As carrancas do Senhor Onésio, artigo de Mayron Régis
[EcoDebate] A cada mês do ano surgem três viagens para o Baixo Parnaíba e a cada viagem se afirma o projeto de assessoria que o Fórum Carajás encetou no inicio do programa “Territórios Livres do Baixo Parnaíba”.
Difícil de prever se haverá uma temporada de calmaria nessa região ou em outras do estado do Maranhão.
Pode ser que um dito cujo ambicione áreas das comunidades e aproximar-se-á de um ou de outro da comunidade para convencê-lo que seus propósitos são os mais abençoados possíveis. Quando não, caso a comunidade se recuse, aproximar-se-á dos políticos locais com dádivas bancárias.
As baterias de queima de madeira nativa para obtenção de carvão vegetal da Margusa e de outras empresas de ferro-gusa diminuíram nos últimos anos, mas as que ficaram se permitem destruir o que resta do Cerrado em Buriti de Inácia Vaz, perto do povoado Carrancas.
O município de Buriti, que faz parte das bacias do rio Munim e do rio Parnaíba, no leste maranhense, atesta os malefícios da monocultura da soja por todo o seu território. As nascentes do rio Preto, afluente do rio Munim, se minimizaram de tal forma pelos desmatamentos nas áreas de Chapada que na propriedade de seu Onésio, nas Carrancas, ele se traduz em um rio de pouca envergadura.
Nessa comunidade, as famílias de pequenos proprietários avaliaram como boa a proposta de um projeto de gestão ambiental e territorial das frações de Chapada ainda não vendidas para os produtores de soja. O mais entusiasta de um projeto para aquele pedaço de Buriti de Inácia Vaz é o senhor Onésio. Ele e seus irmãos herdaram 160 hectares de sua avó.
As mesmas relações socioeconômicas e políticas moldaram o povo de Carrancas assim como as comunidades próximas. Para o bem ou para o mal, algumas famílias se atracaram com porções de terra na Chapada como reserva moral e financeira para as gerações futuras. Os vizinhos toleravam essa prática porque se amontoavam extensões de terra pra tudo que é lado sem que ninguém passasse um papel passado de posse definitiva.
No quintal da casa do senhor Onésio, lá pelo dia dezessete de junho de 2010, uma mulher do povoado Matinha quebrava dezenas de coco de babaçu para tirar o azeite. A Nair Barbosa, assessora da SMDH (Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos), encontrou a melhor definição para o senhor Onésio. “Ele é precioso”. Os moradores de Buriti que freqüentam as reuniões do Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba mencionaram seu nome uma vez. Sabia-se de sua existência também pela visita da agrônoma Georgeana Carvalho no começo de 2009 a sua propriedade para uma coleta de bacuris. Na propriedade do senhor Onésio bacurizeiros dão com o pau, mas ele pretende reflorestar mais e mais com a espécie. Não só isso. Os posseiros da comunidade vêem nele e em sua “preciosidade” modelos de referência.
A Chapada se ressente da falta de Onésios que a reflorestem com espécies nativas e que detenham figuras como André e outros plantadores de soja do município de Buriti de Inacia Vaz.
Mayron Régis, articulista do EcoDebate, é Assessor do Fórum Carajás
EcoDebate, 06/07/2010
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