EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Ainda o caso da igreja do Carmo, artigo de Eugênio Magno de Oliveira

[O Tempo] Em todos os tempos, os poderosos insistem em perseguir e querer calar as vozes proféticas. O recente episódio envolvendo os freis carmelitas Cláudio Van Balen e Gilvander Luís Moreira, da igreja Nossa Senhora do Carmo, no bairro Sion, em Belo Horizonte, é mais um episódio dessa natureza, envolvendo dois profetas contemporâneos, próximos de nós, no tempo e no espaço.

É justamente devido a essa proximidade que o caso carece, no mínimo, de alguns esclarecimentos. Frei Gilvander, e não frei Cláudio, como vem sendo divulgado, é que era o pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo – desde 1º de fevereiro de 2008. Estava em curso uma ação no sentido de afastar da paróquia os dois sacerdotes. Mas a comunidade paroquial se mobilizou e frei Cláudio continuará no Carmo.

Entretanto, a transferência de frei Gilvander foi mantida. Ele já integra a Comunidade Carmelitana Edith Stein, no bairro Planalto, em Belo Horizonte, onde ficará mais livre para continuar cumprindo sua missão.


Gilvander, que, além de lecionar no curso de teologia do Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA), assessora  a Comissão Pastoral da Terra, o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos e a Via Campesina, estava causando incômodo a um certo grupo de paroquianos – próximos a frei Cláudio – que não consegue  compreender a sua opção pastoral pelos pobres enquanto sujeitos de suas lutas. Em consequência, desencadeou-se um  conflito interno na paróquia e o telefone sem fio correu solto.

Pessoas deixaram de contribuir com o dízimo, alegando que “frei Cláudio não é mais o pároco…”, “… frei Gilvander vai levar parte do dinheiro para o MST”, “não concordo com frei Gilvander defender esses movimentos de sem-terra e essas invasões de terra em Belo Horizonte”, “frei Gilvander trouxe sem-terra para vender verduras na porta da igreja do Carmo…” etc. O fato é que o grupo de paroquianos que não concordava com as posições de frei Gilvander, em suas manifestações de defesa de frei Cláudio, aproveitou a crise para ignorar o primeiro e contribuir com o processo de sua transferência.

Entretanto, paroquianos engajados e militantes dos movimentos e pastorais sociais, apoiadores de frei Gilvander, embora reconheçam que as manifestações em defesa de frei Cláudio tenham sido uma bela manifestação de solidariedade, estão perplexos com o maquiavelismo com que os insatisfeitos trataram o sacerdote nesse episódio. A afirmação corrente é a seguinte: a Igreja do Carmo, que foi  uma trincheira de luta contra a ditadura militar, na defesa dos  direitos humanos, deve também ser uma trincheira na luta contra a ditadura econômica, o que passa pelo apoio aos movimentos populares.

E, se ela não for capaz de abraçar as lutas populares, não estará sendo fiel à sua história de evangelização libertadora. Não basta a ação social, é preciso a opção pelos pobres que os empodera e os faz sujeitos das lutas libertárias.

Eugênio Magno de Oliveira, Comunicólogo; especialista em fé e política e educação; e-mail: eumagno@hotmail.com

Artigo originalmente publicado no Jornal O Tempo, Opinião, 26/06/2010, p. 17.

Nota de Henrique Cortez, coordenador editorial do EcoDebate: Tenho o privilégio de contar com a amizade pessoal de Frei Gilvander Moreira, de conhecer o seu trabalho e empenho diário pelas causas sociais, pela incansável defesa do povo e dos movimentos sociais.

Quando soube de sua transferência fiquei surpreso, mas não fiquei chocado. A militância têm um “preço” no enfrentamento ao poder econômico e no questionamento deste modelo de desenvolvimento. Com frequência a hierarquia burocrática sabe usar de sua ‘mão pesada’ contra os que se mantém firmes na defesa dos excluídos. Desta vez não foi diferente.

De qualquer forma, o conheço o suficiente para saber que continuará na militância, mantendo a lanterna na proa, iluminando o caminho.

Henrique Cortez

EcoDebate, 28/06/2010

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Participe do grupo Boletim diário EcoDebate
E-mail:
Visitar este grupo

Fechado para comentários.