Autópsia de uma notícia, artigo de Maurício Gomide Martins
[EcoDebate] O governo informa que no ano passado o Brasil produziu 150 milhões de toneladas de cereais, ai incluídos o milho, arroz, trigo, soja, feijão, equivalentes a 1.000 k para cada habitante nominal.
O Brasil não produziu isso. Quem produziu foi a terra circundada pelas fronteiras do Brasil. Melhor dizendo: foi parte da terra global que produziu. Aprofundando mais a análise: parte da terra não produziu, transformou-se em cereais. Como não existe milagre, sendo incontestável a lei natural de conservação das coisas, isto é, “nada se cria, nada se destrói; tudo se transforma” (Lavoisier), a ação humana, no espaço de tempo de 1 ano, retirou da terra 150 milhões de toneladas de substâncias químicas essenciais ao metabolismo vivencial para – em última análise –saciar a fome dessa oceânica e contraproducente quantidade de animal humano. Citamos, a propósito, a expressão do eminente arqueólogo David Webster: “Agricultores demais fazem plantações demais em lugares demais.”
Estamos numa situação em que víamos outrora com doçura e amor a poética chegada da cegonha trazendo no bico uma fralda contendo uma nova vida. Agora, já começamos a enxergar que as cegonhas, em maciço bando de milhões, durante 24 horas por dia, quase toldando a luz do sol, traz no bico bombas-relógio de efeito futuro arrasador. Fala-se em “nuvem de gafanhoto”. No entanto, deixamos de enxergar a nós mesmos, verdadeiros fabricantes de “nuvens de cegonhas”, que, com suas ferramentas advindas da tecnologia, produzem devastações irreversíveis. Efetivamente, chegamos àquele futuro maldito previsto pelo famoso cientista Thomas Malthus em 1798.
Devemos entender que – no caso de que tratamos – o solo terrestre se empobreceu, em apenas um ano, o equivalente a 150 milhões de pura energia vital. É fácil imaginar-se que, em mais alguns ciclos anuais, a base, a fonte, o sustentáculo da vida, estará inteiramente esgotada.
Devemos nos conscientizar de que a população humana mundial é constituída de quantidade ilógica ante os recursos naturais limitados do planeta. E o pior: temos quantidade sem qualidade. Isso pela prevalência do instinto, gravado no ADN, de que a própria espécie tem privilégios que se sobrepõem à vida dos outros seres vivos. Tal assunto será desenvolvido em posterior artigo. Resumindo: a informação correta é a de que, só no espaço Brasil, o mundo foi dilapidado em 150 milhões de toneladas de sua escassa capacidade de transformar elementos químicos em alimentos.
É uma informação para nos fazer chorar. No entanto, o governo comemora alegre e inconsciente, demonstrando a incompetência para perceber a realidade de que está cavando a sepultura de um povo.
Esta autópsia se destina a mostrar aos leitores que toda informação deve passar pelo filtro da razão. Não podemos ser “Maria-vai-com-as-outras”. Massa cinzenta existe para ser usada.
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e colunista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
EcoDebate, 14/07/2010
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Achei o texto um tanto eugenista…