Vazamento de petróleo na era da sustentabilidade, artigo de Lucas Copelli
Trabalhadores tentam retirar o petróleo, em Bay Barataria , próximo de Grand Isle, Louisiana, EUA. Foto Sean Gardner/Reuters/NYT
[EcoDebate] A cena definitivamente não é inédita. Uma mancha negra e densa de petróleo se espalha pela superfície do oceano, dizimando inúmeras espécies marinhas, contaminando praias, prejudicando a pesca por várias temporadas, arrasando indústrias de diversos setores por toda a região afetada. E o impacto da catástrofe ambiental pode durar anos e possivelmente décadas.
Foi assim em 1979, quando a plataforma mexicana Ixtoc I explodiu derramando milhares de toneladas de petróleo na baía de Campeche, no México. Repetiu-se em 1989, quando um acidente com a embarcação americana Exxon Valdez contaminou 2.000 quilômetros de um litoral intocado no Alasca, matando milhares de espécies. Em 1991, aconteceu o pior vazamento de petróleo da história, quando forças iraquianas romperam poços de extração ao se retirarem do Kuwait, derramando mais de um bilhão de toneladas de petróleo no Golfo Pérsico.
Segundo levantamentos, nos últimos 70 anos, mais de 80 episódios de média e alta gravidade lançaram nos oceanos cerca de 7,4 bilhões de litros de petróleo. Diante deste largo histórico de derramamento de petróleo, existe um fato que pode fazer do acidente da BP no Golfo do México um marco definitivo na história da nossa sociedade: o fato de que ele aconteceu na era da sustentabilidade.
A era da sustentabilidade é a era da ampliação da consciência, em nível mundial, de que tudo está interligado, conectado, interdependente. É cada vez mais evidente de que um fato local afete e muito a sociedade em âmbito global. O estilo de vida adotado por cada cidadão do mundo compromete e muito a vida do planeta. Cada decisão que tomamos no presente é definitiva para a qualidade de vida que teremos no futuro.
O derramamento de petróleo no Golfo do México na era da sustentabilidade nos leva à reflexão a respeito da nossa dependência dos combustíveis fósseis, uma fonte de energia não-renovável e muito poluente. As condições de extração deste produto são cada vez mais extremas e arriscadas, com maior probabilidade de acidentes e dificuldades técnicas, como acontece em alto mar. Este episódio recente mostrou que os métodos e tecnologias disponíveis hoje não são suficientes para evitar e conter acidentes, além de que pouco se sabe sobre o real impacto ambiental de um derramamento de petróleo em grandes profundidades.
Sobre isso, Barack Obama disse em pronunciamento oficial: “o momento de abraçarmos um futuro de energia limpa é agora”. A China tem feito sua parte, dobrando a cada ano, desde 2008, a produção de energia eólica no país. Já o Brasil, na contramão dos esforços mundiais, anunciou o poço de estréia da exploração de petróleo da camada do pré-sal, na Bacia de Campos. Um empreendimento bilionário, com alto risco e desafios tecnológicos inéditos, uma vez que se pretende extrair petróleo de uma profundidade de cerca de 6 mil metros (para se ter uma idéia, o acidente da BP ocorreu numa profundidade de 1.500 m).
Diante deste cenário, cabe aos governos a criação de incentivos para o desenvolvimento de tecnologias limpas por indústrias, universidades e pesquisadores. E cabe a cada um de nós a adoção de um estilo de vida mais sustentável. Carros híbridos, equipamentos com maior eficiência energética, destinação adequada do lixo, uso da energia solar, política de logística reversa – são inúmeros os caminhos para nos conduzir a um futuro totalmente novo. O ato de consumir ganha agora um novo significado, com a ampliação da consciência de que o consumidor pode exercitar sua cidadania através das suas escolhas de produtos e serviços no seu dia-a-dia. Suas escolhas podem ser imbuídas de um conjunto de crenças e valores, elegendo aquilo que é coerente e rejeitando aquilo que não é. É o início de uma mudança expressiva e profund a de comportamento, dando base para a nova economia do conhecimento, pela qual o meio ambiente, os seres humanos e as suas relações são mais importantes que os números. Depende de cada um de nós.
Lucas Copelli é Sócio-Diretor da Vallua Consultoria. Graduado em engenharia pela UNICAMP e pós-graduado em marketing pela ESPM.
* Colaboração de Fernanda Pancheri e Thais Volkweis para o EcoDebate, 17/09/2010
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