1ª turma de Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre recebe diplomação
Comissão Pró-Índio do Acre, enquanto organização não-governamental, é pioneira na formação técnica-profissional intercultural em gestão territorial no Brasil Indígena.
Aconteceu ontem, às 18:00hs, no Centro de Formação Povos da Floresta da Comissão Pró-Índio do Acre, a formatura da 1ª turma de Agentes Agroflorestais Indígenas do Estado do Acre – AAFIs. Dos 126 AAFIs que estão em formação pela CPI, 30 indígenas entre Kaxinawa, Katukina e Manchineri, dos municípios de Tarauacá, Santa Rosa, Cruzeiro do Sul, Assis Brasil, Jordão e Marechal Thaumaturgo, concluem sua Formação Profissional e Técnica Integrada à Educação Básica.
A Comissão Pró-Índio do Acre vem, ao longo de sua trajetória de parceria com os povos indígenas acreanos, promovendo esta formação com o princípio da autoria e participação indígena. Uma formação que prime pela especificidade da realidade indígena e que favoreça o desenvolvimento de práticas tradicionais de cultivo, através de sistemas agroflorestais (SAFs), de criação de animais domésticos e silvestres, de monitoramento ambiental e manejo extrativista. Todas essas atividades estão diretamente interligadas com a cultura indígena e suas formas de ver e perceber seu universo.
Tendo como base esse princípio, a CPI/AC enquanto organização não-governamental, é pioneira na formação técnica-profissional intercultural em gestão territorial no Brasil Indígena. Em dezembro de 2009, seu Projeto Político-Pedagógico e Curricular para a Formação Profissional dos AAFIs foi aprovado pelo Conselho Estadual de Educação e pelo Ministério da Educação.
Com uma carga horária de 2.680 horas/aula, a formação dos AAFIs prevê, em seu currículo, disciplinas de conhecimentos básicos como língua indígena, língua portuguesa, matemática e geografia com ênfase em cartografia; e disciplinas profissionalizantes como os Sistemas Agroflorestais, geologia indígena e artes e ofícios, entre outras. Está organizado com aulas teóricas, presenciais no Centro de Formação Povos da Floresta da CPI/AC, aulas teóricas e práticas presencias nas Terras Indígenas com assessores da CPI/AC e aulas práticas, chamadas de formação à distância, que se traduzem na aplicação do aprendizado em sua comunidade mensurado e avaliado através de produtos como Diário de Trabalho e relatórios dos Sistemas Agroflorestais implementados e da vigilância e fiscalização realizadas em conjunto com a comunidade.
Neste último curso da formação, as disciplinas trabalhadas foram Cartografia Indígena e Monografia, onde cada AAFI escolheu um tema referente a sua realidade para desenvolver a pesquisa e escrever seu Trabalho de Conclusão de Curso. Agricultura tradicional, dieta e resguardo, culinária, medicina indígena, cantorias e brincadeiras tradicionais, histórias de seu povo, origem das caças e biodivesidade dos roçados tradicionais foram alguns dos temas escolhidos pelos AAFIs para pesquisar. O projeto é, agora, publicar todos estes trabalhos e divulgá-los nas aldeias e escolas indígenas.
Outra luta que os AAFIs já começaram a travar é pelo reconhecimento de sua categoria. Querem ser vistos como os trabalhadores da floresta que prestam serviço a todo o planeta e, portanto, reivindicam que esta profissão seja reconhecida no Estado num claro e verdadeiro compromisso pela proteção da biodiversidade florestal.
Na programação de formatura, além da diplomação, está previsto o Mariri, festa tradicional dos Povos Indígenas acreanos que manifestam sua alegria por mais uma conquista.
Colaboração de Lígia Kloster Apel para o EcoDebate, 13/08/2010
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