O Planeta e os pequenos pagam a conta quando os grandes prosperam e fazem a festa, poema de Alder Júlio F. Calado
[EcoDebate] Tombam as matas, a terra está deserta
E a madeira de lei pra onde vai?
“Tanta gente sem terra!” – exclama um pai
“Tanta terra sem gente ” – um outro alerta
“Só queremos justiça, não oferta!”
Na história saída, então, nos resta
Mesmo à custa de luta indigesta
Uma pista certeira nos aponta
O Planeta e os pequenos pagam a conta
Quando os grandes prosperam e fazem a festa…
Ferem a terra, e a deixam esburacada
Em jornada tão longa, quase eterna
Com o sim serviçal de quem governa
O que ganham, porém, é quase nada
Empreiteiras enricam na roubada
Ferro, ouro, petróleo extraem desta
Só doença aos pequenos é o que resta
Com penúria o pobre se defronta
O Planeta os pequenos pagam a conta
Quando os grandes prosperam e fazem a festa…
Da saúde do rio o que se diz?
Que está afracando sempre mais
Poluído, seu peixe já não traz
Bem conhecem esse mal pela raiz
Os que vivem do rio ora infeliz
Se o envenenam, sua água pra que presta?
Natureza ofendida, então, desconta…
O Planeta e os pequenos pagam a conta
Quando os grandes prosperam e fazem a festa.
Quanta fé no Pré-sal já se alimenta!
Põe-se nele “a” saída pro Brasil
“Ele vai resolver problemas mil”…
“Da pobreza, a Nação será isenta”…
Propaganda enganosa se fomenta
Muito rico é o País – ninguém contesta
Quanto às massas, têm vida bem funesta
A bem poucos riqueza só desponta
O Planeta e os pequenos pagam a conta
Quando os grandes prosperam e fazem a festa
Do Pré-sal se promete em vão partilha
Propaganda custosa tem lugar
Parlamento e Governo a divulgar
Que pra todos, enfim, a coisa brilha
– Qual padastro falante engana o filhos –
Por que, então, confiar que a coisa presta
Se a partilha do bolo é desonesta?
Ri de nós, o inimigo, e nos afronta
O Planeta e os pequenos pagam a conta
Quando os grandes prosperam e e fazem a festa.
Vejam o caso da tal Transposição:
Velho Chico agoniza – e tempo faz!
Os que vivem à sua margem não têm paz
Há meio século, e seu grito é em vão
Trinta e cinco por cento da vazão
E o que diz quem da nave está à testa?
Só às multi o Governo atenção presta
E nos pobres o hidro-fúndio monta
O Planeta e os pequenos pagam a conta
Quando os grandes prosperam e fazem a festa.
Não à-toa se apega a burguesia
Apoiada no Estado serviçal
A projetos gigantes como tal
Não se importa se o erário se esvazia
Ou que sobre pro Povo essa sangria
Pois a este, migalha é o que resta
O filé vai pra gente desonesta
Num modelo que a Terra e o Homem afronta
O Planeta e os pequenos pagam a conta
Quando os grades prosperam e a fazem a festa.
Campina Grande, 18 de junho de 2010
Em solidariedade às Pessoas Atingidas por barragens e pela Transposição e em homenagem a Frei Luiz Flávio Cappio.
Alder Júlio F. Calado
* Colaboração de Ruben Siqueira, CPT/BA, para o EcoDebate, 23/06/2010
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