A força mundial do materialismo, artigo de Maurício Gomide Martins
Foto de Anna Tunska / SXC.hu
[EcoDebate] O mundo, como uma cebola, possui as suas camadas carnosas de mando efetivo. Visão nada parecida com a do poeta Neruda. Ele tratava de poesia, de pensamentos quiméricos, de sonhos. Aqui, nossa referência pretende ser didática. Nesse tubérculo bulboso existe uma escala hierárquica em que a primeira escama – a de fora, a maior, a mais forte – aprisiona rigidamente a inferior, a qual, por sua vez, exerce controle prisional à seguinte, e assim por diante.
No aspecto equivocado por que atravessa a atual sociedade mundial, estruturada nos moldes prisionais de estrita observância dos interesses econômicos, os problemas ecológicos não estão devidamente equacionados para as necessárias providências.
Baseamo-nos, naturalmente, no poder de decisão, única força capaz romper os grilhões da linguagem econômica destrutiva que envolve a ecologia e dita as normas que lhe convém.
Atualmente, com exceção de pouquíssimos pequenos e heróicos países, os poderes militar, político, midiático, religioso e econômico se aglutinam estrategicamente nas primeiras cascas carnosas do mencionado bulbo e sufocam o mundo interior, ajudados pelo acumpliciamento e conveniência das escamas subalternas.
Apesar de a atual civilização materialista do conforto, individualismo e ganância desmedida estar mostrando com evidências as conseqüências de seu procedimento, o mundo humano, cego e surdo, caminha célere rumo ao precipício que o levará à autodestruição. Tudo em holocausto ao deus dinheiro. E o pior: arrastará consigo todos os belos atributos do espírito, inteiramente ignorados e desvalorizados, na ânsia da tresloucada luta para a posse de bens materiais. Mas quem conduz, com mão de ferro, esse destino irracional? Os “donos do mundo”.
Essa visão, na organização capitalista, obedece ao princípio dos benefícios materiais para os indivíduos, enquanto, na organização socialista, os mesmos benefícios são espargidos para toda a sociedade humana. Mas ambos os tipos de organização social se suprem irracionalmente das fontes limitadas da Terra, ignorando os interesses maiores do habitat mundial. Nesse aspecto, os efeitos acabam sendo idênticos.
Entendemos que todos os humanos normais possuem a capacidade de senso crítico. Não o usando – como ocorre com a maioria da população –, passam a ser escravos lenientes do sistema em que vivem, acorrentados às mentes alheias, profissionais da espécie tais como os produtores de marketing e os intérpretes divinos.
Essa situação não depende de instrução escolar. Já temos visto doutores com curso superior incapazes de usar esse atributo de discernimento, enquanto – com menos freqüência – homens incultos, analfabetos, brandem suas próprias conclusões sobre os procedimentos racionais. Questão de lógica, de uso de atribuições espirituais por esforço próprio. Capacidade mental não usada atrofia. Bem diz um antigo provérbio: “quando a cabeça não trabalha, o corpo padece.”
De nada adiantam essas reuniões ambientais promovidas pelas autoridades locais, estaduais, federais, de regiões geográficas ou mesmo mundiais, porque ali não estão presentes as verdadeiras autoridades globais, os possuidores do poder decisório: os verdadeiros e efetivos “donos do mundo” que habitam e constituem a primeira capa da cebola. Mas qual a verdadeira identidade dos “donos do mundo” que traçam o destino de cada um de nós?
Todos têm conhecimento de que os EE.UU., representados pelo seu presidente, enfeixa em suas mãos uma autoridade imensa, apoiado em 757 bases militares distribuídas pelo mundo e os armamentos mais poderosos e sofisticados. Mas acima dele encontra-se a recôndita e verdadeira autoridade com poder efetivo de mando. Seu nome, de ordem coletiva, citado em 1961 pelo general e presidente Eisenhower, em discurso de despedida de 8 anos na presidência, equivale e corresponde ao seu verdadeiro papel: complexo industrial militar. Ele, soldado de carreira, conhecedor profundo de toda a máquina militar, corajoso, assumiu a responsabilidade de identificar, sem rodeios, o verdadeiro mandante do país e dos destinos do mundo. Quis deixar para a posteridade o dedo acusatório do responsável por todos os atos imorais e criminosos praticados pela grande nação.
As ações dessa verdadeira e efetiva autoridade, oculta e não institucionalizada, como lhe convém, enfeixa em suas mãos o supremo poder mundial, pois decidem tudo – pela manipulação da mídia – desde a moda feminina de sapato até a invasão militar a um país mais fraco. Esse poder efetivo, infelizmente, não tem a menor noção do que seja ecologia.
E tudo isso por apego insano à palavra síntese que é, ao mesmo tempo, motor da religião, política, sociedade, vivência e legítimo deus da vida materialista sem espírito: riqueza.
Contribuem para essa situação, inteiramente irracional, as ações de diversas instituições que estão arraigadas nas camadas inferiores do bulbo social. Fazem parte da linguagem de comportamentos e atitudes dos não-pensantes, pretendendo apenas manter suas posições e privilégios. Citamos a seguir alguns exemplos que consagram bens materiais como a visão única da finalidade da vida:
a)algumas religiões pregam que os ricos são ricos porque Deus os escolheu para serem ricos. Com isso, mantêm na conformidade os pobres e chamam a proteção dos ricos;
b)outras instituem o celibato aos sacerdotes para que vertam à Igreja todo o produto de seus trabalhos. Motivo exclusivamente financeiro. Não havendo família, não há despesas nem herança;
c)os governantes atuais se movem em função de interesses econômicos das empresas de seus países, como vemos por esse mundo afora. O Primeiro Ministro da França vem ao Brasil para vender seus aviões. O Rei da Suécia se desloca de seu conforto para tentar ser o escolhido na venda dessa arma. Os EE.UU julgaram suficiente um simples telefonema da Secretária de Estado;
d)a publicidade se referencia sempre nos aspectos materiais de um produto, usando as emoções dos consumidores para atingir esse objetivo;
e)a cultura é produto de mistura do caldo econômico com os desejos primários do povo, valorizando a matéria nas relações sociais, a começar pelos laços estruturais da família.
Essa linguagem materialista, reinante nas escamas mais externas, serve aos objetivos de vida dos “donos do mundo”. Quanto aos interesses maiores de preservação da Natureza, fonte e sustentáculo da biodiversidade e da própria cebola, são sufocados pelo desdém e ignorância aos valores espirituais da Vida.
Mas – reconheçamos – o sistema bulboso é gratificado pelas camadas internas da cebola, consumindo, consumindo, consumindo.
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e colunista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
EcoDebate, 15/09/2010
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Valeu, Mestre Gomide.
Na década de 70, quando me especializei em Analise de Valores, passei a dizer aos ouvintes, que se tratava de uma poderosa ferramenta de produtividade e COMPETITIVIDADE. Esta competitividade, não seria com saturninos, lunáticos, etc; porem, com seres humanos, portanto, mais uma ferramenta de auto destruição no cenario economico mundial. E vamos tentando sair desse labirinto!