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Soja transgênica, artigo de Roberto Naime

Soja. Foto: Embrapa
Soja. Foto: Embrapa

[EcoDebate] Nós já consumimos o tomate transgênico (conhecido como tomate longa vida) aproximadamente desde 1994. Felizmente ainda não há registros de danos à saúde das populações devidos ao consumo do tomate longa vida.

O caso mais evidenciado e discutido é o da soja transgênica, pelo volume, quantidade e importância econômica. O que é a soja transgênica? Quando temos uma planta convencional e aplicamos um herbicida não seletivo, como o Glifosato, este produto bloqueia a atividade de uma enzima (chamada EPSPS), cuja função é a síntese dos aminoácidos aromáticos que são essenciais ao metabolismo da planta. Todas as plantas, bactérias e fungos sintetizam estes aminoácidos.

Mamíferos, aves e peixes não realizam esta síntese e obtém os aminoácidos das plantas e microorganismos. Algumas bactérias do solo, do gênero Tumefasciens produziam esta enzima e não sofriam bloqueio por ação do Glifosato. Foi identificado o gene responsável pela síntese desta enzima na bactéria, e então este gene foi clonado e introduzido na soja.


Assim a leguminosa passou a resistir também ao glifosato. Foi utilizada uma variedade de soja americana muito produtiva (A 5403), sendo selecionada uma linhagem tolerante ao glifosato (GTS 4032).

A enzima EPSPS existente na soja é destruída pela ação do glifosato, mas aquela enzima que é sintetizada pelo gene proveniente da bactéria, não é afetada.
Todas as variedades resistentes ao Glifosato existentes no mundo são derivadas da linhagem tolerante modificada geneticamente (GTS 4032). Quando se deseja introduzir resistência ao glifosato em qualquer linhagem, é feito um cruzamento através de melhoramento convencional. Como o gene da resistência ao glifosato é dominante, ele já se expressa na primeira geração (CIRINO V., Engenharia Genética não vai criar monstros. Revista do Plantio Direto, Passo Fundo, maio/junho de 1999, p 21-23).

Estudos indicam que não existe variação de produtividade relevante entre os 2 tipos de soja. Em alguns casos o tipo transgênico produz menos. Isto se explica porque muitas vezes no processo de retrocruzamento, não se consegue quebrar ligações gênicas e recuperar todas as características das variedades adaptadas às nossas condições de meio físico (solo e climas).

A vantagem do uso da variedade transgênica está na menor aplicação dos herbicidas, com ganhos muito variáveis segundo cada caso. Mas o principal ganho seria ambiental, pois menos aplicações de herbicidas significam menor impacto ambiental sobre todos os meios: físico, biológico e antrópico.

Não existem provas que os alimentos transgênicos sejam prejudiciais à saúde das populações, assim como não existem provas de que não sejam danosos a longo prazo.

O que deveria ter sido feito? Estudos de impacto ambiental em plantações, que tivessem durado um período de tempo suficientemente longo, para que a comparação entre um uso de soja convencional comparado ao uso de soja geneticamente modificada, pudesse apresentar dados definitivos.

E um estudo de longo prazo em populações humanas, uma parte consumindo soja convencional e outra parte consumindo soja transgênica, controlando quadros clínicos, doenças, peso, e evolução, durante um tempo que fosse capaz de atestar as diferenças encontradas ou não encontradas.

Isto não foi feito nos Estados Unidos, Argentina e Paraguai (que juntos com o Brasil respondem por mais de 90% do total de soja produzida) ou qualquer outro lugar do mundo, porque a magnitude dos interesses econômicos induziu a introdução das práticas comerciais antes dos estudos de biossegurança, situação muito comum não apenas na soja ou na agricultura transgênica.

Roberto Naime, Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS, é colunista do EcoDebate.

EcoDebate, 08/07/2010

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