregos, sábios que eram, nos ensinaram que “Omnia vincit amor”, ou seja, “o amor vence tudo”.
Ainda no âmbito do termo “conhecimento” cumpre ressaltar que a busca por essa preciosidade nunca pode esperar, pois, simplesmente, não há tempo a perder. Não se pode deixar para o amanhã, afinal “Amanhã será sempre tarde”, nos lembra o título de uma bela obra do poeta Saint-John Perse.
Nesse pormenor, foi Quintus Horácio, o primeiro literato de Roma, influenciado por Epicuro de Samos que afirmou “quam minimum crédula postero”, ou seja, “acredite o mínimo possível no amanhã”.
Em particular, apenas para reforçar essa tese de que o tempo é algo muito valioso e não convém esperar o amanhã, é sempre bom lembrarmo-nos do seguinte provérbio chinês: “Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje”.
Assim sendo, é desse conhecimento então que todos, de certa forma, precisamos, pois, o mesmo é algo essencial para a vida, assim como o pólen na atmosfera é também essencial às cerejeiras e aos lótus; ainda que essa vida (a maior dádiva que Deus pôde nos ofertar) seja uma fagulha no tempo que rapidamente cintila e logo se apaga.
É por isso que a humanidade, não raras vezes, é contemplada com espíritos nobres que conduzem-nos aos caminhos do engrandecimento. O lado teórico desse conhecimento guiado por nobres mãos é repleto de exemplos. Pelo lado do “conhecimento”, a parte teórico-didática de como aplicá-lo da melhor forma coube, pois, a nomes que se debruçaram na pedagogia. É oportuno então citarmos o russo Lev Vigotsky, o suíço Jean Piaget, a italiana Maria Montessori (que também foi à primeira médica a se formar na Itália), o inglês Dewey e os brasileiros Paulo Freire e Anízio Teixeira.
Ademais, se verdadeira for a afirmação de que é por meio do pensamento que as ações acontecem, que o conhecimento propriamente dito se avizinha e de que somos o resultado do que pensamos, o conhecimento precisa então ser alçado à condição de parceiro inseparável em nossa vida. Eis que o que pensamos determina o que sentimos; “o que sentimos”, nos explica o psiquiatra Augusto Cury, “registramos em nossa memória e, ao registrarmos na memória, determinamos os alicerces de nossa personalidade”.
Logo, o que pensamos hoje poderá ser perfeitamente o que seremos amanhã. Assim, fazemos o nosso destino dia após dia. Assim, construimos esse fadário que nos acompanha hora a hora, minuto a minuto; assim determinamos, todavia, o que vai acontecer, ainda que “caminhemos por veredas perdidas” para lembrarmos do filósofo alemão Martin Heidegger.
Mas, não esmoreçamos. As idéias só existem porque existem os espíritos iluminados responsáveis pela construção dessas. Ao longo da História do mundo que já passa da casa dos bilhões de anos, muitos foram esses espíritos nobres e iluminados que tiveram como missão ímpar na Humanidade desbravar fronteiras inatingíveis, conquistar o desconhecido, descobrir os limites do impensável e plantar as sementes do conhecimento, ainda que estas últimas tardem a florir, embora saibamos, para o bem de todos e todas, que essas nunca deixarão de germinar.
A partir desse ponto então, este texto vai ao objetivo precípuo a que se propôs.
Eis que na ternura e no estro de alguns desses nobres pensadores-descobridores-desbravadores-reformadores, enfim, desses homens que sonharam construir algo novo, desses que cravaram definitivamente seus nomes no panteão da História, desses que com seus “pensamentos” e “atitudes” desbravaram rios infrenes e atravessaram desertos imensos, desses, por fim, que fizeram acontecer e mudaram, definitivamente, o curso da história. A eles/elas fica aqui nossa singela manifestação de agradecimento. Mas, quem são eles/elas?
A contribuição de alguns gênios
Os gênios? Quem são esses? O que fizeram?
O espaço aqui não nos permite mencionar centenas de milhares deles. O que faremos, contudo, é apenas e tão somente pontuar alguns/algumas aleatoriamente. Vamos aos fatos!
Assim temos, por exemplo, em Aristóteles, o filósofo da essência das coisas; em Platão, a base da política; em santo Tomás de Aquino, o equilíbrio da ordem universal; em Hobbes, a figura do Estado como catalisador da sociedade; em Blaise Pascal, a essência divina esmiuçada.
No carpinteiro Jesus de Nazaré, que se fez O Cristo, temos a base do amor fraternal; em Immanuel Kant, a razão pura; em Hegel, a idéia como força; em Marx, as bases do materialismo histórico; em Sartre, a base do existencialismo. Com Arthur Schopenhauer, presenciamos a descrição da dor. Com Clausewitz, descobrimos o “filósofo da guerra”; em Spinoza, vimos a saliência da dúvida; em santo Agostinho, aprendemos o segredo da confissão.
E o que falar daqueles que foram os responsáveis pelos primeiros passos em certas áreas do conhecimento: Tales de Mileto é tido como o “primeiro” filósofo; Adam Smith, o “pai da Economia”; Pitágoras, da Matemática (embora não tenha sido o criador verdadeiro); Sócrates, o “pai da dialética”; Arquimedes, da Física; Hipócrates, da Medicina; Euclides, da Geometria.
Da França, Itália e Alemanha: a literatura e as artes brotaram para dar luz à beleza
Da França vem René Descartes que definiu o modo de pensar dos franceses. Pelo lado dos ensaístas encontramos Montaigne, Molière, os romancistas Victor Hugo, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Anatole France e o “pai do Anarquismo”, Pierre Joseph Proudhon. Dessa mesma França ecoam os nomes “mágicos” dos gênios-pintores: Renoir, Monet, Delacroix e Cézanne.
Da Alemanha, destaca-se a figura alucinada e alucinadora de Nietzsche, além de Bertold Brechet; dos músicos Wagner, Schubert e J. S. Bach.
Da Itália vem “o príncipe” Nicolai Maquiavel e o fantástico Dante Aligheri, criador da escrita italiana com a “Divina Comédia”, além do marxista Antonio Gramsci; na pintura e nas artes, ainda em terras italianas, conhecemos Caravaggio, Michelangelo e Da Vinci.
A Holanda nos deu Van Dyck, Rembrandt e Van Gogh, pelo lado das artes; da Espanha, veio o genial Pablo Picasso e sua denúncia dos horrores da Guerra Civil Espanhola com “Guernica”, além do tresloucado e genial Goya. Junta-se a eles nessa galeria genial nomes como Dali, Velásquez e Miró.
Na poesia espanhola as letras nos legaram os irmãos Machado (Manuel e Antonio), o poeta Federico Lorca e Ortega y Gasset, para quem “debaixo de toda vida contemporânea se encontra sempre uma injustiça latente”. Na literatura hispânica ecoam os nomes de Pedro Calderón de La Barca (o primeiro teatrólogo espanhol), Miguel de Unamuno e, é claro, o inesquecível “pai de Dom Quixote de La Mancha”: Miguel de Cervantes Saavedra.
A Inglaterra nos “presenteou” com a presença de Charles Dickens, Bernard Shaw, Willian Skakespeare e Agatha Cristhie. Os Estados Unidos, para não ficarem por baixo, nos deram Truman Capote, Walt Withman, Willian Faulkner e Ernest Hemingway, dentre tantos outros.
Já a literatura russa nos legou nomes como Gorki, Dostoievski, Tolstoi, Brodsky, Tckekhov e Pasternak, além do pintor Wassily Kandinsky. A literatura portuguesa nos fez conhecer os geniais Camões, Pessoa (e seus heterônimos), além de Antero de Quental, Cesário Verde, Florbela Espanca e, mais recentemente, o Nobel José Saramago.
Pelo lado da cultura árabe, a produção de notáveis personagens vai do médico Avicena ao filósofo Averróis, além do poeta Omar Khayyam (“O Rubayat”) aos matemáticos Al Juarísmi e Albatênio.
E pelas bandas da América Latina?
Pelas bandas da América Latina, pelas nossas bandas, saltam os nomes de geniais pesos pesados da literatura como Garcia Márquez, Vargas Llosa, Juan Rulfo, Jorge Luís Borges, Byo Casares, Machado de Assis, Jorge Amado, Oswald e Mário de Andrade.
Do Chile vem Isabel Allende; de Cuba, Alejo Carpentier, Guillermo Cabrera Infante e Reynaldo Arenas. Do Uruguai, Eduardo Galeano e Mário Benedetti. Do Paraguai, Augusto Roa Bastos, do México, Octavio Paz.
Para a poesia contribuíram ainda nosso Carlos Drummond, Cecília Meireles, Castro Alves. Do Chile, a poesia ficou mais linda com os versos de Pablo Neruda, Gabriela Mistral e Vicente Huidobro; do Peru, César Vallejo. A lista não pára: como não mencionarmos Julio Cortazar, Dario Fo, Ernesto Cardenal, Angel Astúrias e tantos outros?
E para o bem da humanidade e da sabedoria as idéias continuam. Essas, conforme dissemos, constroem, promovem o avanço. Voltemos para as ciências. Quais nomes são dignos de devoção? No campo da medicina devemos a Willian Harvey a descoberta da natureza do aparelho circulatório; com Miguel Servet, a circulação do sangue. Foi com um francês, Ambroise Pare, que se deu o desenvolvimento da cirurgia e, com o flamenco Andréas Vesálio avançamos nos estudos de anatomia.
Ainda no campo da medicina
Ainda no campo da medicina as condições e possibilidades de sobrevivência vieram pelas vacinas descobertas pelo inglês Edward Jenner e Louis Pasteur (que também desenvolveu a conservação dos laticínios, a pasteurização). A medicina nos legou ainda o bacteriologista alemão Robert Koch e Alexander Fleming que descobriu a penicilina. Já Félix Hoffmann logrou sintetizar a aspirina (ácido acetilsalicílico) e Robert Gallo descobriu o vírus da AIDS. A esses nomes somam-se os brasileiros Vital Brasil (com os tubos de soro antipestoso) e o sanitarista Carlos Chagas.
Pelo lado dos chamados “Exércitos de Salvação”, coube a Henri Dunant fundar a Cruz Vermelha e a William Booth, o Exército de Salvação (Salvation Army). O corpo de enfermeiras que atuou pela primeira vez na guerra da Criméia (1854-1856) foi invenção de Florence Nightingale.
Nas artes
Já a magia do cinema – inventado pelos irmãos Auguste e Louis Lumiére, em 1883 – nos legou nomes que tem levado, desde então, essa arte a extremos impensáveis. Eis que temos então Fellini, Hitchock, Woody Allen, Almodóvar, Luis Bunel, Copolla, Steven Spielberg, Akira Kurosawa, Tinto Brass, Costa Gravas, Gilo Pontecorvo, Manoel de Oliveira e Giusseppe Tornatore para não nos tornarmos prolixos nesse rol.
De volta às ciências
Voltando um pouco ainda para as ciências sociais coube ao polonês Nicolau Copérnico provar matematicamente que a Terra gira em torno do Sol. No entanto, com o italiano Galileu Galilei, forçou-se (por imposição da Igreja Católica) a abjurar-se a teoria heliocêntrica do Universo, principiada por Ptolomeu, esse extraordinário astrônomo grego do século II. Contudo, foi com Demócrito que viemos, a saber, que a matéria é feita de pequeníssimas unidades invisíveis (átomos).
Com Descartes teve-se o início da filosofia moderna (a idéia do racionalismo: “penso, logo existo”). À Isaac Newton coube introduzir o conceito de gravidade. Com Bachelard aprendemos que “a verdade é filha da discussão”. Com esse mesmo pensador aprendemos que o homem tem “le droit de rêver” ou seja, “o direito de sonhar”, até mesmo porque a vida é “pensada” nos sonhos, porém, é edificada no amor e nos respeito ao próximo, assim como nos disse Mohandas (o “Mahatma”, grande alma) Gandhi (o “apóstolo da Paz”) e Albert Schweitzer, teólogo e médico alemão.
Na continuidade desse rol de grandes pensadores sociais, se assim podemos defini-los, com o italiano Pico della Mirandola, aprendemos sobre o Humanismo renascentista – aquele que defende a liberdade do homem, que o torna um ser capaz de criar seu próprio projeto de vida.
Com Blaise Pascal identificamos o misticismo: “o coração tem razões que a própria razão desconhece”; com o grego Horácio, aprendemos a “aproveitar o dia” (“Carpe diem”). Sigmund Freud nos legou o postulado psicanalítico. Auguste Comte, o positivismo; Lamarck e Darwin, o evolucionismo. Albert Einstein nos ofereceu a Relatividade. Leibniz contribuiu com a harmonia pré-estabelecida do Universo e, com Kepler “descobrimos” as “Três Leis do Movimento Planetário”.
Depois de certo tempo, a evolução foi tão intensa e profícua que passamos a medir até o frio e o calor. Com o holandês Gabriel Fahrenheit o ponto de ebulição foi marcado em 212 graus; com o sueco Anders Celsius, em 100 graus.
Pelo brilhantismo de Samuel Morse conhecemos o telégrafo e com o italiano Marconi, a telegrafia sem fio. Jacques Daguerre inventou o procedimento da fotografia e o industrial norte-americano Henry Ford construiu o primeiro automóvel. Tomás Alva Edson, depois de mil inventos, fez surgir à lâmpada incandescente e aperfeiçoou o telefone inventado por Graham Bell. Ao alemão Guttemberg coube desenvolver a moderna imprensa e ao brasileiro Alberto Santos Dummont, o primeiro avião. Já o francês Louis Braille, depois de ficar cego aos dois anos de idade, vimos surgir um sistema com apenas seis pontos em 63 diferentes combinações que hoje permite a leitura aos deficientes visuais.
Em nome de Deus
Sobre as “coisas de Deus”, temos em são Jerônimo o magistral tradutor da Bíblia do Hebraico para o Latim. Com o alemão Moses Hess aprendemos que “a verdadeira teologia é o amor à Humanidade”. Com Carlos Grun, discípulo de Hess, aprendemos que “a essência do cristianismo é o amor”, matéria essa propagada há dois mil anos pelo Carpinteiro de Nazaré.
Com são Domingos de Gusmão fomos levados à Escolástica. Com Inácio de Loyola aprendemos a necessidade de unir a ciência e o Evangelho, na Companhia de Jesus (os jesuítas) e, com são Bento de Núrsia, temos a Ordem Beneditina cujo lema principal é “Busca tua paz e segue-a”.
Ainda na esfera da religião, herdamos da cidade de Tarso, o apóstolo Paulo (antes, Saulo), denominado por muitos como “o segundo filho de Deus”. Da Alemanha veio contribuir para o avanço espiritual Martinho Lutero – pai espiritual da reforma protestante. Vimos florescer ainda os ideais de João Huss. Conhecemos John Wicleef, teólogo inglês de grande valor. Da Itália vimos chegar à contribuição de Giordanno Bruno e sua teoria da cosmologia; da França, Allan Kardec (ou Denizard Rivail) nos ensinou a acreditar em vida após a morte e em novo renascimento (palingênese – reencarnação). Confúcio, (ou K’ong Fu-tse) da China, foi o filósofo da brandura e Sidarta Gautama – O Buda (ou Sakyamuni), fundador do Budismo, nos ensinou a pensar na busca interior. Nesse rol de “iluminados” ainda temos Calvino e Zwingli. Com Guilherme Miller, presenciamos o Adventismo.
O pensamento anabatista, por sua vez, se deve a Menno Simonsz; e o pensamento conhecido por “Testemunhas de Jeová”, coube ao americano Charles Taze Russell; assim como os Mórmons devem sua existência a Joseph Smith.
Na escala dos religiosos encontramos ainda outros nomes: Lao-Tse, Mêncio (Meng-tseu), Moisés (judaísmo, com a “Tora”), Mahavira (jainismo), Motti, Dalai-Lama, Ramakrishma (krishianismo, com a leitura de “Bhagavad-Gita”), Kapila, Patanjali e Maomé (ou Mohamed) que transformou as tribos árabes, politeístas e dispersas, numa só nação monoteísta, abstêmia e devota.
Sobre um novo paradigma holístico de reflexão, temos o zen-budismo, taoísmo, candomblé, xamanismo e outros. Contrapondo-se a essas experiências, temos os místicos-cristãos como Thomaz Merton, mestre Eckhart (a mística neo-platônica), são Francisco de Assis (“o amigos dos lobos e dos pássaros); santo Antonio de Pádua (“o amigos dos peixes”); Fidel de Sigmaringá (“o advogado dos pobres”); o russo são Serafim de Sarov (“o amigo dos ursos”), além de santa Tereza de Ávila, protetora dos professores.
Acrescenta-se a esses são João da Cruz, Frei Bartolomé de las Casas (“o protetor dos índios”), Madre Tereza de Calcutá (“a mãe dos mais pobres”), Theillard de Chardim, Crisóstomo e Tertuliano e tantos outros espíritos de ação e atitudes nobilíssimos.
A voz e a vez das mulheres
Pela voz das mulheres, a primeira que reivindicou seus direitos foi Mary Wollstonecraft, a partir do lema “a mente não tem sexo”. Juntem-se a ela outros nomes de importância ímpar na História: Hatshepsut, a primeira faraó de todos os tempos que levou prosperidade para o Antigo Egito. Como não mencionar Maria de Nazaré, Joana D’Arc, Marie-Olympe de Gouges e sua Déclaration des Droit de la Femme et de la Citoyenne.
Elizabeth Blacwell foi a primeira mulher a se formar em medicina. Marie Curie foi quem pela primeira vez ganhou um prêmio Nobel (de Física, em 1903), além da austríaca Bertha Von Suttner, que foi laureada com o prêmio Nobel da Paz, em 1905. Valentina Tereshkova foi a primeira mulher cosmonauta a atingir o espaço.
A terra da Filosofia
Na Grécia, terra da Filosofia e berço da civilização ocidental, os estóicos – dentre eles, Sêneca, Marco Aurélio e Cícero – (doutrina filosófica fundada por Zenão que propõe viver de acordo com a lei racional da natureza) foram os primeiros que pregaram a igualdade e a fraternidade dos povos. Com Cirilo (Patriarca de Alexandria décadas depois de Atanásio) vimos que as diferenças sociais foram criadas pela cobiça dos homens.
Outros nobres espíritos nos legaram o exemplo da luta, da perseverança, da transformação de sonhos em realidade. Dessa forma, o sentimento de Igualdade, Fraternidade e Liberdade – lema esse pronunciado pela primeira vez por Jean Nicolas Pache -, foi buscado pelo brio de jovens revolucionários da estirpe de Marat, Hébret, Saint-Just, Danton, Robespierre, Desmoulins, Louis Legendre, embora o “Terror” tenha se instalado após a conquista revolucionária.
Alguns se dedicaram ao “descobrimento” de novos mundos, após “rasgarem” oceanos desconhecidos. Assim, em busca de “aventuras”, os fenícios, os gregos e os cartagineses talvez tenham sido os primeiros grandes navegadores de que temos notícia. Os mares passaram a ser desbravados pelos fenícios, seguindo ordens do rei Nechau (604 a C), fato esse narrado por Herótodo; pelos cartagineses, no ano 500 a C, comandados por Himilcon e Hannon, e finalmente, os gregos, com Nearco, seguindo ordens do macedônico Alexandre, O Grande que, quando menino, foi tutorado por ninguém menos do que Aristóteles.
Os grandes navegadores
Foi Cristóvão Colombo, um judeu converso, financiado por Fernando de Aragão e Isabel de Castela, partindo do Porto de Pablo (Espanha), em agosto de 1492, que “descobriu” a América, encontrando primeiro o arquipélago das Bahamas e depois, Cuba e Haiti. No entanto, coube a Américo Vespúcio “emprestar” seu nome ao Novo Mundo, marcado no mapa pela primeira vez pelo cosmógrafo Waldsmuller.
Pelo lado de nossos irmãos portugueses as “glórias” com as grandes navegações começam com o Infante D. Henrique, apoiado pelo pai, D. João I, através da escola de Sagres, quando começam a “explorar o novo mundo”. Foi assim que Gil Eanes, em 1434, dobrou o cabo Bojador; Denis Dias, em 1445, atingiu Cabo Verde e Senegal; Diogo Cão, em 1483 atingiu o Zaire; Bartolomeu Dias, em 1488 ultrapassou o extremo austral da África; Vasco da Gama, em 1498, descobriu o caminho marítimo para as Índias, desembarcando em Calicute.
Pedro Álvares Cabral, com o apoio irrestrito do rei Manuel I, (O Venturoso), deixou Lisboa em 9 de março e atingiu o Brasil, em 22 de abril de 1500; embora os espanhóis Vicente Yanez Pinzon, que havia comandado a caravela Nina, na Primeira Armada de Colombo que descobriu a América, e seu primo Diego de Lepe, tenham “desembarcado” nas costas do Brasil (onde hoje fica o Estado de Ceará) em janeiro de 1500. Mesmo antes desse evento, alguns historiadores afirmam que João Coelho da Porta Cruz e Duarte Pacheco Pereira, em 1493 e 1498, respectivamente, teriam estado no Brasil.
Ainda no rol de grandes navegadores Fernão de Magalhães fez a circunavegação do Planeta Terra entre 1519 e 1522. Já o veneziano Marco Pólo chegou à China no século XIII; depois dele foi a vez do inglês Mandwille.
Na Austrália, foi o capitão James Cook, em 1770, o primeiro a chegar, embora muitos afirmam serem os portugueses Cristóvão de Mendonça, em 1522, e Gomes de Sequeira, em 1525, os que visitaram primeiramente aquele lugar.
No entanto, uma nova versão de que os chineses, ainda em 1421, teriam “descoberto o mundo” parece ganhar adeptos a cada dia. Zheng He, por essa teoria, teria sido o grande descobridor por parte dos asiáticos.
Mas as “aventuras” não param por aí. Ponce de Leon buscou a milagrosa “fonte da juventude” e descobriu, provavelmente num Domingo de Ramos, a Flórida. O espanhol Cabeza de Vaca “descobriu” as Cataratas do Iguaçu e, Vasco Balboa desejou encontrar o Eldorado.
Os exploradores
Nas explorações por terra, Cortez, após derrotar o imperador Montezuma, conquistou o México e, Pizarro, depois de derrotar Atahualpa, conquistou o Peru. Coube a Pero de Mendoza a missão de inaugurar a cidade de Buenos Aires, e a Valdívia, a cidade de Santiago (Chile); enquanto os jesuítas Nóbrega e Anchieta fundaram a cidade de São Paulo.
Bernardo O’Higgins libertou o Chile; José de San Martín, livrou a Argentina; Antonio José de Sucre, a Bolívia; Nunez de Cárceres, a República Dominicana; Lavalleja e os 33 Orientais proclamam a Independência do Uruguai. Pedro de Alvarado foi o primeiro a chegar a El Salvador.
No Panamá, essa missão libertadora coube a Rodrigo de Bastidas. Os padres Miguel Hidalgo e Jose Maria Morellos proclamaram a Independência do México; enquanto Céspedes a promoveu em Cuba. Gaspar de Francia governou pela primeira vez o Paraguai. Mas foi um filho da aristocracia, de origem basca, chamado Simon José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar Palácios y Blanco, ou simplesmente, Simon Bolívar (“El Libertador”) quem livrou a América da opressão.
A luta pela liberdade continua
Muitos nos ensinaram a luta pela liberdade, assim como a busca pela “Terra prometida”, exemplificado com o povo judeu que, pelas mãos de Moisés, atravessaram por 40 anos o deserto, segundo relatos bíblicos.
Dessas lutas em busca da liberdade, fomos aprender com Spártacus o real significado desse termo “liberdade”. Ainda pelo lado da luta de escravos contra a opressão, iniciado por Spartacus, destacam-se os nomes de Nat Turner (que encabeçou a primeira rebelião de escravos na Virgínia, EUA); Ganga Zamba e Zumbi (tio e sobrinho, respectivamente, no Quilombo dos Palmares); François Dominique Louverture e Jean-Jacques Dessalines (heróis da libertação do Haiti).
O grito contra a opressão política
Outros nobres espíritos deram o “grito de liberdade” contra a opressão política imposta pela força do dinheiro e do poder. Exemplos dessa luta são os casos de Zapata e Pancho Villa, na Revolução Mexicana. Lênin e os bolcheviques, na Revolução Russa. César Sandino que lutou bravamente por uma República Dominicana livre da ingerência norte-americana. Che Guevara lutou pela Revolução Cubana; Farabundo Martí atuou em El Salvador e o líder indígena Tupac Amaru esbravejou contra a elite dominante que massacrava os índigenas.
Um dos marcos da liberdade até hoje com certeza é a “Sociedade dos Filhos da Liberdade”, criada por Adams e Dickinson, em Boston, em 1773. O Subcomandante Marcos – um dos líderes dos indígenas mexicanos do Estado de Chiapas – é a voz dos oprimidos que se faz proclamar na atualidade.
No passado não muito distante, coube ao líder Ahmed Ben Bella, lutar pela independência da Argélia, enquanto Patrice Lumumba lutava pela independência do Congo e Amílcar Cabral pela independência de Guiné-Bissau.
Do lado “teórico-intelectual” coube a alguns nobres espíritos “sonhar” em construir uma sociedade perfeita. Nesse pormenor temos os nomes de Thomas Morus (Utopia), Tomaso Campanella (A Cidade do Sol) e James Hilton (Xangri-lá), além dos religiosos ligados a Teologia da Libertação (Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, Pedro Casaldáliga).
Muitos foram os que pagaram com a vida ao lutar por um mundo mais justo. Nosso Frei Caneca foi um deles. Oscar Romero, bispo de El Salvador que acabou assassinado por forças imperialistas, é outro exemplo disso. Camilo Torres, teólogo colombiano que aderiu a guerrilha urbana, e o francês François Babeuf desejaram, cada um em seu tempo, não apenas igualdade de direito perante a lei, mas igualdade de vida com a “Conjugação dos Iguais”, proclamada por esse último.
O brasileiro Felipe dos Santos que na Revolta de Vila Rica foi punido com a morte por meio de uma argola de ferro a lhe apertar o pescoço e Steven Biko, líder sul-africano, assim como também o sul-africano Nelson Mandela, sabem bem o que significa lutar pela liberdade.
Outros lutaram pela igualdade não de oportunidades, mas igualdade pela cor da pele, como foram os casos do poeta negro mais popular da América Latina, Aime Cesaire, criador do termo “negritude” ao lado do guianense Leon-Gontran e do senegalês Léopold Sedar Senghor que, por quatro vezes, foi presidente da República do Senegal.
Outro iluminado nesse aspecto foi o reverendo da igreja Batista Martin Luther King, brutalmente assassinado em abril de 1968.
Willian Henry Hastie, outro desses nobres nomes, foi um dos protagonistas da luta pelos direitos civis nos EUA e o primeiro negro a governar as Ilhas Virgens dos EUA. A esses nomes acrescentamos os brasileiros Francisco José do Nascimento, conhecido como “Dragão do Mar” por impedir através do porto de Fortaleza o embarque de escravos; João Cândido, o “Almirante Negro”, líder da Revolta da Chibata, contra castigos físicos impostos aos marinheiros e José do Patrocínio, o “Patrono da Abolição”.
Para finalizar, por todos esses nomes, por todas essas ações aqui descritas, a humanidade conheceu pontos de elevação na escala moral e na conduta espiritual. O avanço, por conseguinte, se fez presente. O bem, em diversos momentos, venceu o mal e o progresso, para o bem de todos e de todas, petrificou-se. Que continuemos a avançar, afinal, estamos num contínuo processo de amadurecimento. Que as benções dos deuses que cuidam do progresso estejam e sejam derramadas sobre novas cabeças. O mundo certamente terá muito o que agradecer.
Marcus Eduardo de Oliveira é Economista, professor. Mestre pela USP e especialista em Política Internacional (FESP). Articulista do Portal EcoDebate e da Agência Zwela de Notícias (Angola). Colaborador do Diário Liberdade (Galiza) e do site “O Economista”.
Contato: prof.marcuseduardo{at}bol.com.br
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http://twitter.com/marcuseduoliv
EcoDebate, 08/11/2010
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