A biodiversidade pouco conhecida do Pampa
Paisagem do bioma pampa na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, com animais pastando ao centro. Foto: FUNPAR
Restrito ao estado do Rio Grande do Sul, o bioma Pampa não era reconhecido oficialmente como bioma até 2004, quando entrou para o Mapa de Biomas Brasileiros, uma parceria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do Ministério do Meio Ambiente. Pastagens, campos, pecuária e agricultura são imagens comumente identificadas com o bioma Pampa. Poucos sabem, no entanto, que a área de 700 mil km2, dividida em quatro países – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai -, guarda uma grande e rica biodiversidade, com flora e fauna próprias. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies vegetais, mais de 100 mamíferos e quase 500 espécies de aves.
Com uma área original no território brasileiro de 176,5 mil km2 , a vegetação nativa do Pampa vem sofrendo uma supressão sistemática e histórica pela expansão agrícola, que se iniciou nos anos 1970, estende-se até os dias de hoje e se agrava atualmente com os reflorestamentos de espécies exóticas plantadas para a fabricação de papel. Segundo dados do IBGE, de 1970 a 1996, as áreas de campos diminuíram de 14 para 10,5 milhões de hectares, uma conversão de 25%. De acordo com os dados do inédito Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite, já foi suprimida 54% da área original do Pampa. Entre os anos de 2002 e 2008, foram perdidos 364 km2 , 1,23% da área original do bioma.
Representando 2,07% do território nacional e cerca de 63% da área do estado gaúcho, o Pampa tem quatro paisagens predominantes, sendo o planalto da campanha o mais reconhecido: relevo suave ondulado coberto por gramíneas e usado como pastagem natural, pastagem manejada e para atividades agrícolas, principalmente o cultivo de arroz, que precisou drenar grandes áreas alagadas.
Outra atividade econômica característica do Pampa é a pecuária que, segundo o último Censo Agropecuário Brasileiro (IBGE, 2006), cobre 44% da cobertura vegetal do Rio Grande do Sul, o que equivale a 70% do total da área destinada à pecuária na região sul. São dois tipos de pastoreio: o intensivo e o extensivo. O intensivo contribui para a degradação dos campos, acelerando o processo de arenização em boa parte do estado. Já a criação de gado extensiva, atividade que acontece desde o século 17, é a própria imagem da cultura gaúcha e contribui para a manutenção e preservação da vegetação, ajudando a manter a integridade dos ecossistemas campestres, com uma linha tênue que separa o uso sustentável da degradação.
Conservação da biodiversidade – A conservação da biodiversidade contribui para a manutenção de áreas de nascentes nas regiões de campo, dos mananciais hídricos e das áreas de recarga do aquífero Guarani. A descoberta recente de novas espécies de peixes e crustáceos em corpos d’água inseridos na região dos campos do Rio Grande do Sul vem corroborar a importância da manutenção de tais áreas, uma vez que ainda há organismos desconhecidos.
Segundo dados da atualização das Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade, apenas 3,6% das áreas prioritárias estão sob algum tipo de proteção – unidades de conservação ou terras indígenas. Recentemente, MMA e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio concluíram estudos e audiências públicas para criação de três novas unidades de conservação de proteção integral nos Campos Sulinos: Parque Nacional do Campo dos Padres (SC), com cerca de 56.000 hectares, Refúgio de Vida Silvestre do Rio Tibagi (PR), com 23.100 hectares; e Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pelotas (RS/SC), com 262.000 hectares. Outras iniciativas importantes para o uso sustentável do bioma Pampa são o turismo rural, o turismo de aventura e o turismo ecológico, assim como a atividade agropecuária, indissociável da cultura local.
Texto de Ana Flora Caminha, MMA, publicado pelo EcoDebate, 19/10/2010
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