Pesquisa IOC/Fiocruz verifica quais os principais determinantes da infecção chagásica
O desmatamento, a caça indiscriminada, a mineração, a construção de grandes hidrelétricas e outras ações semelhantes do homem na região amazônica geram o afastamento e redução dos reservatórios e estimulam os triatomíneos a buscarem outras fontes de alimento
A pesquisadora Lucia Maria Brum Soares acaba de defender dissertação de mestrado no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) na qual estudou a microrregião do médio e alto Rio Negro para analisar as características epidemiológicas da infecção chagásica crônica em indivíduos autóctones e verificar quais são os principais determinantes da infecção chagásica na região. Além disso, investigou os perfis clínico, eletrocardiográfico, ecocardiográfico e radiológico de pacientes com a infecção chagásica e controles não infectados. Com estas informações, o estudo identifica as diferenças entre esses perfis e os de padrões clássicos da doença em outras áreas já caracterizadas. A microrregião estudada está localizada no norte do Amazonas, no município de Barcelos, e na região noroeste do município de Santa Isabel do Rio Negro. As principais atividades econômicas do local são pesca ornamental e extrativismo da piaçaba e as práticas agrícolas são principalmente de subsistência.
Fatores bio-ecológicos, políticos e sócio-econômicos são determinantes para a dispersão da endemia chagásica. A pesquisadora e outros estudiosos ressaltam que “os fatores que aparentemente haviam limitado a presença da doença de Chagas na Amazônia Legal, que mantinham um equilíbrio dinâmico do ecossistema, estão mudando rapidamente. Portanto é plausível levantar a hipótese de que um processo similar ao que ocorreu há séculos na região dos Andes e que posteriormente se dispersou fundamentalmente para os países do Cone Sul possa se repetir na região amazônica”.
“Historicamente, a infecção chagásica como endemia humana surge quando o equilíbrio que restringe o Trypanosoma cruzi no âmbito de uma enzootia de mamíferos silvestres se rompe”. O desmatamento, a caça indiscriminada, a mineração, a construção de grandes hidrelétricas e outras ações semelhantes do homem na região amazônica geram o afastamento e redução dos reservatórios e estimulam os triatomíneos a buscarem outras fontes de alimento. Além disso, o aumento da densidade demográfica, o aquecimento global e fatores sócio-econômicos relacionados ao extrativismo vegetal expõem mais a população ao ciclo silvestre da infecção chagásica.
A dissertação de mestrado também fornece um contexto histórico da doença de Chagas na Amazônia brasileira e a evolução dos extrativismos na região amazônica, passando pelo ciclo da borracha, no final do século 19, chegando à piaçaba como principal produto de extrativismo. A autora também discorre sobre as características do cultivo da piaçaba e sobre suas consequências na situação social e no estabelecimento dos trabalhadores e de suas famílias na região.
A chance de ser sorologicamente positivo para a infecção chagásica é, em geral, 19,9 vezes maior para os que praticam o extrativismo, em comparação com outras atividades como guia de turismo, pesca ornamental e comercial, agricultura, entre outras. Em relação aos indivíduos que trabalham no extrativismo, aqueles que lidam com a piaçaba na microrregião do médio rio Negro têm 10,4 vezes mais chance de apresentarem sorologia positiva para a infecção chagásica do que aqueles que lidam com outras atividades extrativistas (como seringa, balata, sorva e castanha). A autora afirma que, em face das evidências da informação anterior e “de que 73,7% dos indivíduos soropositivos são do sexo masculino, trabalham majoritariamente no extrativismo vegetal, 95% destes reconhecem o vetor e 84% o identificaram como sendo da espécie Rhodnius brethesi, podemos considerar que a infecção e a doença de Chagas são predominantemente ocupacionais na região estudada”.
Reportagem de Marina Campos, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 01/07/2010
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