Novo estudo estima que mudanças demográficas afetarão o clima
Composição da população e emissões
O mundo provavelmente estará bem mais lotado até 2100, e as mudanças demográficas dessa população — quantos indivíduos a mais, com que idade e vivendo onde — irão afetar as emissões de gases do efeito estufa, disseram pesquisadores na segunda-feira.
Desacelerar o crescimento populacional é algo que poderia ter um profundo efeito nas emissões de poluentes pelo uso de combustíveis fósseis, o que é um fator importante para o aquecimento global, mas só isso não evitará os impactos mais graves da mudança climática, segundo o estudo.
Há muito tempo os cientistas correlacionam o crescimento populacional às emissões de gases do efeito estufa, mas até agora eles não haviam estudado os efeitos das mudanças demográficas que devem acompanhar o aumento populacional.
A tendência para este século é que a população envelheça e se urbanize, e que se concentre em grupos menores — em vez das grandes famílias –, conforme o estudo [Global demographic trends and future carbon emissions] de pesquisadores de EUA, Alemanha e Áustria, publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Reportagem de Deborah Zabarenko, da Agência Reuters.
Os pesquisadores consideraram três cenários: numa continuação da atual tendência, o mundo ganharia 2 bilhões de habitantes até 2050; com um crescimento mais lento, a população mundial aumentaria em 1 bilhão de pessoas; se o ritmo se acelerar, podem ser 3 bilhões de indivíduos adicionais, ou seja, a população mundial saltaria de 6 para 9 bilhões.
Um crescimento mais lento poderia reduzir as emissões em 16 a 29 por cento do total necessário para evitar que a temperatura global tenha um aumento catastrófico, segundo os cientistas. O envelhecimento populacional — com a consequente redução da mão de obra — poderia reduzir as emissões em até 20 por cento em alguns países industrializados.
Grosso modo, mais gente significa mais uso de combustíveis fósseis, e mais emissões de gases do efeito estufa. Mas quem vive em áreas rurais nos países industrializados usa mais biomassa como combustível, em vez de combustíveis fósseis (como carvão e petróleo), segundo Brian O’Neill, do Centro Nacional para a Pesquisa Atmosférica dos EUA, um dos autores do estudo.
Por isso, a urbanização da população deve elevar também o uso de combustíveis fósseis, especialmente nos países em desenvolvimento. Mesmo que a população urbana reduza sua “pegada” de carbono — vivendo em espaços menores, usando mais o transporte público e menos combustível fóssil por pessoa –, o êxodo rural deve causar uma elevação nas emissões de gases do efeito estufa.
Outro efeito da urbanização é que os trabalhadores das cidades tendem a contribuir mais com o crescimento econômico do que os rurais.
“Isso não é porque eles trabalhem com mais empenho ou mais horas”, disse O’Neill por telefone. “É porque eles estão em setores econômicos que geram mais crescimento econômico.”
Como resultado, a economia de um país inteiro cresce com a urbanização, e a demanda por energia também cresce, puxando consigo as emissões em até 25 por cento no caso de alguns países em desenvolvimento.
Segundo O’Neill, a urbanização deve causar uma maior demanda energética especialmente na Ásia.
“Acho possível … que estejamos subestimando as potenciais taxas de crescimento na demanda energética em regiões do mundo que podem se urbanizar muito rapidamente nos próximos 20 a 30 anos.”
O artigo “Global demographic trends and future carbon emissions“, de Brian C. O’Neill, Michael Dalton, Regina Fuchs, Leiwen Jiang, Shonali Pachauri e Katarina Zigova, é OPEN ACCESS, de livre acesso, leitura e download. Para acessar o artigo clique aqui.
Reportagem da Agência Reuters, no Estadão.com.br
EcoDebate, 14/10/2010
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