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‘Há um eterno processo de disputa pelo território brasileiro entre as elites, os povos indígenas e os afro-descendentes’, afirma especialista

[Reportagem de Camile Liguori, para o EcoDebate] Por conta da ideologia geopolítoca dos militares, sobretudo a partir de 1964, o povo brasileiro ainda têm a infantil ideia de que a floresta Amazônica é um bioma exclusivamente brasileiro. Extendendo-se por mais oito países, a região vive em constante ameaça, seja por parte de grileiros, posseiros ou indústrias, e os maiores prejudicados ainda são os povos indígenas. “É impossível ser feita qualquer compreensão da Amazônia que ignore os territórios indígenas”, é o que afirma o estudioso Ariovaldo Umbelino de Oliveira, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e CIências Humanas da USP.


Os índios são hoje sujeitos sociais do presente e da modernidade e nos últimos 20 anos cresceram em quatidade e também em números que integram a sociedade nacional. Porém, mesmo com o crescimento, os povos ainda têm sofrido com a demarcação de terras e vivem em constante ameaça. “Hoje o que menos se cartografa de maneira evidente são as terras indígenas. Os municípios incluem essas áreas em seus mapas politicos municipais e escondem assim essa volupia e essa vontade que os não-índios têm de se apropriar dos territórios indígenas.”, constata o professor.

Umbelino cita como tentativa de apropriação o caso Raposa Serra do Sol, ocorrido em Roraima, onde os índios foram obrigados a brigar pela demarcação de suas próprias terras. “Isso foi um absurdo já que pela legislação brasileira quem primeiro tem direito a terra são os povos indígenas”, na sequencia o professor enumera os afro-descendentes, o meio ambiente e os demais brasileiros.

Para os índios, as demarcações de fronteiras feitas pelos não-índios pouco importam. Os Jaminauás, por exemplo, vivem em sua maior parte na Bolívia e para eles os países que formam a América do Sul não têm significado algum. O significado está no território que o povo ocupa.

A situação dos povos indígenas não parece ter perspectiva de melhora já que o presidente Lula irá validar grilagens de até 1500 hectares até o final de seu mandato. Resta esperar para ver qual será o próximo caso Raposa Serra do Sol que os índios terão pela frente.

Camile Liguori é aluna do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Esta reportagem integra o Projeto Repórter do Futuro, no módulo Descobrir a Amazônia – Descobrir-se Repórter.

EcoDebate, 23/06/2010

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