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Pelo menos 20% dos suplementos alimentares têm substâncias proibidas ou controladas

Suplementos têm substâncias proibidas – Produtos nutricionais estão turbinados com estimulantes, esteroides anabolizantes ou emagrecedor de uso controlado. “Contaminação” atinge um em cada cinco complementos, segundo estimativa dos endocrinologistas

Pelo menos 20% dos suplementos alimentares vendidos no mercado brasileiro estão “contaminados” com substâncias proibidas ou controladas.

Esses produtos, usados por atletas e frequentadores de academia, têm fórmulas turbinadas com sibutramina (substância que aumenta a sensação de saciedade), diuréticos, estimulantes e esteroides anabolizantes.

A estimativa – e o problema- são consenso entre médicos que participaram do 29º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, que aconteceu esta semana, em Gramado.

Suplementos alimentares são isentos de obrigatoriedade de registro sanitário na Anvisa. O órgão classifica os produtos como alimento, e não medicamento.

A resolução mais recente sobre o assunto é de 6 de agosto. No documento, os compostos vitamínicos e alimentares são enquadrados na mesma categoria de outros 29 produtos isentos de registro, como sal, gelo, café e óleos vegetais. Segundo a Anvisa, a responsabilidade pela fiscalização da produção desses suplementos é de Vigilâncias Sanitárias dos Estados e municípios. Reportagem de Juliana Vines, na Folha de S.Paulo.

FÓRMULAS MÁGICAS

Sem fiscalização federal, fica difícil saber o que há nas fórmulas vendidas como milagrosas. “Não há indicação de composição na rotulagem. É difícil ter controle, principalmente com os importados”, diz Jocelito Martins, educador físico e oficial de controle da Agência Mundial Antidoping (World Anti-Doping Agency).

Nos EUA e na Europa, o índice de “contaminação” também gira em torno de 20%, de acordo com uma pesquisa da agência mundial.

“No exterior, esses compostos são chamados de petróleo branco. Há cidades nos EUA em que há muitas fábricas e nenhum controle”, diz Eduardo de Rose, médico membro do Comitê Olímpico Internacional.

No Brasil, não há nenhum levantamento oficial nem sobre a presença de importados nem sobre as substâncias proibidas. “É um mercado muito polêmico. A isenção de registro é um retrocesso por parte da Anvisa”, opina Turíbio Leite de Barros, médico fisiologista da Unifesp (Universidade Federal Paulista).

MAIS POPULARES
Não há dados oficiais, mas dizem os especialistas que o mercado de suplementos só cresce. “Não só atletas de alta performance procuram as fórmulas. Virou quase uma competição: quem não toma, se sente menos preparado”, afirma Suzana Bonumá, nutricionista e autora do livro “A Dieta do Corredor” (Editora Academia de Inteligência, 176 págs., R$ 24,90).

Uma das maiores indústrias nacionais do ramo, a Nutrilatina, cresceu 35% no último ano e tem duas linhas de suplementos .

O fato é que não tem como contraindicar os compostos vitamínicos e energéticos. “Já faz parte da cultura do esportista”, diz Barros.

Outro ponto importante é que muitos atletas de alto rendimento precisam complementar a dieta. “Um nadador profissional pode gastar até 8.000 calorias por dia”, lembra Martins.

Além do gasto energético, a rotina de treinos e competições, muitas vezes, dificulta uma alimentação regrada.

“Como eles treinam muito, acabam se alimentando mal. É difícil suprir as necessidades diárias só com a dieta”, complementa Bonumá.

Para fugir de produtos contaminados, o indicado é procurar referências sobre a origem da fábrica. Para os atletas, é mais garantido analisar o composto em laboratório antes de consumir.

Consumo exagerado provoca intoxicação

A busca por melhorar o desempenho pode trazer mais prejuízos do que vantagens. É o que acontece quando o uso de suplementos é feito sem prescrição médica e a ingestão diária dos nutrientes passa dos limites indicados.

“O consumo excessivo de nutrientes me preocupa tanto quanto a contaminação. Esses casos são muito comuns”, afirma a nutricionista Suzana Bonumá.

Um dos problemas mais frequentes é a ingestão exagerada de proteínas e aminoácidos, presentes em fórmulas que prometem aumento da força e maior definição dos músculos.

“Há um limite máximo de consumo diário. Falamos em um grama por quilo de peso, para pessoas que não fazem exercício físico nenhum, 1,6 grama por quilo de peso para aquelas fisicamente ativas e no máximo 1,8 grama por quilo de peso para atletas de alto rendimento”, diz o educador físico Jocelito Martins.
Mais do que isso, a proteína deixa de ser benéfica e causa aumento de peso e sobrecarga hepática.

O excesso de vitaminas causa a chamada hipervitaminose. É quando a ingestão exagerada de nutrientes passa a ser tóxica ao organismo.

“Atletas não gastam mais vitaminas do que pessoas sedentárias. Os polivitamínicos devem servir apenas para complementar falhas na alimentação, como para qualquer um”, afirma o médico Turíbio Leite de Barros.

Os efeitos da hipervitaminose são diferentes para cada tipo de nutriente. “Uma das consequências é o aparecimento de feridas pelo corpo”, afirma Martins.

A ingestão de compostos hipercalóricos por pessoas que não têm gasto energético acima da média resulta em ganho de peso. Barros alerta para o fato de que muitos suplementos hipercalóricos disponíveis no mercado não são reconhecidos como tal.

É o caso de fórmulas para enriquecer o leite, usadas para complementar a alimentação de crianças.

Outro problema, segundo Katiuce Borges, nutricionista especialista em fisiologia do exercício, é a ingestão excessiva de antioxidantes para combater o chamado estresse oxidativo, um dos causadores do envelhecimento precoce. “Atletas têm um nível de estresse oxidativo maior. Mas o consumo exagerado causa o efeito inverso: aumenta a quantidade de radicais livres.”

EcoDebate, 10/09/2010

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