Democracia e educação, artigo de J. B. Libanio
[EcoDebate] No final da década passada, The Economist encheu os olhos da vaidade brasileira, ao anunciar que o país na atual década se tornaria a quinta potência mundial e a terceira em 2050. O peso da fama da revista tornou a ilusão ainda maior. Por que ouso falar de ilusão? Porque em uma década ou em várias décadas não se constrói uma grande potência sem educação.
Não precisamos povoar essa afirmação com multidão de números estatísticos. Esses, não raro, enganam-nos com a aparente neutralidade. A educação de um povo constata-se a olhos vistos. Basta não ser cego. Existem, sem dúvida, alguns grupos de elite. Mas o povo se alimenta da cultura de massa e esta se constrói, sobretudo, por obra dos meios de comunicação social. Aqui sofremos enormemente.
Enquanto a sociedade civil e o Estado não se unirem, em força única, para exigir dos programas de TV maior nível cultural, que irradiem valores consistentes em vez de terrível vulgaridade e banalidade, não há futuro para o Brasil. Haja vista os noticiários que gastam a maior parte do tempo em divulgar violências ou eventos triviais. Um tarado que assassina jovens depois de violentá-las interessa mais que todas as campanhas de solidariedade do mundo. A imagem que brota do ser humano das manchetes televisivas e de jornais favorece mais a desvalorização da vida que o respeito e a esperança no ser humano.
Os clássicos latinos tinham entendido que os relatos históricos cumpriam a função pedagógica de transmitir exemplos a serem imitados. Nesse sentido, Cícero dizia que a história é a “mestra da vida” e os historiadores se detinham em contar a vida de “varões ilustres” e modelares. Em linguagem de hoje, o clássico romano diria que a TV e a grande imprensa existem para transmitir os valores éticos fundamentais para a convivência humana. Que decepção se se detivessem em frequentar a maioria dos programas que ressudam imediatismo, exterioridades, futilidades, intimidades expostas ao grande público!
A democracia se define pelo bem comum, pelo conviver entre as pessoas em vista da realização do “ser humano todo e de todo ser humano”. Imperam, no entanto, o individualismo, a lei da selva, a privatização do público e a publicização do privado. A confusão das duas esferas humanas mina a democracia. A cultura pós-moderna individualista tende a privatizar a esfera pública. A corrupção nos meios políticos do país não passa de um apoderar-se de bens públicos. E por outro lado, intimidades sexuais e afetivas são lançadas por revistas e programas por todos os ares.
A educação ensina o respeito ao público e o cuidado e recato com o privado. Quando ela falha, misturam-se os campos com detrimento para ambos. A vida social torna-se a maior vítima dessa falta de educação. Perde-se a noção de viver em comunidade. Inverte-se o processo educativo que consiste na humanização continuada das pessoas para crescente animalização. Adeus democracia! Adeus potência mundial!
* J. B. Libanio – Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
** Colaboração do Centro de Estudos Políticos Econômicos e Culturais CEPEC para o EcoDebate, 09/07/2010
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Sobre a matéria “Democracia e educação, artigo de J. B. Libanio” gostaria de acrescentar que o grande problema que envolve todas asquetões no Brasil, passa pela divisão da classe social existente no país:classe política que pode tudo e povo que nada pode fazer. Se a classe política não for bem organizada, não se pode esperar nada.