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Saiba mais: Segurança alimentar e ambiental de OGMs, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] A análise da segurança alimentar e ambiental nos transgênicos é muito importante. A soja é um alimento altamente protéico. Análises no teor de óleos, cinzas e carbohidratos parecem ser mais influenciadas por fatores ambientais do que por qualquer outro motivo.

Quando a pessoa já era alérgica ao alimento convencional continuou alérgica ao alimento transgênico. Não são registrados casos de alergias específicas aos transgênicos. Isto vale tanto para a soja quanto para outros alimentos.


Uma questão instigante é a possibilidade da soja transgênica sintetizar quantidades maiores de aminoácidos, já que contém a EPSPS da bactéria resistente ao glifosato. Nesta perspectiva foram feitas análises de feneanolina, triptofano e tirosina na soja convencional e na transgênica, não sendo registradas diferenças.

Na maioria dos trabalhos já publicados comparando alimentos convencionais e transgênicos, não são observadas diferenças significativas ou relevantes nos resultados das análises.

Quanto a segurança ambiental dos OGMs, temos que analisar que a soja é uma planta essencialmente autógama (isto quer dizer com grande variabilidade entre as populações) e as taxas de polinização cruzadas são inferiores a 1%. Existem dois sistemas básicos de cruzamento de espécies. Alógama que tem a máxima variabilidade entre indivíduos e Autógamo que tem a máxima variabilidade entre espécies.

A possibilidade de ocorrência de cruzamentos entre a soja transgênica com espécies silvestres não existe no Brasil, porque o centro de origem da soja são a China e a Rússia. Ou seja, a soja é uma espécie exótica no Brasil.

A variabilidade genética é um dos princípios da vida que não teria existido sem esta condição. E a preocupação com a manutenção desta biodiversidade intacta deve ser uma preocupação fundamental. Como não existem parentes silvestres da soja no Brassil, não existe possibilidade deste cruzamento randômico (quer dizer ao acaso) e das consequências sobre a biodiversidade que poderia trazer.

A soja, produto transgênico de uso mais comum e disseminado no Brasil, é uma espécie que foi domesticada e necessita do homem para sua conservação. Cabe ainda destacar que o gene da bactéria incluído na soja, só se manifesta na presença do herbicida e portanto não traz nenhuma vantagem adaptativa para a espécie.

O mesmo não pode ser dito do algodão, arroz e canola, que possuem parentes silvestres na América do Sul, e dependendo das características introduzidas elas podem passar para os parentes silvestres e afetar todo bioma (VIDAL, R. A. Herbicidas. Mecanismos de ação e resistência das plantas. Porto Alegre. Ribas Vidal, 1997, 165p).

Já existem registros de plantas resistentes ao glifosato exigindo o uso de outros herbicidas seletivos para sua eliminação. Isto ocorre porque os mecanismos de resistência e ambientação próprios da escala evolucionária, não tem sido convenientemente considerados no desenvolvimento destas tecnologias.

Qualquer pessoa que trabalhe e tenha acesso a setores reservados de hospitais, sabe que vírus e bactérias desenvolvem rapidamente mecanismos de resistência e adaptação a antibióticos. O mesmo ocorre com outros elementos microbiológicos na natureza e os mecanismos evolucionários devem ser bem entendidos para a formulação de estratégias econômicas que compatibilizem o desenvolvimento com as características dos meios físico e biológico.

Roberto Naime, Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS, é colunista do EcoDebate.

EcoDebate, 22/07/2010

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One thought on “Saiba mais: Segurança alimentar e ambiental de OGMs, artigo de Roberto Naime

  • Seria importante entrar em contato com o prof. Roberto Fanelli do Laboratòrio Toxicològico “Mario Negri” que està pesquisando acerca das “gorduras trans” contidas em alimentos e similares. Qual a finalidade de saber a quantidade de dioxinas e furanos nestas gorduras das quais se coloca VD** ?
    Padre Angelo Pansa.

    Prezado Padre Angelo Pansa,

    Compreendemos as suas preocupações, mas o espaço de comentários não é adequado para suas considerações e denúncias, principalmente porque os seus textos não são realmente relacionados às materias comentadas.

    Além do mais, existem considerações técnicas em relação ao que comenta:

    1) “VD” apenas refere-se a Valor Diário ou, de forma mais precisa, “Percentual de Valores Diários (%VD): número que indica o quanto o produto em questão apresenta de energia e nutrientes em relação a uma dieta padrão de 2000 calorias”. [ANutricionista.Com – Tatiane Trevilato de Brito – CRN3 26450].

    2) As dioxinas são, de fato, os maiores contaminantes ambientais criados pelo homem, mas, em geral, o processo de contaminação ocorre pelo ar a partir da queima de produtos químicos (queima de pneus, lixo plástico ou combustíveis alternativos) Elas não são, diretamente, composição química de qualquer produto.

    As dioxinas são subprodutos de muitos processos industriais principalmente a combustão, nos quais o cloro e produtos químicos dele derivados são produzidos, utilizados e eliminados. As emissões industriais de dioxina para o meio-ambiente podem ser transportadas a longas distâncias por correntes atmosféricas e, de forma menos importante, pelas correntes dos rios e dos mares.

    3) Os furanos são um grupo químico composto por organoclorados conhecidos comercialmente por policlorodibenzo-furanos (PCDF). Sua estrutura básica é constituída por dois anéis aromáticos unidos por um átomo de oxigênio, com diferentes graus de substituição por átomos de cloro. O que determina a toxicidade da molécula de furano é o grau de cloração dos anéis e a posição dos átomos de cloro.

    Produção de cloreto de polivinila (PVC), pesticidas a base de cloro, produtos farmacêuticos, fabricação e branqueamento de polpa e papel, fabricação de tintas são outras fontes de liberação de furanos.

    [Dioxinas e Furanos in http://ambiente.hsw.uol.com.br/substancias-toxicas3.htm%5D

    A contaminação por dioxinas e furanos é efetivamente possível a partir de produção e processamento inadequado e inseguro de produtos químicos, não sendo diretamente relacionados a algum produto em especial.

    O Agente Laranja [mistura de dois herbicidas: o 2,4-D e o 2,4,5-T] foi produzido de forma negligente, com toxidade excepcionamente alta, com altos teores da dioxina tetraclorodibenzodioxina. Lamentavelmente ainda existem versões desta combinação em uso no mercado, mas com menor toxidade e sem a emissão da tetraclorodibenzodioxina. Ainda assim,é um agroquímico, dentre muitos, que já deveria ter sido abolido.

    Assim sendo, prestaremos estas informações em seus comentários, que apenas serão publicados quando efetivamente relacionados aos textos comentados.

    Atenciosamente

    Henrique Cortez,
    coordenador editorial do Portal EcoDebate

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