Estudo da Unesp avalia agrofloresta como opção para recuperar solos
Combinar produção rural e espécies nativas é alternativa para pequenos proprietários
Quando um agricultor realiza uma mesma atividade por muito tempo sem o manejo adequado, o solo vai perdendo nutrientes e, aos poucos, fica infértil. Grandes produtores podem utilizar quantidades expressivas de adubos, mas o custo é muito alto para os pequenos proprietários. Um projeto de pesquisa e extensão do câmpus de Registro está avaliando o sistema agroflorestal como uma alternativa para recuperar a fertilidade do solo no âmbito da agricultura familiar.
A agrofloresta combina árvores nativas e produção rural. A tática é sustentável em relação ao ambiente e à economia porque garante a fertilidade permanente do solo sem o uso de adubação química e permite a obtenção de uma maior diversidade de produtos ao longo do ano. É o que afirma a coordenadora do projeto, a Engenheira Agrônoma Francisca Alcivânia de Melo Silva, professora do câmpus de Registro. “A produção de cada item por unidade de área pode diminuir, mas a variedade aumenta e é possível ter colheitas diferentes o ano inteiro.”
O projeto “Recuperação da Fertilidade do Solo por Sistemas Agroflorestais – Estudos de Casos no Vale do Ribeira” tem financiamento do Pólo de Biotecnologia Mata Atlântica (PBMA), câmpus de Registro, e do Ministério do Meio Ambiente. Os trabalhos começaram em outubro de 2009, com a participação dos estagiários Danilo Pereira Cáceres, do 2º ano do curso de Agronomia, e Laís de Oliveira Machado e Eduardo de Quadros, ambos do 4º ano do mesmo curso.
Desde então, pesquisa e extensão somam esforços: os cientistas recolhem para análise amostras do solo e serrapilheira – restos de vegetação, como folhas, ramos, caules e cascas de frutos. “Não vamos comparar a qualidade da terra entre as propriedades, mas entre os talhões da mesma fazenda, incluindo áreas agroflorestais recentes e até porções onde a agricultura tradicional ainda é promovida”, explica a estudiosa.
Os resultados, ainda preliminares, apontam que os lotes com adoção da agrofloresta por mais tempo têm o solo mais nutrido. “Com dados científicos será mais fácil orientar um número maior de famílias”, prevê a professora.
Daninhas do bem
Para empregar o sistema, o terreno é divido e, em alguns lotes, o agricultor planta espécies que pretende comercializar e árvores nativas da Mata Atlântica. A implantação é feita aos poucos e permite manter o cultivo tradicional em parte da propriedade, garantindo a renda dos produtores enquanto o modelo se estabelece por completo. A tática varia de acordo com as características das plantas escolhidas, como período de safras, reação à luminosidade e capacidade de produzir sombra para outras culturas.
“Até as ervas daninhas, que tradicionalmente demandam agrotóxicos e são grandes preocupações do meio rural, na agrofloresta são manejadas para se tornar adubação ‘verde'”, diz Alcivânia. Para isso, essas plantas invasoras são capinadas com intensidade no início, o que controla seu crescimento. Aos poucos, diminuem e se tornam uma proteção natural para o solo, que passa a acumular mais água e nutrientes. Os produtores também utilizam outros tipos de adubos naturais, como o feijão-de-porco e a mucuna, leguminosas que agrupam bactérias em suas raízes capazes de fertilizar o solo por meio da retenção do nitrogênio presente no ar.
Alimentos orgânicos
Com a adoção do sistema, os agricultores já pensam em conquistar certificados de produtores orgânicos. A classificação é dada por empresas particulares de auditoria que estabelecem exigências específicas para a concessão dos selos.
Uma das plantações está localizada no município paulista de Sete Barras, onde a terra foi usada por anos para a plantação de banana e gengibre, esta última muito degradante para o solo. Atualmente, os produtores permanecem cultivando a banana, mas introduziram outras frutíferas, espécies madeireiras e a juçara, que fornece uma polpa energética semelhante ao açaí.
A pesquisa também recolheu terra de uma localidade em Cananéia, cujo solo tinha ‘empobrecido’ no passado por cultivos agrícolas intensivos e pastagem. Há doze anos, o produtor passou a empregar o sistema agroflorestal, mas ainda há lotes fora do sistema e outros recém-incorporados. Lá são produzidas variedades de citrus (laranja, limão, etc), além de maracujá, café, banana, pupunha, variedades frutíferas e espécies nativas da Mata Atlântica. O mesmo caminho é seguido pela terceira propriedade do estudo, em Cajati, que será a próxima a ter amostras coletadas.
Informe da Unesp, publicado pelo EcoDebate, 26/08/2010
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