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Mudanças climáticas e monitoramento dos oceanos

Um programa sustentado de observações e monitoramento é fundamental para se entender as mudanças no Atlântico Sul e para que o Brasil se prepare para os impactos das mudanças climáticas. O alerta foi feito pelo físico Edmo Campos, professor do Instituto Oceanográfico, da Universidade de São Paulo (IO-USP), durante sua conferência Mudanças Climáticas: A Importância do Oceano, proferida ontem (28/7), na 6ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que se realiza em Natal (RN) até sexta-feira, dia 30.

Para evitar polêmicas, Campos fez um alerta antes de começar sua palestra. Um slide de sua apresentação dizia: “Atenção: A ciência discutida nesta Conferência não é fruto da imaginação ou preferência do palestrante. Ela é inteiramente baseada em pesquisas publicadas em veículos idôneos, com rigorosa política de revisão por pares.” Segundo ele, o aviso era necessário, porque muita gente ainda duvida que o planeta esteja esquentando e que o homem tenha responsabilidade nisso.


Depois de uma breve aula sobre clima e oceanografia, Campos apresentou alguns fatos tidos cientificamente como inegáveis. Entre eles, o de que as atividades humanas têm alterado a composição da atmosfera desde eras pré-industriais e que, atualmente, projeções da concentração de CO2 durante o século 21 são de duas a quatro vezes mais altas do que o nível no período pré-industrial. “É fato inegável que tem havido crescente aumento de gases que produzem o efeito estufa associado com atividades humanas”, disse o pesquisador. “E há fortes evidências que esses gases estão contribuindo para o aumento da temperatura média do planeta. Além disso, há fortes indícios de que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos pode ser atribuída a atividades humanas.”

É aí que entra o papel do oceano. Mas também começam os problemas. Campos explicou que, por ocupar cerca de 70% da superfície do planeta, e devido à alta capacidade térmica da água, o oceano desempenha papel fundamental no clima e em sua variabilidade. O problema é que as atividades humanas começam a interferir nesses processos. “O oceano já começou a dar sinais de mudanças: aumento da temperatura média; alterações no padrão de circulação, aumento no nível médio e aumento de sua acidez.”

O pior é que mesmo que humanidade parasse de injetar dióxido de carbono na atmosfera, a resposta oceânica deverá continuar ainda por séculos. Nessa resposta está incluído o aumento da incidência e da força de tempestades e furacões. O ciclone extratropical Catarina, que atingiu a região sul do Brasil em março de 2004 e é considerado o primeiro furacão do país, é um exemplo do que pode vir daqui para frente.

É por isso que Campos defende que o Brasil invista mais em pesquisas oceanográficas. “Estamos na idade da pedra em termos de observação em larga escala do oceano”, disse. “Estamos na contramão do progresso geral da ciência oceanográfica.” Segundo ele, mais conhecimento sobre o oceano não fará com que se consiga mudar o que está acontecendo, mas permitirá que seja possível a adaptação às novas condições climáticas. “Poderemos sugerir às próximas gerações o que elas devem fazer para viver”, conclui.

Informe da 62ª Reunião Anual da SBPC, publicado pelo EcoDebate, 02/08/2010

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