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Artigo

Agricultura Ecológica e Biodiversidade, artigo de Antonio Silvio Hendges

Produção orgânica. Foto: Pedro José Valarini / Embrapa Meio Ambiente
Produção orgânica. Foto: Pedro José Valarini / Embrapa Meio Ambiente

[EcoDebate] A afirmação da agricultura industrial pós Segunda Guerra alterou o meio ambiente de modo rápido e profundo. Além dos impactos sociais, culturais e econômicos nas comunidades rurais e tradicionais, a perda de biodiversidade é um dos efeitos mais imediatos do modelo de agricultura expansiva relacionada às monoculturas e aos processos produtivos apoiados em insumos, fertilizantes e maquinários industriais. A destruição dos ambientes naturais e a substituição de espécies nativas por exóticas, afeta as cadeias e teias alimentares alterando as floras e faunas locais, extinguindo espécies e uniformizando as culturas e espaços agrícolas. A concentração da propriedade das terras nas empresas rurais e o esvaziamento destas áreas é outra consequência dos sistemas de monoculturas agrícolas.

[Leia na íntegra]Com a perda da biodiversidade os processos produtivos se tornam vulneráveis e dependentes de fertilizantes, produtos químicos e empresas produtoras de sementes, tornando as comunidades rurais (e também os empresários rurais) reféns de empreendimentos transnacionais e de tecnologias sem relação com a produção de alimentos para a segurança e soberania alimentar da população. A erosão genética e a perda definitiva de espécies afetam de modo negativo e irreversível os conhecimentos tradicionais do uso e manejo das espécies vegetais e animais. Em muitos lugares, a quebra das relações sociais e econômicas é tão acentuada que há programas de distribuição de cestas básicas às populações rurais antes autosuficientes e autônomas.

Na agricultura ecológica, a diversidade é fundamental na construção da sustentabilidade cultivada (plantas) ou criada (aves, caprinos, suínos, bovinos, ovinos), inclusive como parte essencial do planejamento e das atividades e relações comunitárias, muitas vezes integradas com ritmos e ciclos naturais relacionados com as chuvas, estações, condições do solo, disponibilidade de luz solar, que definem as ações e práticas utilizadas. A preservação das sementes crioulas e seu aprimoramento genético natural são indispensáveis à soberania e segurança alimentar e para as diversidades culturais, biológicas e econômicas essenciais em sistemas descentralizados e/ou diretos de produção, distribuição e consumo, geralmente associados à agroecologia.

As relações entre a agroecologia e a biodiversidade são históricas e indispensáveis, tendo a diversidade nativa ou manejada influenciado diretamente nas culturas dos povos e sociedades. Os processos de seleção das espécies mais adequadas para alimentação e outros usos aconteceu a partir das necessidades comunitárias, sendo os ecossistemas preservados, inclusive com ampliação da biodiversidade e da qualidade ambiental através das características selecionadas de modo natural pelos agricultores. As práticas da agricultura possibilitaram a aquisição de conhecimentos relacionados diretamente com a natureza influenciando ou mudando os comportamentos culturais em muitos aspectos e sentidos. Portanto, a atual diversidade vegetal, animal, social e cultural é resultado de um vínculo desenvolvido durante milênios entre os seres humanos e a natureza através de métodos e processos de produção agrícola e de criação de animais integrados com as necessidades básicas da humanidade.

Antonio Silvio Hendges, articulista do Portal EcoDebate, é Professor de biologia e agente educacional no RS. E-mail: as.hendges{at}gmail.com

EcoDebate, 29/09/2010

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