Óleo de peixe melhora tolerância à glicose em ratos
A inclusão de óleo de peixe (uma fonte de ômega 3) na dieta de ratos Wistar com esteatose hepática não alcoólica induzida por frutose, durante um período de 15 dias, levou a uma melhora no nível de tolerância à glicose desses animais. A conclusão é de um estudo apresentado pela nutricionista Gabriela Salim Ferreira de Castro na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
A esteatose hepática não alcoólica leva ao acúmulo de lipídios (gorduras) no fígado o que pode gerar inflamação no órgão, perda das funções hepáticas, aumento do estresse oxidativo e do número de radicais livres. A doença está associada a obesidade, sendo que a maioria dos seus portadores são obesos com Síndrome Metabólica (alterações nos níveis de colesterol e triglicérides (dislipidemias), resistência a insulina e diabetes tipo 2. A esteatose hepática não alcoólica pode progredir para a esteatohepatite não alcoólica, doença que pode causar cirrose e chegar até a falência hepática.
[Leia na íntegra]“Nas últimas décadas, houve um aumento da incidência de esteatose hepática na população mundial. Várias pesquisas associam a doença com o aumento do consumo de frutose”, conta Gabriela. A frutose é encontrada naturalmente em frutas e vegetais, mas a indústria alimentícia utiliza esse carboidrato simples, sob a forma de xarope de milho, como adoçante em alimentos, como por exemplo refrigerantes.
“Quando consumida apenas por meio de frutas e verduras, sua ingestão é baixa. A partir da década de 1970, houve um grande crescimento do consumo de frutose pela população mundial. Os números indicam que o consumo, na época, era de 37 gramas (g) diárias para a população dos Estados Unidos da América. Em 1994, esse número aumentou para 55g diárias. Atualmente, a população adolescente consome cerca de 72,8g ao dia e isso está ligado diretamente ao consumo de refrigerantes”, alerta a pesquisadora.
Experimentos
Para estudar os efeitos que o óleo de peixe teria na esteatose hepática leve, a pesquisadora utilizou 5 grupos de ratos Wistar, que iniciaram os experimentos em condições normais de saúde. Eles receberam a seguinte dieta, durante 45 dias: grupo 1 (controle), dieta a base de amido, caseína e óleo de soja com adição de minerais, vitaminas e fibras. Os outros grupos receberam esta mesma ração, com a adição de outras substâncias: no grupo 2, foi usado óleo de peixe no lugar do óleo de soja. No grupo 3, a pesquisadora substituiu o amido e a sacarose por 60% de frutose. No grupo 4, foi adicionado 70% de frutose além de óleo de peixe no lugar de óleo de soja. No grupo 5 foi adicionada a frutose durante 30 dias e, nos 15 dias restantes, frutose e óleo de peixe. No final do experimento, eles apresentavam esteatose hepática não alcoólica leve.
De acordo com a pesquisadora, os animais do grupo que recebeu frutose mais óleo de peixe, durante os 45 dias do experimento, apresentaram maior lesão ao material genético dos hepatócitos, ao contrário do grupo que recebeu essa mesma dieta durante 15 dias, e que tiveram uma melhor tolerância à glicose.
“O óleo de peixe consumido por 45 dias levou à incorporação de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa ômega 3, mas as membranas da célula ficaram mais suscetíveis à peroxidação lipídica. A oferta de frutose causou um aumento dos radicais livres que acabam por “atacar” os ácidos graxos poliinsaturados”, explica. “No grupo que consumiu o óleo de peixe durante 15 dias, não houve aumento dessa peroxidação”, completa. No grupo que houve apenas a adição de frutose na dieta, a nutricionista constatou um aumento dos níveis de colesterol e de triglicérides séricos.
A nutricionista atua no Ambulatório de Nutrição de Doenças Hepáticas Metabólicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, coordenado pela professora Paula Chiarello, onde pôde acompanhar pacientes com esteatose hepática não alcoólica. Segundo ela, é possível observar que existe uma relação direta entre o consumo de refrigerantes e a ocorrência da doença.
A pesquisadora ressalta que o consumo de alimentos fontes de ômega 3 são fundamentais para a saúde e também para o tratamento da esteatose hepática não alcoólica. “Os resultados negativos do consumo de óleo de peixe por ratos Wistar são decorrentes da grande quantidade que foi ofertada aos animais. Pessoas com a doença devem ser orientadas quanto a aquisição de hábitos alimentares saudáveis e consumo regular de peixes e de outras fontes de ômega 3”, destaca.
A pesquisa de mestrado Óleo de peixe no tratamento de esteatose hepática não alcoólica induzida por frutose: efeitos sobre o sistema antioxidante, perfil de ácidos graxos hepáticos e glicemia em ratos, foi apresentada em 26 de março de 2010 ao Departamento de Clínica Médica da FMRP. A orientação do trabalho foi feita pelos professores Helio Vannucchi e Alceu A. Jordão.
Reportagem de Valéria Dias, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 23/09/2010
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