Professores da rede pública sofrem com Síndrome de Burnout
Hoje o trabalho do professor é muito estressante, muito estressante: meu sofrimento é o meu trabalho. É com esta frase, proferida por uma professora do Ensino Fundamental de João Pessoa, que a psicóloga Jaqueline Brito, começa a sua tese em saúde pública Síndrome de Burnout em professores do Ensino Fundamental: um problema de saúde pública não percebido.
Desenvolvido na Fiocruz Pernambuco, o estudo trata desta forma de adoecimento que vem acometendo os docentes da rede pública de ensino da capital da Paraíba, mas que certamente pode ser estendida a muitos outros professores no país. O estudo verificou que 23,4% dos professores do nível Fundamental apresentaram alto nível de despersonalização, 55,5 % alto nível de exaustão emocional e 85,7% alto nível de realização pessoal no trabalho. Este último percentual, embora pareça contraditório é na verdade uma característica da Síndrome. As pessoas não atribuem ao trabalho a razão da sua estafa física e emocional.
Jaqueline explica que burnout é um termo resultante de uma composição da língua inglesa: burn, que significa queima, e out, que significa exterior e diz respeito à pessoa que, devido a esse tipo de estresse ligado a atividade profissional, geralmente “pessoas que trabalham com pessoas” – consome-se física e emocionalmente. Três dimensões caracterizam bem a síndrome de burnout: uma é a exaustão emocional. Falta à pessoa energia e entusiasmo para desenvolver o seu trabalho, o seu sentimento é de esgotamento. “Um sintoma comum nesta fase é certo temor em voltar ao trabalho no dia seguinte”, explica Jaqueline.
Outra dimensão da síndrome é a despersonalização. Nela, o profissional passa a tratar os alunos, colegas e a escola de forma distante e impessoal, seu vínculo afetivo é substituído por um vínculo racional. “Estas pessoas são vistas pelos colegas de trabalho como uma pessoa fria, desumana devido ao seu endurecimento afetivo”, diz a pesquisadora. A terceira dimensão da síndrome é a baixa realização no trabalho. Nesta fase o trabalhador costuma se auto-avaliar de forma negativa, não fica satisfeito com seu desenvolvimento profissional e experimenta um sentimento de incompetência e fracasso.
Segundo a psicóloga, o quadro apresentado na pesquisa se deve a fatores sociais, ambientais e pessoais, sempre relacionados ao trabalho. O que pode ser feito para reverter a situação é considerar os aspectos da realidade do professor, que inclui, por exemplo, gestores, alunos, família dos alunos, família dos professores e colegas de trabalho. Também é possível desenvolver medidas com o objetivo de minimizar as consequências das inadequações de conforto ambiental das salas de aula na saúde dos professores, além de construir um serviço multidisciplinar de atenção à saúde do professor, com metodologia de trabalho e ausculta individual e coletiva, que promova a proteção e a recuperação da saúde dos professores. Outra ação é incluir a participação dos professores em programas de combate ao stress, entre outros.
Para o estudo sobre a ocorrência da Síndrome de Burnout entre os professores paraibanos, a pesquisadora avaliou uma amostra de 265 docentes – de um universo de 959 – que ensinam na primeira fase do ensino fundamental, nos polos que compõem as três Regiões da Secretaria de Educação de João Pessoa. Os docentes selecionados atuam em 18 escolas, que foram escolhidas por sorteio.
A maioria dos entrevistados é do sexo feminino (90,9%), com idade média de 43 anos e meio e com mais de 10 anos de atuação no magistério. A maioria (72,5%) tem nível de escolaridade superior e 67,6% trabalha 40 horas semanais ou mais. No estudo, foram considerados aspectos relacionados à saúde mental dos professores, diferenças de gênero na categoria docente e conforto ambiental da sala de aula, por meio de uma triangulação de métodos.
Médicos do trabalho desconhecem a doença
Desde 1999 a Síndrome de Burnout consta na legislação trabalhista brasileira como uma doença do trabalho. No entanto, Jaqueline Brito demonstra em sua tese que é grande o desconhecimento por parte dos médicos peritos que hoje atuam na Junta Médica de João Pessoa. Setenta e cinco por cento desses profissionais disseram não conhecer a Síndrome de Burnout nem a portaria que a inclui como doença do trabalho. Nenhum perito recebeu treinamento para lidar com a doença em sua prática profissional, nem tampouco afastou algum professor do seu trabalho em decorrência da doença.
Reportagem de Rita Vasconcelos, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 11/08/2010
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trabalho com Educação Ambiental há anos e por muitas vezes sinto um mal estar em relação ao trabalho e agora tenho a certeza que acabamos doentes diante dessa tarefa monumental e muitas vezes inglória: Que é transformar as pessoas em cidadãos.